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PF: suspeito de integrar CV esteve com secretário de Castro para falar sobre ajuda política

A Polícia Federal disse que as conversas evidenciaram 'a articulação política da organização criminosa para cooptar altas autoridades do Poder Executivo'

Gabriel Dias de Oliveira e Gutemberg Fonseca (Foto: Reprodução )

247 - Apontado pela Polícia Federal como tesoureiro da facção criminosa Comando Vermelho (CV), Gabriel Dias de Oliveira teve uma reunião com o secretário de Defesa do Consumidor do estado do Rio de Janeiro, Gutemberg Fonseca, para tratar de apoio político. Foi o que apontou o relatório final da Operação Zargun, do dia 27 de setembro. A informação foi publicada nesta sexta-feira (7) pelo jornal Folha de S.Paulo.

A PF disse que as conversas evidenciaram "a articulação política da organização criminosa para cooptar altas autoridades do Poder Executivo Estadual", além da "utilização da máquina pública para blindar e promover os interesses da facção".

De acordo com a PF, "aparentemente" o secretário não correspondeu às expectativas de Gabriel, conhecido como Índio do Lixão, "mesmo após receber algum tipo de auxílio". Investigadores não especificaram o que seria esse auxílio.

A assessoria da secretaria afirmou que Gutemberg desconhece completamente a vida pessoal de Índio e que, se houve algum contato em eventos públicos, "foi de forma absolutamente casual, sem qualquer ciência sobre qualquer envolvimento ilícito".

Diálogos

O encontro entre os dois aconteceu no dia 13 de maio, segundo conversas extraídas do celular de Índio, que encaminhou um áudio a Alessandro Pitombeira Carracena, que foi secretário estadual de Esporte e Lazer do Rio em 2022. Também foi subsecretário de Defesa do Consumidor até janeiro deste ano - os dois cargos na gestão Castro.

Índio relatou que esteve com o secretário de "onde o senhor trabalha". A polícia deduziu tratar-se de Gutemberg. O suspeito afirmou ter sido levado por um interlocutor para que o secretário o conhecesse, "a fim de ver como poderiam se ajudar politicamente".

O membro do Comando Vermelho disse a Carracena que Gutemberg poderia entrar em contato, no dia seguinte, para perguntar quem era e se "estava dentro do problema ou não". A polícia interpretou o diálogo como um pedido de "cobertura política".

"Já falei com eles, falei que você é firme e é importante pra ele ter ao lado", teria respondido o ex-secretário, o que, segundo a PF, indicou apoio ao projeto político de Índio.

A PF destacou que, no dia 5 de junho, Índio enviou a Carracena um vídeo de Gutemberg em um evento da Enel, distribuidora responsável pelo fornecimento de energia no Rio, e afirmou: "Ficou forte ele com Enel né".

"Muito é por causa de você", respondeu Carracena. A seguir, Índio desabafou, segundo o relatório: "Não vou mais incomodar ele não, doutor, não posso ficar forçando ele me ajudar se no coração dele não quer me ajudar".

Pelas mensagens, o ex-secretário respondeu que estava "lutando por isso". Índio afirmou: "Se ele quisesse, já teria feito". O suposto tesoureiro disse: "Ainda mais depois do que eu fiz".

Comando Vermelho e eleições

Índio e Carracena foram presos durante a deflagração da Operação Zargun, no começo de setembro. O primeiro é apontado pela PF como o principal responsável pela negociação de armas e drogas para o Comando Vermelho, "mantendo estreitas conexões com lideranças criminosas que atuam no Complexo do Alemão".

A corporação disse que Índio participava de operações clandestinas de câmbio e ocultava, e dissimulava os recursos adquiridos no esquema, que eram repassados a traficantes. Também fazia a intermediação entre os chefes de facções criminosas e autoridades públicas.

A PF apurou que o Comando Vermelho pretendia lançá-lo como vereador em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Conforme a polícia, ele ganhou o apelido "do Lixão" por chefiar o comércio de drogas na Favela do Lixão, no município. Ele chegou a ser preso em 2015.

A corporação indiciou Índio por suspeita de promover, constituir, financiar ou integrar organização criminosa e associação para o tráfico internacional de armas e drogas. A defesa de Índio não foi localizada.

Carracena, de acordo com a PF, é o braço político e jurídico da facção. Ele teria recebido dinheiro de seus membros para vazar operações policiais para o grupo e atender a interesses por meio de contatos adquiridos na vida pública. Foi indiciado sob suspeita de promover, constituir, financiar ou integrar organização criminosa, violação de sigilo funcional e corrupção ativa.

Outro lado

O advogado Rodrigo Roca, que atua na defesa de Carracena, disse que seu cliente "não fez mais que se colocar à disposição de um candidato para auxiliá-lo na busca por apoio político".

"O diálogo entre o Dr. Carracena e o Índio, ao contrário da perversa narrativa acusatória, inseriu-se no contexto da busca legítima por apoio político. Em nenhum momento houve menção a vantagens indevidas ou à prática de qualquer ato contrário à lei."

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