Surgem em Honduras denúncias de conspiração e golpe eleitoral
Conselheiro da autoridade eleitoral denuncia plano para desestabilizar as urnas
Por Giorgio Trucchi - A um mês das eleições gerais, em que mais de 6,3 milhões de pessoas irão às urnas para eleger um presidente, membros do Congresso Nacional e do Parlamento Centro-Americano, prefeitos e vereadores, a situação eleitoral em Honduras torna-se cada vez mais tensa.
Em 29 de outubro, o Procurador-Geral Johel Zelaya realizou uma coletiva de imprensa onde divulgou o conteúdo de gravações de áudio (transcrição completa AQUI), formalmente entregues alguns dias antes por Marlon Ochoa (Partido Livre), membro do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que revelam um suposto plano para boicotar e desestabilizar o processo eleitoral que será realizado no dia 30 de novembro.Esse plano, supostamente, envolve o deputado Tomás Zambrano (líder da bancada do PNH - Partido Nacional de Honduras), Cossette López Osorio, também conselheira do CNE indicada para o cargo pelo partido de Zambrano, e um membro não identificado das Forças Armadas.
Caos programado
A estratégia envolve a intervenção direta tanto na logística do transporte das urnas e dos votos, quanto na transmissão eletrônica dos resultados preliminares, gerando um clima de suspeita, crise e caos em nível nacional e internacional.
Uma atmosfera de forte tensão e confusão, caso Rixi Moncada, candidata do partido governista Liberdade e Refundação (Libre), saia vitoriosa, provavelmente levaria à rejeição dos resultados.As ações conspiratórias seriam desencadeadas induzindo o público a acreditar que Salvador Nasralla, candidato do Partido Liberal (PLH), é o vencedor e que o partido governista estaria orquestrando uma fraude para manter-se no poder.Esse plano de desestabilização seria fortalecido pela participação maciça de veículos de comunicação e plataformas alinhadas à oposição política e a poderosos grupos econômicos, bem como por infiltrados entre os observadores eleitorais.
O sentimento nacionalista contribuiria, então, para aprofundar o caos e a ingovernabilidade, reforçando a percepção de fraude entre a população e a comunidade internacional. A recusa da comunidade internacional em reconhecer os resultados das eleições, especialmente por parte dos Estados Unidos, é fundamental para o sucesso da estratégia e para a convocação de novas eleições.
As mesmas velhas garras
A orquestração, por parte de Washington, de planos para impedir que forças progressistas cheguem ao poder ou continuem a governar em Honduras não é novidade.Em 2017, a embaixadora dos EUA endossou e abençoou a fraude que permitiu a Juan Orlando Hernández, agora preso por crimes relacionados ao narcotráfico, conquistar um segundo mandato presidencial.Algo muito semelhante aconteceu tanto nas eleições de 2013 (primeiro mandato de Hernández, em que seu oponente era a atual presidenta Xiomara Castro) quanto no golpe cívico-militar de 2009.Em 2017, os protestos foram violentamente reprimidos, resultando em mais de trinta pessoas assassinadas e centenas de feridos. Muitos cidadãos também foram forçados a fugir do país.O aspecto mais irônico de tudo isso é que foi o próprio Nasralla, então candidato à presidência por uma aliança liderada pelo Libre, quem sofreu e denunciou a fraude nacional e internacionalmente. Agora, ele seria o maior beneficiado com a mesma injustiça.
InvestigaçõesApesar das declarações de López e Zambrano, este último apoiado pelos principais líderes do Partido Nacional, denunciando que as gravações foram falsificadas e produto de inteligência artificial, o Procurador-Geral Zelaya afirmou a autenticidade das mesmas e confirmou que prosseguiria com a investigação.O Ministério Público instaurará os procedimentos de investigação, garantirá a cadeia de custódia dos áudios e convocará as testemunhas", declarou Zelaya.
O Procurador-Geral lembrou ao público que qualquer tentativa deliberada de manipular os resultados eleitorais constitui traição à Pátria, crime punível em Honduras com pena de prisão de 15 a 20 anos e inabilitação para o exercício de cargos públicos pelo dobro da pena.Enquanto isso, a presidenta Xiomara Castro, por meio de sua conta nas redes sociais, condenou veementemente "essa conspiração criminosa com o objetivo de orquestrar um golpe eleitoral".A presidente afirmou ter instruído as Forças Armadas a investigar o envolvimento de militares nessa tentativa de desestabilização e a orientar o ministro das Relações Exteriores a denunciar os acontecimentos perante a comunidade internacional.
"Os mesmos grupos que violaram a Constituição no golpe de 2009 e perpetraram as fraudes eleitorais de 2013 e 2017 estão agora tentando, mais uma vez, suplantar a vontade do povo, gerar caos e sequestrar a soberania popular", declarou Castro."Defenderemos a democracia e a vontade do povo com toda a força da lei, garantindo eleições livres e transparentes, paz social e respeito irrestrito ao Estado de Direito e à ordem constitucional", acrescentou.A candidata presidencial do Libre também reagiu aos recentes acontecimentos."Diante dos áudios que revelam a atuação fraudulenta de uma máfia eleitoral dentro do Conselho Nacional Eleitoral (CNE)”, afirmou claramente: “não existe crime perfeito! A defesa das eleições e da democracia assume, hoje, um caráter histórico", declarou Moncada.
E também exigiu que o Procurador-Geral da República aja com todo o rigor da lei e pediu a renúncia imediata da conselheira Cossette López.
"Ninguém que participe de uma conspiração de tal magnitude tem legitimidade para ocupar um cargo de autoridade eleitoral", afirmou.
[Publicado originalmente em espanhol em https://nuevanicaraguaymas.blogspot.com/2025/10/conspiracion-y-golpe-electoral-en.html. Tradução para o português disponível no mesmo link.
Revisão da tradução: Rose Lima
