Jovem com transtornos mentais atacado por leoa em João Pessoa viveu trajetória marcada por abandono (vídeos)
Gerson escalou uma parede de mais de 6 metros, ultrapassou grades de proteção e usou uma árvore interna como apoio para acessar o recinto da leoa
247 - O ataque que matou Gerson de Melo Machado, de 19 anos, no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa, no domingo (30), ganhou novos contornos à medida que surgem detalhes sobre a trajetória do jovem. As informações iniciais foram divulgadas pelo g1.
Gerson, conhecido como Vaqueirinho, tinha transtornos mentais e acumulava 16 passagens pela polícia — dez delas registradas quando ainda era menor de idade.
Segundo o policial penal Ed Alves, Gerson já havia sido encaminhado ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), mas fugiu da unidade. Sua história, marcada por episódios de abandono e sucessivas intervenções da rede de proteção, foi detalhada pela conselheira tutelar Verônica Oliveira, que divulgou uma nota pública relembrando os anos de acompanhamento.
“Foram oito anos acompanhando você, lutando e brigando para garantir seus direitos. Quando entrou na minha sala pela primeira vez, tinha apenas 10 anos. Eu e a conselheira Patrícia Falcão recebemos você das mãos da PRF, encontrado sozinho na BR. Desde então, toda a Rede de Proteção me procurava sempre que algo acontecia com você”, escreveu Verônica.
Em outro trecho, ela relata ter conhecido “a criança que foi destruída do poder familiar da mãe, que é esquizofrênica”.
Como ocorreu o ataque
O episódio aconteceu por volta das 10h, durante o horário de visitação do zoológico. Segundo relatos e vídeos registrados por visitantes, Gerson escalou uma parede de mais de 6 metros, ultrapassou grades de proteção e usou uma árvore interna como apoio para acessar o recinto da leoa.
Assim que o jovem alcança nível ao alcance do animal, a leoa o puxa e o derruba no chão. O Instituto de Polícia Científica (IPC) confirmou que a morte foi causada por choque hemorrágico após ferimentos profundos na região do pescoço.
Estado da leoa e medidas adotadas
A leoa Leona, que costumava permanecer na área próxima ao vidro de observação, entrou em estado de estresse após o ataque, segundo o veterinário Thiago Nery. Mesmo agitada, o animal respondeu aos comandos dos tratadores e foi contido sem uso de tranquilizantes. A direção do parque reiterou que nunca houve possibilidade de abate da leoa, já que se tratou de uma reação instintiva diante da invasão do recinto.
O zoológico permanece fechado por tempo indeterminado e a prefeitura instaurou investigação para apurar eventuais falhas de segurança.
Histórico de vulnerabilidade
Os novos relatos revelam um jovem que enfrentava, desde a infância, abandono familiar, problemas psiquiátricos e sucessivos episódios de conflito com a lei. O histórico no sistema de proteção registra intervenções frequentes de conselheiros tutelares, serviços de saúde mental e órgãos de segurança pública.
A conselheira Verônica afirma que a trajetória de Gerson sempre mobilizou diferentes setores públicos: assistência social, saúde, educação e forças de segurança. Ao longo dos anos, ele alternou períodos em instituições, fugas, retornos às ruas e episódios de comportamento de risco.
Investigações continuam
A Prefeitura de João Pessoa abriu sindicância interna para apurar como ocorreu a invasão e se os mecanismos de contenção eram suficientes para impedir o acesso de visitantes à área. O Conselho Regional de Medicina Veterinária da Paraíba informou que criará uma comissão técnica para avaliar as condições estruturais do parque e os protocolos adotados.
