Romário como deputado: craque ou marrento?

Evam Sena_247, em Brasília - O tetracampeão mundial e ídolo de três entre as maiores torcidas do Rio – Vasco, Flamengo e Fluminense, clubes onde brilhou com seus gols --, Romário beneficiou-se de sua fama no futebol para eleger-se deputado federal no ano passado. Deu certo. Foram contados 146.859 votos a seu favor. O jogador foi o sexto mais votado entre os 46 parlamentares federais eleitos no Estado do Rio. Havia, é claro, uma incógnita sobre se, uma vez de paletó e gravata, em lugar do meião e da chuteira, o ‘Baixinho’ saberia dar seus dribles geniais nas mais diferentes situações. Perto de completar 10 meses em seu novo papel, a verdade é que Romário tem se mostrado um deputado com estilo muito parecido ao que exibia nos gramados e fora deles: bom de jogo, mas, ao mesmo tempo, absolutamente marrento. A combinação desperta elogios entre colegas e faz com que ele já tenha uma meta para 2014: eleger-se senador pelo Rio.

Ele começou jogando mal, ou melhor, faltando à primeira, digamos, partida. No primeiro dia de trabalho, Romário cometeu a proeza de ir à Brasília para assinar o ponto de presença e, imediatamente a seguir, tomou um avião de volta ao Rio para exibir-se numa partida de futevôlei. Foi, é claro, flagrado. E vaiado. Ao que mostra sua prática legislativa, no entanto, ele aprendeu a lição. Desde o início dos trabalhos na Câmara, ele teve 100% de presença em trabalhos nas comissões e só faltou um dia de sessão com votações. Essas sessões, conhecidas como deliberativas, têm presença obrigatória, com pena de desconto no salário.

No exercício do mandato, Romário se envolveu em outras polêmicas. Dentre as 16 pessoas que ele emprega em seus gabinetes em Brasília e no Rio de Janeiro, estão a modelo e atriz Bella Rodrigues, e um amigo de infância, o ex-goleiro amador Luiz Cláudio Henriques. Ao Rio 247 em Brasília, o chefe de gabinete de Romário, Marco San, negou que as nomeações foram para beneficiar amigos e disse que eles “trabalham na articulação política” do mandato.

Depois de críticas a visita oficial que faria com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) e outros deputados, à Espanha, quando aproveitariam para assistir a um jogo do Real Madrid contra Barcelona, Romário desistiu da viagem. Se isso pode ser considerado um gol, logo depois dele deu um chutão daqueles que a bola quase sai fora do estádio: no início de julho, ele teve sua carteira de motorista presa numa blitz, no Rio, por se recusar a fazer o teste do bafômetro.

O deputado Romário é o primeiro vice-presidente da Comissão de Turismo e Desporto e suplente na Comissão de Educação e Cultura. Nas nove visitas já feitas por deputados a cidades-sede da Copa, além do presidente da Comissão de Turismo, Jonas Donizete (PSB-SP), Romário foi o único parlamentar a ir em todas.

Por outro lado, porém, o ‘Baixinho’ apresentou somente três projetos de lei que tratam de temas como esporte na escola e inclusão de pessoas com deficiência. Ele já relatou três projetos. Na Comissão de Turismo e Deporto, um trata da criação do Programa Centros Olímpicos; outro, sobre incentivos para atividades desportivas. Na Comissão de Educação e Cultura, relatou projeto sobre a formação de jovens em áreas ligadas ao esporte.

Na sua busca para se cacifar no mundo político, Romário não tem se poupado a tocar em questões polêmicas. Ex-aliado de Ricardo Teixeira, ele convidou publicamente o presidente da CBF para se explicar de denúncias de corrupção nos preparativos para a Copa de 2014. No mês passado, lançou um site para acompanhar o andamento das obras, com uma entrevista com o jornalista inglês da BBC, Andrew Jennings, que investiga casos do corrupção na Fifa e tem uma série de acusações a Teixeira. Algo como um chute de bico na canela do presidente da CBF, inimigo figadal de Jennings.

Apesar de ser de um partido aliado ao Planalto, o deputado não esconde seu estilo marrento ao fazer críticas ao governo. Ele já reclamou sobre o aumento de gastos com estádios, afirmou que São Paulo não tem direito a disputar a abertura do campeonato e, nesta semana, classificou como “maquiagem” dos problemas de infraestrutura a proposta do governo de decretar feriado durante a Copa. “Só Jesus para fazer com que o Brasil faça a melhor Copa”, disse tempos atrás.

Romário foi um dos articuladores para a inclusão de emenda em medida provisória que beneficiou portadores de deficiências, permitindo o recebimento do Benefício de Prestação Continuada, mesmo depois de admissão como aprendizes. O ex-jogador é pai de uma filha com Síndrome de Down.

Na Câmara, os deputados mais próximos de Romário são os da Comissão de Desporto, incluindo o ex-lutador Popó (PP-BA) e o ex-goleiro Danrlei (PTB-RS). Com parlamentares mais experientes, como Jonas Donizete, ele tira dúvidas sobre o trabalho legislativo. Para os colegas de mandato, ele tem se mostrado curioso, atuante e com grande capacidade de aprendizado.

“Ele se mostra interessado, participa até o fim, faz perguntas e fica meio brabo quando não dá pra fazer o número de perguntas que ele gostaria. Ele mostra que quer levar a sério o mandato. Sinto que ele está gostando da política”, testemunhou Donizete ao Brasil247.

Entrevistar Romário é uma tarefa tão difícil quanto fazer exclusiva com ministro. Segundo sua assessoria, existe uma lista de espera de 40 pedidos de entrevista. Não é por acaso que todas as suas declarações viram manchete. Sua agenda cheia é divida entre os trabalhos na Câmara, visitas a eventos relacionados à Copa e jogo beneficentes.

O ex-jogador chegou a ser cogitado para disputar a prefeitura do Rio de Janeiro no ano que vem, mas seus planos são outros. Ele quer continuar no Legislativo, terminar o mandato de deputado para ter mais experiência em política e disputar uma vaga ao Senado em 2014.

“Eu não tenho dúvida que ele terá um futuro político brilhante. Romário terá êxito não só por sua história, mas principalmente por sua atuação política”, disse o deputado Valadares Filho (PSB-SE), próximo a Romário.