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Ex-delegado assassinado em emboscada fazia dossiê secreto sobre colegas da prefeitura

A denúncia apresentada pelo MPSP lista oito suspeitos, embora não detalhe a atuação de eventuais mandantes

Ruy Ferraz Fontes (Foto: Reprodução I Prefeitura de Praia Grande)

247 - O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo e então secretário de Administração de Praia Grande, Ruy Ferraz Fontes, produzia um dossiê que atribuía a servidores municipais participação em fraudes envolvendo licitações milionárias. A informação é do Metrópoles.

O rascunho do documento foi localizado no notebook do ex-delegado após seu assassinato, ocorrido em 15 de setembro na Baixada Santista. Nele, Ferraz mencionava ao menos 11 licitações supostamente “fraudadas” entre 2021 e 2025, todas relacionadas a contratos de equipamentos de monitoramento que favoreceriam a empresa Peltier.

Segundo o rascunho, três servidores seriam responsáveis por direcionamentos e manobras que permitiram a desclassificação de empresas mais bem colocadas em pregões. Ferraz atribuía enriquecimento ilícito aos envolvidos e registrou que eles estariam “ricos, vivendo em apartamento de luxo, carros importados e viagens para o exterior”, conforme o documento citado no inquérito.

Servidores mencionados e reuniões tensas antes do crime

Entre os citados estava Sandro Rogério Pardini, subsecretário de Gestão e Tecnologia. Também apareciam no documento uma servidora do Departamento de Integração da Informação e um engenheiro de telecomunicações ligado à avaliação técnica dos editais. Esses nomes já são alvo de apurações conduzidas pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Praia Grande.

Os servidores prestaram depoimentos e relataram duas reuniões tensas com Ferraz dias antes do crime. Pardini afirmou que o ex-delegado o convocou poucas horas após a desclassificação das três primeiras colocadas em um pregão para fornecimento de câmeras — Avenue, Alerta e New Line. Ele relatou ter advertido Ferraz de que a presença de representantes das empresas naquele momento seria inadequada.

Uma semana depois, uma nova reunião foi realizada, desta vez com servidores da Secretaria de Planejamento. Ferraz teria solicitado documentos relativos a licitações antigas vencidas pela Peltier.

MP descarta ligação do assassinato com suspeitas de fraude

Embora a existência do dossiê tenha sido mencionada no relatório final da polícia, essa linha de investigação não avançou. Um dos promotores responsáveis pela acusação contra os oito suspeitos do homicídio afirmou que a tese de relação entre o crime e as denúncias internas perdeu força quando se descobriu que o assassinato começou a ser planejado meses antes.

Segundo ele, o Ministério Público concluiu que a morte foi ordenada pelo alto escalão do Primeiro Comando da Capital (PCC). “Não existe essa prova hoje de que as ilegalidades que o Dr. Ruy estava investigando tenham relação com o crime”, afirmou. O promotor lembrou que já havia um “salve” de 2019 contra Ferraz e que alguns suspeitos tinham vínculos com a facção. “O PCC não permite que agentes seus atuem à revelia”, acrescentou.

Investigados e denúncias

A denúncia apresentada pelo MPSP lista oito suspeitos, embora não detalhe a atuação de eventuais mandantes. Parte deles teria cedido imóveis usados pelos executores, enquanto outros tiveram digitais identificadas nos veículos envolvidos. Um dos possíveis atiradores, Umberto Alberto Gomes, morreu em Curitiba após confronto com policiais no fim de setembro.

Outro investigado, Marcos Augusto Rodrigues Cardoso, apontado como “disciplina” da facção, afirmou inicialmente que integrava o PCC, mas recuou em segundo depoimento.