João Campos critica aprovação do PL da Dosimetria e diz que Congresso vive ambiente de vale-tudo
Prefeito do Recife diz que texto aprovado de madrugada fragiliza a política, cria benefícios indevidos e aprofunda o clima de antipolítica no Congresso
247 - O prefeito do Recife e ex-deputado federal João Campos (PSB) criticou duramente a aprovação do PL da Dosimetria pela Câmara dos Deputados, ocorrida na madrugada da última quarta-feira (10). Em entrevista ao Diario de Pernambuco nesta sexta-feira (12), ele classificou o episódio como prejudicial ao ambiente institucional e à democracia, ao apontar tanto o conteúdo do projeto quanto a forma como foi votado.
Segundo Campos, a condução do processo legislativo expôs uma deterioração do debate político. “O que aconteceu no Congresso é lamentável, muito ruim. Me incomoda a falta de liturgia, parece que o Congresso é um espaço de ‘vale-tudo’. O caminho da barbárie é a antipolítica”, afirmou o prefeito, ao comentar a votação que alterou critérios de cálculo de penas e pode beneficiar condenados pela trama golpista, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e generais.
Na avaliação do prefeito, a política perde quando se substitui o diálogo por ações que tensionam ainda mais o ambiente. “Quem faz política séria, respeitando as pessoas, as regras, e quem pensa diferente, lamenta coisas como essa, lamenta a atitude de se usar força, de ter comportamentos distintos entre quem é de direita e de esquerda no momento de uma coisa tosca, como obstruir a cadeira de um presidente”, declarou.
Campos também comentou o protesto do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que se sentou na cadeira do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), após o anúncio de que a cassação de seu mandato seria votada junto com a de Carla Zambelli (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ). Para o prefeito, o gesto ultrapassou limites institucionais. “Nenhum deles tem o direito de obstruir a cadeira de um presidente de nenhum poder. Isso, na minha cabeça, é inadmissível”, criticou.
Ao avaliar a condução da Câmara, João Campos disse perceber a ausência de uma liderança capaz de pacificar o plenário. “A sensação que eu tenho é que está faltando alguém chegar e fazer um clamor de baixar a poeira. Esse ambiente de poeira alta está muito ruim para a rotina do Congresso, e isso é ruim para o Brasil”, afirmou.
O prefeito voltou a se posicionar contra o mérito do PL da Dosimetria, apontando possíveis efeitos colaterais da proposta. “Não é adequado, não é correto. Estava lendo hoje uma matéria, e Fernandinho Beira-Mar, Marcola e outros grandes criminosos vão ser beneficiados com uma lei dessa. Como é que um negócio desse é bom?”, questionou.
Para Campos, além do conteúdo, o timing da aprovação agrava o problema. “O conteúdo é controverso e a forma é controversa. Você tem a prisão de um ex-presidente, o anúncio de candidatura do filho dele e um projeto sendo aprovado na Câmara de 3 horas da manhã. Não é saudável”, concluiu.
A entrevista foi concedida ao Diario de Pernambuco, que publicou as declarações e registrou o posicionamento do prefeito do Recife sobre a votação e o atual clima político no Congresso Nacional.
