Pai aciona PM em SP após filha desenhar orixá em atividade escolar
Testemunhas afirmam que quatro policiais armados, incluindo um agente portando uma metralhadora, entraram na unidade
247 - Um episódio envolvendo intolerância religiosa e a presença de policiais armados dentro de uma escola infantil provocou tensão na Emei Antônio Bento, no Caxingui, zona oeste de São Paulo, na última quarta-feira (12). As informações foram originalmente publicadas pelo Metrópoles. O caso começou quando um pai acionou a Polícia Militar após descobrir que sua filha, de 4 anos, havia desenhado a orixá Iansã durante uma atividade pedagógica sobre cultura afro-brasileira.
Segundo relatos de pais e funcionários, a situação se agravou após o mesmo homem, no dia anterior, ter demonstrado forte insatisfação com a proposta educacional — parte do currículo municipal antirracista — e rasgado um mural com desenhos das crianças. Apesar de ter sido convidado pela direção para participar da reunião do Conselho da Escola, marcada para as 15h de quarta-feira, ele não compareceu. Em vez disso, decidiu acionar a PM por volta das 16h.
Testemunhas afirmam que quatro policiais armados, incluindo um agente portando uma metralhadora, entraram na unidade alegando ter recebido denúncia de que crianças estavam sendo obrigadas a participar de “aula de religião africana”. A abordagem foi considerada hostil por pais e funcionários presentes, que relataram clima de tensão, choro de crianças e forte abalo emocional na equipe. Uma diretora chegou a passar mal e precisou ser retirada da sala.
A direção da escola esclareceu aos policiais que o desenho fazia parte de uma atividade baseada no livro infantil Ciranda em Aruanda, de Liu Olivina, obra presente no acervo oficial da rede municipal. O material apresenta histórias curtas e ilustrações de dez orixás, contextualizando elementos da mitologia afro-brasileira de forma literária e não religiosa. A escola reforçou que a atividade se enquadra nas leis federais nº 10.639/03 e nº 11.645/08, que determinam o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena em todas as instituições públicas do país, e que não há qualquer prática doutrinária no conteúdo.
Enquanto estiveram na escola, os PMs orientaram pai e direção a registrarem boletim de ocorrência, caso considerassem necessário. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), “a Corregedoria da PM está à disposição para apurar eventuais denúncias sobre a conduta policial”. A pasta também afirmou que o armamento pesado portado pelos agentes — incluindo a metralhadora — faz parte do Equipamento de Proteção Individual (EPI) utilizado durante todo o turno.
Já a Secretaria Municipal de Educação informou que o responsável foi orientado sobre a natureza pedagógica da atividade e que ela integra o Currículo da Cidade de São Paulo, que prevê abordagens sobre história e cultura afro-brasileira e indígena em todas as etapas da educação básica. Pais de alunos, que pediram anonimato, relataram que foi preciso que um grupo se mobilizasse para pedir que os policiais deixassem a unidade e restabelecessem a normalidade.
