“Homens precisam assumir responsabilidade pela violência”, diz Elenira Vilela
A professora e sindicalista aponta patriarcado, crise do capitalismo e frustração masculina como raízes da escalada de crimes no Brasil
247 - A professora e dirigente sindical Elenira Vilela fez uma análise sobre a escalada da violência no Brasil durante sua participação no portal de Desacato. No debate, ela foi enfática ao afirmar que o país precisa enfrentar a raiz estrutural do problema: a violência praticada majoritariamente por homens.
“Homens precisam assumir responsabilidade pela violência”, afirmou Elenira, ao comentar a sucessão de crimes brutais recentes envolvendo estupros, assassinatos, tentativas de feminicídio e violência contra crianças em diferentes regiões do país.
No programa foi destacada a gravidade dos casos que vêm se acumulando nas últimas semanas, especialmente em Santa Catarina, além de episódios que ganharam repercussão nacional pela crueldade extrema.
“Essa não é uma violência de gênero, é uma violência masculina”, disse Elenira, reforçando que há um erro histórico na forma como a sociedade trata o problema. Segundo ela, não se trata apenas de “violência de gênero”, mas de uma violência ligada diretamente à formação social da masculinidade.
“Nesse momento, a gente tá tendo uma virada de chave que é o reconhecimento de que essa não é uma violência de gênero, mas que essa é uma violência masculina”, afirmou.
Ela explicou que o patriarcado organiza a sociedade de forma hierárquica, estabelecendo os homens como superiores. “A sociedade é organizada de tal forma em que os seres humanos do sexo masculino são considerados superiores e, por isso, adquirem poder e exercem a sua existência considerando os outros seres como seres de segunda categoria”, disse.
Ela reforçou que esse sistema não é natural nem imutável. “Se é histórico, é possível mudar, porque não é igual a lei da gravidade”, declarou.
Elenira também relacionou o avanço da brutalidade com a crise estrutural do capitalismo. Segundo ela, a masculinidade tradicional foi construída em torno de dois pilares: o provimento financeiro e a virilidade. Com o colapso das expectativas materiais, esse modelo entra em crise.
“Quando você tem uma crise do capitalismo brutal, o provimento quebra, então gera uma frustração na reprodução dessa virilidade”, explicou.
Ao mesmo tempo, as mulheres passam a romper relações abusivas e a recusar vínculos baseados na exploração. Para ela, esse choque com a realidade produz uma resposta violenta. “O único mecanismo que é oferecido pros homens para lidar com essa frustração é a violência”, afirmou.
