Disputa pelo poder coloca Rocinha em guerra
"Mesmo com a presença ostensiva da polícia, com o BOPE ocupando os principais acessos à comunidade, os moradores não conseguiram retomar a rotina por conta do risco de novos confrontos e pelo medo difundido junto às informações sobre a situação em determinadas localidades da Rocinha", diz o jornalista Cleber Araujo; "Ninguém sabe ao certo qual a real situação da Rocinha e muito menos quando terminará essa guerra, em que o principal derrotado é o morador que, entre tantos direitos já negados, perde a liberdade de ir e vir para cumprir com os seus compromissos"
Por Cleber Araujo
Ainda não eram 7 horas quando tiros e explosões acordaram os moradores da Rocinha na manhã deste domingo (17/09), numa disputa pelo controle da favela entre os traficantes Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, e Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, também conhecido como Mestre.
A rivalidade entre os chefões não era novidade para os moradores que, durante algumas semanas, ouviram rumores de um golpe de Estado dado por Rogério - que até então era o homem de confiança do Nem, desde que fora preso na ocupação militar da Rocinha.
A disputa territorial pela principal fonte de renda da facção Amigos dos Amigos (A.D.A) não demoraria a culminar numa guerra, com o bonde do Nem fortalecido com bandidos de outras favelas do A.D.A para reivindicar a Rocinha para o “Mestre”.
Informações chegavam aos moradores que possivelmente haveria uma invasão no sábado à noite. Todos estavam apreensivos com o confronto que teve início na manhã de domingo, com uma tropa de bandidos adentrando as principais vias de acesso da comunidade em direção aos pontos estratégicos do tráfico.
Por mais de quatro horas uma intensa guerra se alastrou pelo morro, com rajadas de tiros e explosões que aterrorizavam as pessoas confinadas em suas residências. Ao diminuir a intensidade dos confrontos começou a circular mensagens via whatsapp, supostamente de bandidos, que informavam os territórios dominados pelo bonde do Nem.
Outra mensagem fazia referência aos comparsas do Rogério 157, com palavras de ordem informando que a partir daquele momento eles integravam o TCP (Terceiro Comando Puro) e que o Nem não era mais amigo ou patrão deles, já que havia mandado os atacar.
Paralelo aos áudios circularam muitas imagens e vídeos de troca de tiros e bandidos mortos. Um dos vídeos mostrava uma pessoa sendo consumida pelas chamas, possivelmente, no final da Rua 2.
Mesmo com a presença ostensiva da polícia, com o BOPE ocupando os principais acessos à comunidade, os moradores não conseguiram retomar a rotina por conta do risco de novos confrontos e pelo medo difundido junto às informações sobre a situação em determinadas localidades da Rocinha. Sem ter como comprovar a veracidade dos conteúdos, as pessoas preferem não arriscar.
Ontem, os ônibus escolares não circularam; as escolas na comunidade não abriram; o Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare não funcionou, pois muitos moradores não conseguiram ir trabalhar; os comerciantes tiveram que atender ao toque de recolher e fechar às 17h; e quem foi trabalhar teve dificuldade de regressar para casa pela parte alta do morro que estava fechada no período da noite.
Ninguém sabe ao certo qual a real situação da Rocinha e muito menos quando terminará essa guerra, em que o principal derrotado é o morador que, entre tantos direitos já negados, perde a liberdade de ir e vir para cumprir com os seus compromissos.
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