Vera doida demais

Rubeny Goulart 247_ Quando jovem, se achava feia, mas a natureza caprichou e a fez linda. Queria uma vida careta, mas trilhou o caminho do perigo e do risco. Sonhava em ser jornalista, mas virou musa do Brasil. Assim é Vera Lúcia Fischer, a Vera Fischer, para os íntimos, um poço até aqui de mágoas e contradições. A mais recente foi a internação por dependência química numa clínica carioca onde ficou quase dois meses. Mas isso não chocou seus fãs. Não é a primeira e ninguém arrisca dizer que será a última vez que Vera apronta. O Brasil está acostumado com as loucuras da atriz, modelo, ex-miss brasil, mãe de dois filhos que tem fama, prestígio é amada por todos e tenta, mas não consegue ser feliz.

Há muitas Veras Fischer no inconsciente coletivo nacional. A Vera erotizada de “A Primeira Noite de Um Homem”, na adaptação de Miguel Fallabela, de 2004. Ou a Vera trambiqueira de Doida Demais, dirigido por Sérgio Rezende. Ou a crédula de “Caminhos das Índias”, de Glória Perez. E todas as suas personagens midiáticas: a barraqueira das brigas com vizinhos, a encrenqueira das novelas globais, a patroa má da tesoura na empregada, a Vera sensual e lúbrica das páginas da Playboy.

Nunca uma artista foi tão exposta, com personagens múltiplos e contraditórios de uma novela que parece não ter fim. A Vera verdadeira do coração aos pedaços, a mal amada dos casamentos desfeitos, a filha rancorosa que chamou o pai de nazista, a bela e sessentona Vera das baladas da zona sul do Rio e de tantas e belas veras.

Mas a personagem que deixou o Núcleo Integrado de Psiquiatria na Barra da Tijuca, no Rio, depois de dois meses de internação, é apenas uma Vera perdida, de lindos e tristes olhos azuis.