HOME > América Latina

Eleições no Chile têm quatro favoritos e país deve decidir futuro em disputa marcada por segurança e polarização

Ao todo, oito candidatos participam do primeiro turno, mas quatro lideram a disputa e têm chances reais de avançar para um segundo turno em 14 de dezembro

Jeanette Jara (dir.), candidata do PC do Chile nas primárias presidenciais (Foto: Prensa Latina )

247 - O Chile vai às urnas neste domingo (16) para escolher o sucessor do presidente Gabriel Boric em uma eleição marcada pela preocupação com a segurança pública e pelo avanço de discursos mais duros no espectro político. As informações foram divulgadas pela  Reuters.

Ao todo, oito candidatos participam do primeiro turno, mas quatro lideram a disputa e têm chances reais de avançar para um segundo turno em 14 de dezembro: Jeannette Jara, José Antonio Kast, Johannes Kaiser e Evelyn Matthei. Pesquisas recentes mostram um cenário apertado, impulsionado pelo voto obrigatório, que volta a vigorar pela primeira vez desde 2012.

A seguir, um panorama dos principais nomes da corrida presidencial chilena.

Jeannette Jara

A favorita nas pesquisas, Jeannette Jara, 51, representa a coalizão governista e faz história como a primeira candidata comunista à Presidência desde o retorno da democracia. Ex-ministra do Trabalho e Previdência Social, ela liderou reformas relevantes no governo Boric, como a redução da jornada de trabalho de 45 para 40 horas e o aumento do salário mínimo.

A candidata pauta sua campanha em segurança pública com foco em inteligência policial, sem militarização, além de prometer avanços sociais. Defende a continuidade das políticas de bem-estar, ampliação das pensões e novas iniciativas de moradia popular.

Filha de família operária, Jara ingressou na Juventude Comunista aos 14 anos e construiu carreira no serviço público, passando também pelo Ministério da Seguridade Social no segundo mandato de Michelle Bachelet. Seu discurso mais recente a posiciona como uma líder de esquerda pragmática, buscando atrair eleitores moderados.

Se vencer, torna-se a primeira presidente comunista da história democrática do Chile.

José Antonio Kast

Nome de ultradireita e figura já conhecida do eleitorado, José Antonio Kast surge em segundo lugar nas pesquisas. Ele disputa a Presidência pela terceira vez e tenta repetir o desempenho de 2021, quando chegou ao segundo turno contra Boric.

Moderando algumas posições, Kast deixou de lado temas sensíveis, como elogios ao regime Pinochet, e direcionou sua campanha para segurança, combate ao crime e controle migratório. Defende políticas rígidas na fronteira — incluindo a construção de uma vala para dificultar acesso ilegal — e um alinhamento ideológico semelhante ao de Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Descendente de imigrantes alemães, Kast foi deputado por quatro mandatos e construiu base sólida entre eleitores conservadores. Sua ofensiva atual tenta capitalizar o aumento do medo da criminalidade no país.

Johannes Kaiser

A grande surpresa da disputa é Johannes Kaiser, 49, congressista libertário, ex-comentarista de YouTube e fundador do Partido Nacional Libertário. Ele chegou ao terceiro lugar nas pesquisas e ameaça reorganizar o bloco de direita ao tirar votos de Kast e atrair jovens conservadores e eleitores antiestablishment.

Kaiser defende a retirada do Chile de acordos internacionais, como o de Escazú e a Agenda 2030 da ONU, rejeita o multilateralismo e promete um Estado mínimo rigoroso. Sua trajetória pessoal — marcada por trabalhos diversos na Áustria e carreira inicial como youtuber — alimenta sua imagem de outsider.

Pesquisas recentes lhe dão entre 14% e 15% das intenções de voto, desempenho que pode alterar o equilíbrio entre os candidatos de direita e influenciar decisivamente a formação do segundo turno.

Evelyn Matthei

Atual prefeita de Providencia, Evelyn Matthei representa a centro-direita tradicional pelo Chile Vamos. Apesar de estar atrás de Kast e Kaiser entre os eleitores de direita, ela cresce entre moderados e lidera entre eleitores urbanos de alta renda.

A campanha de Matthei investe na ideia de estabilidade e experiência administrativa. Sua equipe tenta capturar eleitores de centro-esquerda descontentes e critica as propostas de Kast, como o corte de US$ 6 bilhões em gastos públicos.

Pesquisas mostram força especialmente na Região Metropolitana de Santiago, mas desempenho mais fraco entre eleitores de baixa renda e zonas rurais. Ainda assim, analistas afirmam que, com o voto obrigatório, seu apelo ao centro pode ganhar peso na reta final.

Com o país dividido entre agendas de segurança, reformas sociais e identidades políticas em transformação, a eleição chilena de 2025 se desenha como uma das mais competitivas desde o fim da ditadura. O resultado deste domingo deve definir quais projetos — da esquerda reformista, da ultradireita, do libertarianismo radical ou do centro moderado — chegarão à disputa final pelo comando do país.

Artigos Relacionados