Justiça obtém gravações de suposto acordo para fraudar licitação
Ministério Público do Paraná (MP-PR) obteve gravações telefônicas que mostram como funcionou o acordo para um suposto esquema de fraude em licitação do Departamento de Transportes (Deto) do governo estadual; as gravações mostram conversas entre o ex-diretor do Deto Ernani Delicato, e Ismar Ieger, considerado pelo MP-PR como "testa de ferro" da Oficina Providence Auto Center, de Cambé, no norte do Paraná; ambos estão entre os sete réus na denúncia apresentada pelo MP-PR e que foi aceita pela Justiça de Londrina, também no norte paranaense
Paraná 247 - O Ministério Público do Paraná (MP-PR) obteve gravações telefônicas que mostram como funcionou o acordo para um suposto esquema de fraude em licitação do Departamento de Transportes (Deto) do governo estadual. As gravações mostram conversas entre o ex-diretor do Deto Ernani Delicato, e Ismar Ieger, considerado pelo MP-PR como "testa de ferro" da Oficina Providence Auto Center, de Cambé, no norte do Paraná. Ambos estão entre os sete réus na denúncia apresentada pelo MP-PR e que foi aceita pela 3ª Vara Criminal de Londrina, também no norte paranaense.
Conforme a gravação, Delicato orienta Ieger a fazer as três propostas das empresas que iriam participar de um contrato emergencial com o governo para o conserto de carros oficiais do próprio Executivo estadual, com valor de R$ 1,5 milhão. A Justiça suspendeu o contrato. Eles acertam os descontos de mão de obra, peças originais e peças de reposição, que definiram a proposta vencedora.
Ismar Ieger: "Na proposta eu montei lá (...) se fosse só as três, eu falei para ele que era mais tranquilo, a gente podia montar sem puxar, entendeu?"
Ernani Delicato: "Entendi".
Ieger: "Lá, porcentagem, eu comecei com 12, 12 e 32, o que você acha?"
Delicato: "Fica bom".
Em outro trecho da conversa, Delicato, responsável pelo contrato emergencial, afirmou, segundo o MP-PR, que Ieger deve tomar cuidado para que as propostas não fiquem parecidas, o que poderia levantar suspeitas.
Ieger: "(...) sobre a porcentagem aqui era tranquilo, era só mais para tirar a dúvida em relação a diferença".
Delicato: "Bom, aí vocês que vê, para não ficar muito, entendeu?".
Ieger: "Na proposta eu montei lá (...) se fosse só as três, eu falei para ele que era mais tranquilo, a gente podia montar sem puxar, entendeu?".
As conversas telefônicas mostram ainda que Ismar Ieger, que aparece em documentos como dono da Providence, foi o responsável por elaborar as propostas de todas as oficinas, inclusive das duas concorrentes. "As outras eu já mudei. Fiz tudo diferente", disse Ieger, em uma das gravações.
Ieger informou, ainda, nque teve ajuda do advogado José Carlos Lucca, em conversa com Paulo Midauar. Lucca também foi denunciado pelo MP. "Já encaminhei pro doutor aqui, pra ele dar uma olhada de todas que eu fiz, e ele vai ver se tem um erro, alguma coisa, e eu vou encaminhar pra ele as outras duas pra ele analisar", afirmou Ieger, em uma das conversas gravadas com autorização da Justiça.
O MP-PR denunciou à Justiça sete pessoas pelos crimes formação de organização criminosa, fraude à licitação e falsidade ideológica. De acordo com a promotoria, o empresário Luiz Abi Antoun, parente do governador Beto Richa (PSDB), coordenou o grupo entre o início de 2013 e março de 2015. Na denúncia, o Gaeco relata que a Oficina Providence Auto Center, de Cambé, no norte do Paraná, contratada emergencialmente, foi constituída em nome de um “laranja” de Abi.
Mais gravações
O MP-PR também teve acesso a trechos de conversas entre Ieger e o empresário Paulo Midauar, que teria intermediado o contato entre Ieger e o Deto para a elaboração do processo licitatório. De acordo com a denúncia,
Midauar contou que o advogado deu uma nova redação as propostas para o contrato emergencial, para evitar suspeitas.
"O negócio dele era só pra montar um palavreado melhor entendeu", disse Midauar. "Ele montou, ficou legal, ficou bacana, dez pra caramba", respondeu Ieger.
Ainda está sendo investigado se outros servidores do Deto teriam colaborado com o esquema ou até mesmo feito alteração ou produção de documentos para atrapalhar as investigações.
Outro lado
O advogado de Ismar Ieger, Mauro Martins, informou que não vai se pronunciar por enquanto. Os advogados de Ernani Delicato, Paulo Midauar e de José Carlos Lucca não foram localizados, segundo informações do G1, que ouviu as defesas dos envolvidos no caso. A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Administração, onde funciona o Deto, também não se pronunciou.
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