Presidente da Guiana não descarta base dos EUA no país para conter Venezuela: 'faremos o que for necessário'
"Temos conversado com a França, o Reino Unido, com os EUA e nossos amigos não vão permitir que a Guiana seja prejudicada", ressaltou o presidente Mohamed Irfaan Ali
247 - O presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, afirmou que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tenta "incutir medo no povo" guianense e não descarta a possibilidade de permitir a instalação de uma base estadunidense em seu território em meio às crescentes tensões na região de Essequibo, área rica em petróleo e minérios localizada na Guiana, mas que é reivindicada pelo governo de Caracas.
"Faremos tudo o que for necessário para garantir a soberania e a integridade territorial da Guiana", disse Ali em entrevista à BBC News Brasil e à BBC News Mundo ao ser questionado sobre a possibilidade de instalação de uma base dos Estados Unidos no país.
“Estamos analisando toda a inteligência e no momento certo tomaremos a decisão apropriada. Mas custe o que custar, com os nossos parceiros bilaterais, com os nossos parceiros internacionais para proteger a segurança, a integridade territorial e a soberania da Guiana, nós o faremos”, disse Ali. >>> Celso Amorim diz que solução para conflito entre Venezuela e Guiana não virá do Brasil: "não vamos tirar nada da cartola"
“Isso inclui o apoio de todos os nossos aliados, não importa o formato que isso venha a ter. Não posso ser mais claro que isso. Devemos garantir que a segurança, a integridade territorial e a soberania do nosso país estejam asseguradas e protegidas. Esse é o nosso objetivo principal”, completou.
“Temos amigos. Nós temos aliados. Temos trabalhado com a comunidade internacional. A Guiana não está sozinha. Eu não entraria no detalhe dos nossos relacionamentos, mas nós temos conversado com a França, o Reino Unido, com os EUA e nossos amigos não vão permitir que a Guiana seja prejudicada”, ressaltou ele em outro ponto da entrevista. >>> Brasil não permitirá uso de território para ação militar entre Venezuela e Guiana, diz Múcio
Na entrevista, Ali descartou a possibilidade de que a Guiana possa dividir as receitas do petróleo da região de Essequibo com a Venezuela como uma forma de reduzir a tensão entre os dois países.
“A Venezuela compartilharia com a Guiana todas as receitas que obteve nos últimos cem anos com o petróleo? Você não pediria que eles compartilhassem o que é deles. Essas receitas são da Guiana. Essas são nossas riquezas dentro do nosso território. Como vamos compartilhar isso? (...) Dizer que temos que celebrar um acordo de partilha de receitas com a Venezuela é um insulto ao nosso país e ao seu povo. Isso nunca acontecerá. (…) Acho que as pessoas nos subestimam porque somos uma população pequena, mas somos uma população pequena e responsável, com moralidade, ética, boa governança, democracia, liberdade do nosso lado e com grandes parceiros internacionais”, afirmou. >>> Entenda a origem da disputa entre Venezuela e Guiana
Questionado sobre o envolvimento do Brasil na negociação para evitar uma escalada da tensão, o presidente guianense ressaltou que “o presidente Lula tem sido muito ativo. Estivemos em contato em mais de uma ocasião. Ele deixou bem claro que apoia a Guiana, que apoia os termos do acordo de 1899 e que apoia o processo do direito internacional para garantir que a Corte Internacional de Justiça seja respeitada. Ele também me procurou para conversar e promover uma reunião com o presidente Maduro para diminuir a tensão e garantir que a ameaça da força seja retirada da equação. E, em respeito ao presidente Lula e a todos os líderes da região, estamos tendo esta conversa”.
Ainda segundo ele, o Brasil é um “parceiro" da Guiana e os dois países já realizaram “muitos compromissos militares juntos. Tenho certeza que as Forças de Defesa da Guiana e de seus homólogos estão em discussões contínuas”. "Os militares brasileiros e da Guiana estão conversando. Isso é tudo que posso dizer”, pontuou.
