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Sudeste

A corrupção não vai diminuir só com marchas e Twitter

Movimento avançou ao definir bandeiras concretas nas marchas do dia 12, mas para crescer precisa ter objetivos políticos claros

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Pelo jeito os brasilienses estão mais indignados com a corrupção do que cariocas, paulistas e brasileiros de outras cidades. Vinte mil pessoas saíram às ruas aqui na capital federal, quantidade não atingida em nenhum outro lugar. Talvez porque a corrupção, embora exista nos 5565 municípios brasileiros, seja mais visível na capital desta República tomada pela roubalheira. Ou porque os brasilienses sejam obrigados a topar rotineiramente não só com os corruptos locais como com os federais, já que aqui é a sede dos três poderes e o Plano Piloto, por onde eles circulam, é pequeno. Talvez os feriados em Brasília sejam menos interessantes e com menos opções de diversão do que em outros lugares. Pode ser até que os organizadores da marcha candanga sejam mais competentes.

Tanto faz. As marchas realizadas neste 12 de outubro têm grande importância, com mil ou 20 mil pessoas, pois procuram romper com a inércia e com a acomodação dos brasileiros diante de uma questão que não pode ser vista apenas pelos aspectos ético e moral, mas também pelo que representa efetivamente para a população brasileira: o desvio de bilhões de reais por ano, dinheiro que deveria estar investido no desenvolvimento do país e na melhoria da qualidade de vida da população. Dinheiro da sociedade, dinheiro público, apoderado por pessoas físicas instaladas nos três poderes em todos os níveis da Federação -- municipal, estadual e federal – e por seus cúmplices em diversos segmentos da população, especialmente, e não por acaso, nos mais ricos.

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Querer mudar esse quadro, portanto, é legítimo. Criar um movimento nas redes sociais e sair às ruas é positivo. Mostra que pelo menos alguns milhares de pessoas estão saindo da letargia e se preocupando com a grave epidemia da corrupção. Em diversos lugares do mundo há gente ocupando ruas e praças para protestar, para manifestar discordância diante de algumas coisas e reivindicar outras. O movimento “Ocupe Wall Street” questiona os fundamentos do capitalismo na capital do capitalismo, Nova York, e se espalhou por diversas outras cidades dos Estados Unidos. Os “Indignados” da Espanha se reproduziram em vários países europeus. Até em Israel há um movimento do tipo.

As manifestações batizadas de “Primavera Árabe” são sempre citadas como exemplos da mobilização popular capaz de derrubar governos. Embora ainda sem sucesso na Síria, na Argélia, no Marrocos, no Iêmen e no Bahrein, cujos governos continuam de pé, deram certo no Egito, na Tunísia e na Líbia. E aí começam as diferenças que fazem com que não se possa colocar tudo isso no mesmo saco. Nem os ocupantes de Wall Street, nem os indignados europeus e israelenses, nem os manifestantes da Esplanada dos Ministérios, da Avenida Paulista ou da Avenida Atlântica vão derrubar governos ou, pelo menos, provocar alguma mudança de peso na estrutura política de seus países.

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Os que fizeram a primavera árabe queriam acabar com os regimes políticos aos quais estavam submetidos. Mobilizaram-se para isso, mas não conseguiriam se não tivessem, no Egito e na Tunísia, ganhado o apoio de chefes e tropas militares que mudaram de lado. No caso da Líbia, só conseguiram porque tiveram a inestimável ajuda de aviões, mísseis e tropas especiais da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), mobilizadas sob o falso pretexto de defender civis contra agressões do governo. Na Líbia ainda há muitas incertezas, mas na Tunísia e no Egito os que assumiram o poder não são muito diferentes dos que foram por eles derrubados.

No Brasil o que se quer é apenas acabar, ou até reduzir, a corrupção. As primeiras marchas foram genéricas. As do dia 12 já assumiram algumas reivindicações concretas: que o Supremo Tribunal Federal coloque em vigor a Lei da Ficha Limpa e garanta o direito do Conselho Nacional de Justiça de julgar juízes e desembargadores; e que o Congresso Nacional acabe com as votações secretas em plenário. Devido à espontaneidade do movimento e à autonomia dos manifestantes, outras bandeiras foram apresentadas, mas restritas a alguns grupos.

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É bobagem acusar os manifestantes de serem de direita, ou de fazerem oposição à presidente Dilma Rousseff. Certamente há direitistas e opositores de Dilma nas ruas, mas não é isso que dá o tom das mobilizações nem garante a eles a hegemonia política do movimento. Ser contra a corrupção independe de posição política, assim como querer a vigência da Ficha Limpa, a autonomia do CNJ e o fim do voto secreto dos parlamentares. É outra bobagem segmentos de esquerda se colocarem contra as manifestações contra a corrupção. Se bem que a grande bobagem histórica cometida por segmentos da esquerda é ter se rendido e se associado à corrupção e ao velho jeito de fazer política, quando deles se esperava renovação dos métodos e combate aos corruptos.

Não houve crescimento da participação popular entre as marchas do dia 7 de setembro e as de 12 de outubro. Provavelmente não haverá entre ambas e as marcadas para 15 de novembro. Há uma grande distância entre estar nas redes sociais e estar nas ruas e, como se dizia na esquerda, as condições objetivas para uma grande mobilização popular contra a corrupção existem, mas faltam as condições subjetivas. E sem elas, nada feito.

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Para crescer, o movimento contra a corrupção tem de definir bandeiras e traçar objetivos. Tem de dizer exatamente o que quer e mobilizar as pessoas em torno disso. Uma reforma política real, que interesse à população e não aos políticos profissionais, como propõe a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), poderia ser um bom objetivo. A discussão dessa reforma, se aberta e democrática, pode aumentar a mobilização. Outra bandeira importante no combate à corrupção: as mudanças na legislação, como propõem os senadores liderados pelo gaúcho Pedro Simon, e uma reforma do Judiciário, para que esse poder deixe de ser elitista, burocrático e lento, e passe a punir realmente os corruptos em vez de anular operações policiais e se preocupar com o uso de algemas em suspeitos.

Por enquanto, os movimentos contra a corrupção estão mostrando a indignação de uma parcela da sociedade. Se tiverem objetivos claros e determinados, podem realmente mobilizar a sociedade, pressionar os poderes e intervir nas eleições. Se definidos os objetivos, partidos políticos poderiam apoiar o movimento, e não se aproveitar dele. Afinal, já vimos que derrubar a ditadura, conquistar a anistia, ter eleições diretas e derrubar Fernando Collor foi muito bom, mas ainda falta muita coisa.

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