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Brasília

Professora faz homenagem a aluna assassinada na UnB

Magda Lucio, professora na Universidade de Brasília, enviou ao 247 um texto em homenagem a Louise Ribeiro, morta pelo ex-namorado porque não quis reatar o relacionamento; alunos e familiares fizeram uma homenagem à estudante nesta segunda na instituição; "O assassinato físico foi precedido pelo assassinato social. Ao tirar a vida de Louise ele realiza o que já havia feito antes: o assassinato social. Não era uma mulher. A mulher que outrora acariciou e beijou. Era alguém que o tinha derrotado. Dito não", escreve a professora; leia a íntegra

Magda Lucio, professora na Universidade de Brasília, enviou ao 247 um texto em homenagem a Louise Ribeiro, morta pelo ex-namorado porque não quis reatar o relacionamento; alunos e familiares fizeram uma homenagem à estudante nesta segunda na instituição; "O assassinato físico foi precedido pelo assassinato social. Ao tirar a vida de Louise ele realiza o que já havia feito antes: o assassinato social. Não era uma mulher. A mulher que outrora acariciou e beijou. Era alguém que o tinha derrotado. Dito não", escreve a professora; leia a íntegra (Foto: Gisele Federicce)
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Brasília 247 – A professora da Universidade de Brasília (UnB) Magda Lucio enviou ao 247 um texto em homenagem à jovem Louise Ribeiro, assassinada na última quinta-feira pelo ex-namorado. O motivo: não quis reatar o relacionamento.

Vinícius Neres confessou o crime, cometido no laboratório de Biologia da instituição, e hoje está preso na Penitenciária da Papuda, em Brasília. Nesta segunda-feira, estudantes e a família fizeram homenagem na UnB, plantando um ipê no jardim do prédio onde ocorreu a tragédia.

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"O assassinato físico foi precedido pelo assassinato social. Ao tirar a vida de Louise ele realiza o que já havia feito antes: o assassinato social. Não era uma mulher. A mulher que outrora acariciou e beijou. Era alguém que o tinha derrotado. Dito não", escreve a professora Magda Lucio.

"E quem diz não. E quem não concorda. Não merece compartilhar algo grande: o ar que respiro. O meu sucesso estará garantido. Jamais escutarei um não. Jamais admitirei: não sou o centro das atenções. Louise morreu por dizer não", continua. Leia abaixo a íntegra:

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Morreu uma Menina na UnB. Morreu uma Mulher na UnB.

Soubemos da morte.
Depois soubemos - foi assassinada.
Depois, o corpo descartado.
E então, perplexas, soubemos - um estudante assassinou sua colega. Sua ex-namorada.
Sou UnB.
Um dos nossos matou uma das nossas.
O corpo foi ferido. O coletivo foi esgarçado.
Somos parte de um momento histórico que a poesia, a arte e a música deixaram de ser parte da formação das futuras gerações. Entram como mercadoria ou como mero apêndice no objetivo maior: ser aprovado em concursos e vestibulares. Se concursos devem pagar bem. Se vestibulares tem que ser concorrido para valer a pena. Devem valer o quanto se gastou para chegar ao ápice: ser aprovado.
O futuro virou de ponta cabeça: se observa o prestígio e o reconhecimento, se escolhe o salário.
A razão instrumental nos comanda. Define desde a cor da roupa que vai se sair pela manhã até o que faremos nas próximas décadas.
Outras razões poderiam nos comandar. Com relação a valores, por exemplo. Desejo uma profissão que possa contribuir socialmente. Esse tipo de desejo é, por muitos, visto como sujeito certo ao fracasso. É preciso decidir rápido quanto se vai ter.
E o fortuito? E o inustitado?
Valores fundantes da construção das subjetividades foram aniquilados desde o maternal. Mesmo aqueles que discordam tem medo de deixar o filho para trás.
Temos crianças e jovens institucionalizados: amigos do balé, da natação, da música, do inglês, do sapateado, do judô e por aí vai...
Onde está o amigo da rua? O amigo da esquina. Aquele que não frequenta o mesmo círculo social?
No Brasil a segregação se dá já na hora de nascer.
Os hospitais e o tipo de parto são escolhidos pela conta bancária. As escolas também.
Portanto, temos espaços homogêneos: mesmo nível socioeconômico, mesmos gostos culturais e mesmos valores.
O fortuito e o inusitado. Simplesmente riscados.
Os jovens frequentam os mesmos ambientes sociais clivados pela renda. Andam no banco de trás dos carros e pouco tempo depois de se sentarem no banco da frente ganham seu primeiro automóvel, zero quilômetro.
Vivem numa redoma. Em Brasília, especialmente, a redoma se renova pelo planejamnento urbano cuja segregação foi planejada desde o início.
Jovens nascidos e criados nas Asas se formam e informam a partir de um seleto grupo de moradores, apenas 230 mil habitantes, contra 1milhão e 700 mil no cinturão que circunda a cidade planejada.
A Universidade de Brasília não está imune às linhas retas e acachapantes da Planejada Cidade. Outros campi existem, mas o Darcy é a estrela.
No Campus Darcy Ribeiro, onde Louise estudava, as marcas da segregação são indeléveis.
Nenhuma campanha de trânsito. Carteiras de motorista provisórias se batem todos os dias. A velocidade nas vias internas é uma constante.
Um aluno. Um carro. Muito raramente se vê dois ou mais jovens compartilhando o mesmo veículo.
Enquanto isso longas filas sob sol e chuva são avistadas.
Sem solidariedade. Sem companheirismo. Proprietários e não-proprietários não se olham.
O sorriso do jovem assassino nos chama a atenção. Dialoga com este cenário.
Já vimos este sorriso antes.
Outros crimes. Outros criminosos.
Mas o que marca:
O assassinato físico foi precedido pelo assassinato social.
Ao tirar a vida de Louise ele realiza o que já havia feito antes: o assassinato social. Não era uma mulher. A mulher que outrora acariciou e beijou. Era alguém que o tinha derrotado. Dito não.
E quem diz não. E quem não concorda. Não merece compartilhar algo grande: o ar que respiro. O meu sucesso estará garantido. Jamais escutarei um não. Jamais admitirei: não sou o centro das atenções.
Louise morreu por dizer não.

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