Feliz 1984!

Consciência é a voz interior que nos adverte de que alguém pode estar olhando, escreveu H. L. Mencken. Bem, a possibilidade virou certeza: tem sempre alguém olhando. Pior para quem não percebeu ainda.

Não precisa nem de investigação da Polícia Federal ou reportagem do Fantástico. Você está sendo gravado. Agora. Pela câmera de segurança do seu prédio, pela máquina fotográfica da sua mãe, pelo laptop do seu filho ou pelo seu próprio telefone celular.

Veja o caso do bonde do Cabral sem freio, uma turminha do barulho que partiu para aventuras e muita confusão pelas ruas de Paris. Devidamente registrada, a intimidade do secretariado do Rio de Janeiro foi parar nas mãos do maior inimigo político do governador.

Você já deve ter lido sobre isso no 1984 do Orwell – sempre ele! –, mas tem uma pequena diferença: apesar do desejo totalitário mal reprimido de alguns governantes e das tentativas de manipulação da língua, não há apenas um Grande Irmão. Agora, todo mundo é Big Brother.

Nem precisa de ideia na cabeça – basta a câmera na mão. Estamos todos livres para interferir na liberdade dos outros. Antes de fazer algo de condenável, portanto, lembre-se de estampar um belo sorriso no rosto a partir de agora. Não vá estragar a foto.