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    Avaliação 2011, projeção 2012

    Vencer as eleições municipais, segundo as pesquisas, não será tarefa tão simples para o atual prefeito

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    O governador Cabral subiu na garupa de Lula no segundo turno da eleição de 2006. A decisão deu certo. Pelo menos até 2010. A expansão da economia brasileira e os comícios de lançamentos de obras no Rio impulsionaram uma fácil reeleição em 2010. As funções de governo -sem exceção- foram mal, muito mal. O ensino médio do Estado do Rio ficou em penúltimo lugar entre todos os estados. A saúde pública foi sendo empurrada ao meio de escândalos e UPAs esgotadas por falta sistemática de material e pessoal. As 24 horas funcionam de madrugada pelo sacrifício de enfermeiros e auxiliares de enfermagem.

    A Segurança Pública patinou, atirando para todos os lados entre 2007 e 2009, quando encontrou um porto de águas mais calmas com as UPPs. Paradoxalmente, depois de cinco anos, as instituições policiais vão sendo desmoralizadas pela própria polícia e o secretário Beltrame se isola como único confiável. Afinal, quem designou os quatro comandantes da PM e os quatro da Polícia Civil, sem falar na troca de subsecretários, foi ele mesmo, que escapou incólume, com direito a palmas e elogios.

    Claro que isso tem repercussão política. Pesquisa realizada na Capital, em meados do mês passado, coloca Beltrame empatado com outros dois políticos de nome, para governador em 2014, com mais ou menos 20%, com um quarto nome com 10%.

    Mas Cabral não teve a mesma sorte em 2011. O movimento dos Bombeiros se espalhou e sensibilizou a opinião pública, ampliando o desgaste do governador junto aos servidores. Os desastres nos temporais de Angra e Região Serrana, o grave acidente com os bondinhos de Santa Teresa, a situação crítica dos hospitais, as viagens com patrocínios empresariais ocultos, etc., até a queda do helicóptero onde morreram a esposa de um grande empreiteiro amigo e seu filho de três anos, a sua irmã, amiga do governador, a namorada de seu filho e o anúncio de sua separação (revista semanas depois), pintou um quadro de proximidade excessiva com o poder econômico. Mesmo a imprensa amiga teve que publicar. Pesquisas quali/quantis realizadas após esse acidente foram fortemente acusatórias ao governador.

    A doença de Lula o tirou dos permanentes e sistemáticos palanques de Cabral no Rio. A avaliação de Cabral, que fechou 2010 com 55% de ótimo+bom, oscilou, em outubro passado, entre 30% e 35%. Como sempre ocorre nestes momentos, além da intensificação da publicidade e da cobertura exagerada desse ou daquele meio de comunicação amigo, vem acompanhada, como peça de sustentação, de algum ato de grande visibilidade. Dessa vez foi a ocupação da Rocinha, que já havia ocorrido antes, mas que agora veio com grande coreografia e com a promessa de permanência dentro do conceito de UPP.

    Cabral, em 2008, foi um forte eleitor, a ponto de ter cooptado, no PSDB, o atual prefeito do Rio e de tê-lo elegido. Em 2010, outra vez, Cabral foi um forte eleitor. Certamente em 2012 não o será mais. E sua presença nas campanhas dos municípios mais importantes tenderá a ser discreta, por vontade dos candidatos. Estima-se que tanto em relação à quantidade de municípios como de votos para vereadores e prefeitos, o PMDB sofra um revés. Restará todo o esforço e todos os recursos para reter a capital, tarefa que não será simples, como mostram as pesquisas de projeção de cenários.

    Rio-capital, Política municipal

    A cultura política carioca, quando atropelada por candidatos majoritários, em todos os níveis, a resposta é dada nas urnas. Os exemplos são muitos: Flexa Ribeiro, um paradigma. A atual prefeitura comete três pecados mortais contra a cultura política carioca: a) discrimina os servidores municipais e prestigia terceirizações e “onganizações”; b) confunde lei e ordem com repressivismo e assim humilha os pobres. Quanto maior a autoridade menor a necessidade do uso da violência. Repressão pela repressão é intimidação. A Alemanha dos anos 20 e 30 tem triste memória disso; c) a privatização da educação e da saúde, com gastos com OSs, ONGs, Empresas, Institutos e Fundações que somados já alcançam 3 bilhões de reais desde 2009. O Rio -desde o Império e depois como DF- é a matriz brasileira da educação pública e da saúde pública.

    Pesquisa recente mostra que 61% dos eleitores cariocas -no caso da Saúde- e 59% no caso da Educação acham que piorou ou nada melhorou na prefeitura do Rio nestas duas funções.

    A imberbização da gestão municipal trouxe para o primeiro nível de proximidade com o prefeito, incluindo o próprio, pessoas sem nenhuma experiência de gestão. Com isso não há coordenação, não há acompanhamento, e as promessas e propostas se diluem, sem execução ou com enorme atraso. Restam as licitações de obras que são executadas por empreiteiros. Mas, mesmo assim, a descontinuidade de empenho e liquidação as interrompe sistematicamente.

    A prefeitura se transforma numa patrocinadora de eventos para ter visibilidade e numa licitadora. O espalhamento político da administração municipal torna os acessos de raiva e faniquitos da autoridade superior, motivo de bazófias e perda de autoridade. Afinal, vários secretários se sentem hierarquizados fora do prefeito, fora da prefeitura.

    Do ponto de vista macro, o setor imobiliário -que é o vetor empresarial-político dominante desde a Proclamação da República e cujo poder e controle das decisões básicas da prefeitura são cíclicos- volta a comandar as decisões executivas e legislativas. Isso estressa as relações com os moradores e gera desgaste político. O único proveito eleitoral é o patrocínio eleitoral.

    O caos no trânsito é a imagem dessa imberbização, da inexperiência e do descontrole. Entre os cariocas, 66% acham que a situação piorou, piorou muito ou nada melhorou. Mesmo com ampla generosidade de boa parte da imprensa que não aplica a dialética governo-oposição, e com grande destaque para as promessas publicitárias que se sucedem como se fossem realidades, mesmo estando no palco apenas o prefeito, sua avaliação no último trimestre alcançou 35% e sua intenção de voto com projeção de cenários, fica abaixo disso.

    Dessa forma, este ano teremos no Rio eleições competitivas que serão decididas pela capacidade dos candidatos de fazer suas campanhas acertando adequadamente o alo. Nesse sentido, nem o segundo turno está teoricamente garantido para o prefeito.

    * Economista; ex-prefeito do Rio - cesar.maia@terra.com.br

     

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