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Candidata do PT no Maranhão é vítima de racismo na C&A

Cricielle Muniz foi coagida a passar por uma inspeção por suspeita de furto. Nenhuma justificativa foi apresenta

cricielle-muniz (Foto: Reprodução/Facebook | Divulgação)
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Por Laís Vitória Cunha de Aguiar - Ao sair da loja C&A na última sexta-feira de abril, a servidora pública e candidata a deputada de São Luís (MA), Cricielle Muniz (PT), 29, não esperava que funcionárias corressem atrás dela e gritassem para que ela abrisse sua bolsa, como se houvesse furtado algo. Ela não quis abrir, mas ao notar que um grupo de pessoas estava se reunindo à sua volta, decidiu fazê-lo e dar a bolsa para a funcionária, que inspecionou e nada encontrou. Ao perguntar qual o motivo para tal inspeção, não recebeu nenhuma resposta das funcionárias, por isso se retirou, humilhada, logo após o ocorrido.   

A empresa não explicou o motivo da súbita agressão. Apesar de abalada, Cricielle foi fazer um boletim de ocorrência. Ela encontrou dificuldades para realizá-lo pois ao ir à delegacia de Crimes Raciais de São Luís, não havia ninguém para atendê-la. Assim, precisou se dirigir ao plantão geral para conseguir registrar a ocorrência. A candidata precisou convencer os policiais de que o crime configurava racismo, e não crime contra o consumidor. O processo continua (primeira diligência), porém a empresa não disponibilizou todos os vídeos em que Cricielle aparecia, e também cortou trechos. “Eu não sei quando de fato vou ter a segurança de que a empresa será punida”, descreveu.    

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Quando perguntada sobre como as políticas públicas contra o racismo podem impactar situações como essa, respondeu que o processo de formação da sociedade é o que traria mudança, pois o Brasil, em sua visão, vive sob um passado escravocrata. Para realmente modificar a situação da população negra, argumenta Cricielle, é preciso que essas políticas sejam transversais, passando desde a educação, saúde, até mesmo o meio-ambiente. Sem embasar esses pilares das políticas públicas, ela não acredita que seja possível debater ou mesmo modificar algo: “essas políticas precisam sair desses espaços institucionais e estar realmente no dia a dia das pessoas, sobretudo para a população negra.”  

Já sobre o racismo em São Luís, a candidata afirmou ser um debate que ainda precisa ser feito com mais seriedade não apenas na sua cidade, mas no estado, de forma a realmente incluir não só a população negra, mas também ribeirinhos, quilombolas e indígenas. Como candidata a deputada estadual em São Luís, ela vivenciou o racismo também na política, por meio de gestos que, apesar de parecerem singelos, carregam consigo o peso do racismo: várias vezes nos palanques pediram que ela saísse da frente porque seu cabelo estava atrapalhando. Já em seu trabalho na secretaria do governo, ela sentiu que as pessoas esperavam que estivesse em funções subalternas, e não como coordenadora dos projetos (o que era de fato). 

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Ela comentou sobre a delegacia que estava fechada quando precisou registrar seu boletim de ocorrência. No estado todo só há uma delegacia para crimes raciais, mesmo com boa parte de sua população sendo negra: “como as pessoas que moram no interior vão vir até São Luís para registrar uma ocorrência? É preciso descentralizar, regionalizar esse serviço para combater esse tipo de crime”. Outro tópico de importância fundamental, ela diz, seria a própria formação dos empregados das empresas, que deveriam ter também cursos sobre racismo. Não adianta colocar funcionários negros se as políticas das empresas não forem antirracistas, destacou.

Cricielle acredita que ter delegacias especializadas é questão de tranquilidade para a população negra realmente conseguir denunciar. Ao denunciar o crime nas suas redes sociais, percebeu que várias pessoas haviam passado por situações similares mas não sabiam da existência de delegacias especializadas nesse tipo de crime e não queriam ir às delegacias gerais. O objetivo dela não é apenas ganhar o caso contra a empresa, mas também publicizar o crime e, assim, tentar mudar a postura das próprias empresas e de seus funcionários a partir da responsabilização. 

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Com relação à importância de mulheres negras participarem da vida política para construírem políticas públicas contra o racismo estrutural no Brasil, 75% dos congressistas são homens brancos, e 15% são pessoas negras. Os dados mostram claramente que há sub-representatividade de pessoas negras, especialmente mulheres. “Essas pautas só estarão no centro do debate quando estivermos ocupando esses espaços. Nos últimos anos, desde 2016, temos mulheres negras periféricas, pessoas indígenas e LGBTQIA+ ocupando espaços na política, vimos que nossas pautas estão sendo colocadas para debate com mais frequência (...) O espaço é conservador, é machista, mas nós temos a responsabilidade de construir plataformas, projetos junto à população para que os debates cheguem ao Congresso. Nós temos uma tarefa muito importante em 2022: ocupar esses espaços e sermos voz de milhões que ainda são excluídos e vítimas do sistema”.

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