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Gabriel Colombo: existem comunistas em SP

Aos 32 anos, engenheiro agrônomo dedicado à agroecologia é o mais jovem candidato ao governo do estado e milita por reforma agrária, quilombos e agricultura familiar

Gabriel Colombo: existem comunistas em SP (Foto: Marcelo Hayashi/Reprodução)

Opera Mundi - Aos 32 anos, Gabriel Colombo, candidato ao governo de São Paulo pelo  Partido Comunista Brasileiro (PCB), é o mais jovem postulante ao cargo e  milita por reforma agrária, reestatização de empresas nacionais e pela  redução da jornada de trabalho.

No prorgama SUB40 desta  quinta-feira (01/09), o jornalista Haroldo Ceravolo Sereza parodiou o  rap "Não Existe Amor em SP", de Criolo, ao questionar o convidado se  existe comunismo em SP. “Existem comunistas. É tarefa nossa construir a  sociedade comunista em São Paulo, no Brasil e no mundo, se não fizermos,  ninguém mais o fará”, respondeu o engenheiro agrônomo formado pela USP  na Escola Superior de Agricultura Luis de Queirós (Esalq), em  Piracicaba.

Em campanha pelo estado, Colombo e demais candidatos  comunistas rodaram 4 mil quilômetros em 15 dias, com a Caravana do Poder  Popular, “falando de fato o que pretendem”, fora do armário no qual a  demonização operada pelo bolsonarismo e pela direita liberal busca  confinar os comunistas. 

O candidato conta que o PCB paulista está presente na maior parte das  cidades com mais de 100 mil habitantes, com um complexo partidário que  inclui a a União da Juventude Comunista (UJC), a corrente sindical  Unidade Classista, o Coletivo Negro Minervino de Oliveira, o Coletivo  Feminista Classista Ana Montenegro, o Coletivo LGBT Comunista e o  Coletivo Cultural Vianninha. Autodefinido como marxista-leninista, o  engenheiro participou da reorganização do PCB em Piracicaba e teve no  estudo da agroecologia a porta de acesso ao marxismo, “numa perspectiva  da radicalidade, de ir à raiz dos problemas”. 

Não foi um  movimento solitário ou isolado: jovens de várias cidades do interior de  São Paulo procuravam o PCB no mesmo período, no calor das manifestações  de 2013. Sua geração se desenvolveu menos impactada pela queda da União  Soviética que as anteriores: “O muro caiu na cabeça do comunismo  internacional, e gerir o capitalismo parecia ser a única alternativa  possível. Esse período foi superado. O que está em crise hoje são o  projeto neoliberal e o capitalismo, o que impulsiona a juventude que  quer ter um futuro a se radicalizar”.

Sua geração cresceu durante  os governos do PT, e o resgate do comunismo subentende a superação  daquela fase: “Tivemos uma experiência de 13 anos, interrompida pelo  golpe, de um governo de conciliação de classes, reformista. A  social-democracia conseguiu algumas conquistas limitadas, que se  perderam num curto espaço de tempo”. 

Sua crítica não parece  chegar às raias do antipetismo pela esquerda, e Colombo dá pistas de que  o PCB pode apoiar Lula e Fernando Haddad em eventual segundo turno:  “Teremos que fazer o debate interno, mas temos clareza da necessidade de  derrotar o legado de 28 anos de PSDB em SP, Bolsonaro e seus  candidatos, o que descarta qualquer apoio a Rodrigo Garcia ou Tarcísio  de Freitas. A gente não vai se eximir. No segundo turno, sim, é o  momento de escolher o menos pior”. 

As críticas às alianças do PT  com setores da direita liberal são frontais: “A frente amplíssima tem  trazido, nos casos de Lula e Haddad, pessoas que participaram ativamente  do golpe e da aprovação das contrarreformas. Não dá para se aliar, pelo  menos no primeiro turno, a esse rol de políticas que fizeram parte da  ofensiva da burguesia contra os trabalhadores”.

O partido defende a saída da  esquerda às ruas no 7 de setembro que se aproxima, junto ao Grito dos  Excluídos. “Não podemos abandoná-los porque Bolsonaro chamou um ato no  dia. Não podemos ter medo agora, senão vai ficar mais difícil e perigoso  ir para as ruas depois”, desafia. 

O enfrentamento não se resume a  derrotar Bolsonaro nas urnas, mas também combater o bolsonarismo que  seguirá vivo quaisquer que sejam os resultados eleitorais. “Eles já  saíram dos bueiros. Há um Exército com 8 mil militares no governo. No  debate eleitoral, ninguém apontou o papel dos militares em toda a crise  que vivemos, nem pautou como vai derrotá-los”, lamenta.

O PCB  apoiou candidaturas do PSOL em 2018 e 2020, e Colombo justifica a  "inabilidade" de seu partido em formar alianças com outras agremiações  de esquerda: “Entendemos que não fomos nós que pulamos fora desse barco.  O PT foi para uma política de frente amplíssima, e o PSOL foi a  reboque, quase rachado”. Os comunistas tentaram aliança com a Unidade  Popular, mas não houve acordo. “A UP é recém-criada, quer se  experimentar nas eleições”, avalia.

O setor em que o candidato se  mostra mais combativo é o de seu próprio campo profissional, candente no  estado segundo sua avaliação. “O lucro do agronegócio hoje é garantido  produzindo commodities de exportação. Em São Paulo, o que cresce em área  produtiva é cana de açúcar, eucalipto, soja, milho e laranja. Toda a  produção é voltada para o exterior. Estamos mandando nossas riquezas  para fora”, critica, citando o impacto devastador do agronegócio sobre  as florestas naturais e a água dos mananciais. 

A crítica  desemboca na responsabilidade da burguesia rural, patrocinada  maciçamente pela Rede Globo: “É tudo muito diferente do que o agro tenta  pintar, que o agronegócio é tech, é pop, é tudo. O agro é dependente,  importa fertilizantes, sementes, agrotóxicos, peças dos tratores  agrícolas”. 

A universidade em que estudou faz parte do problema, e  Colombo aborda a questão quando Ceravolo brinca perguntando se, quando  estudante, ele encontrou o filho de Lula no prédio da faculdade: “A  Esalq não escapou das fake news promovidas pelo antipetismo. A foto (que viralizou nas redes sociais e WhatsApp como se fosse "a mansão do Lulinha") é do prédio central da diretoria, construído em uma fazenda, que pertencia a Luis de Queirós”.  

Fundada  pelo abolicionista tardio à época em que os escravizados eram largados à  própria sorte, a escola foi idealizada para transformar os filhos de  fazendeiros nos futuros dirigentes dos latifúndios.

Gabriel  Colombo recorre à história para ilustrar a trajetória da faculdade até  os dias atuais: “A primeira greve na Esalq foi em 1908, e a  reivindicação dos alunos era a redução do número de aulas práticas. Não  queriam colocar a mão na terra. Hoje a Esalq é um dos grandes núcleos  ideológicos e políticos do agronegócio no Brasil”. 

Além de agroboys e agrogirls, no entanto, a escola parece produzir também alguns dissidentes comunistas.

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