Corpos de vítimas da PM na Baixada Santista são levados a hospitais para evitar perícia, denunciam funcionários da saúde
O trabalho da perícia fica prejudicado, se o corpo for retirado do local do crime. Fica difícil saber, por exemplo, se houve homicídio ou Morte Decorrente de Intervenção Policial
247 - Funcionários do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) da Baixada Santista (SP) e de um hospital de Santos afirmaram que pessoas baleadas pela Polícia Militar (PM) na Operação Verão já estavam mortas quando foram levadas às unidades de saúde. A informação foi publicada no portal G1. O trabalho da perícia fica prejudicado, se o corpo for retirado do local do crime. Fica difícil saber, por exemplo, se houve um homicídio ou uma Morte Decorrente de Intervenção Policial (MDIP) -- quando alguém é baleado em confronto com a polícia.
Promotores e representantes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, disseram que a retirada, se for confirmada, pode ser enquadrada como crime de fraude processual. A pena prevista na lei é de três meses a dois anos de detenção, e multa.
Os policiais militares de São Paulo mataram 57 pessoas na Baixada Santista nos dois primeiros meses do ano, informou o Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). As ações policiais aumentaram em fevereiro, pois, no dia 2 daquele mês, aconteceu o assassinato do soldado Samuel Wesley Cosmo, agente das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da PM.
Em dez boletins de ocorrência sobre 17 mortes, a polícia disse que os mortos eram criminosos e que foram baleados por estarem armados. No caso de 12 pessoas mortas, existe a informação de que elas foram socorridas e levadas com vida ao pronto-socorro, onde teriam morrido.
O porta-voz da PM de São Paulo, Émerson Massera, afirmou que as denúncias e os diálogos com os socorristas serão analisados. "Vamos identificar e se houver necessidade de tomar providência, serão adotadas. A perícia em um local de um crime é fundamental para a resposta e responsabilizar quem cometeu aquele crime. A violação de um local de crime é péssima. É um problema que refutamos da máxima gravidade", afirmou.
Funcionários do Sistema de Saúde de Santos, não identificados para não sofrerem possíveis retaliações, disseram que, diferentemente do que está descrito nos boletins de ocorrência das mortes, os baleados e mortos não foram socorridos com vida. “A própria polícia traz, traz, deixa aí... Já chega morto, já.... [Fazem isso] Só pra tirar [do local onde baleou a pessoa]”, diz um funcionário da Santa Casa, um dos hospitais que mais receberam vítimas da operação na Baixada Santista.
A Secretaria da Saúde de Santos que vai abrir sindicância para apurar os fatos narrados. "A Secretaria de Saúde de Santos não tem conhecimento de que equipes do Samu sofreram qualquer tipo de coação. Nenhum funcionário do serviço relatou a referida denúncia por meio dos canais de ouvidoria da pasta. Diante dos fatos narrados, a secretaria vai abrir uma sindicância para apurar o caso", continuou.
"O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) presta os primeiros atendimentos no local do chamado e faz o transporte dos pacientes que necessitam de atendimento hospitalar para unidades de saúde da rede SUS. Quando chega ao local e constata que a vítima está em óbito, o SAMU aciona o IML – ou seja, não faz o transporte de pacientes que foram a óbito no local".