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Expressão racista? Empresas mudam Black Friday para Best Friday, Beauty Week e outras

Num contexto de debate antirracista, a expressão é trocada nas ofertas de muitas companhias

Anúncio com a expressão Best Friday no lugar de Black Friday (Foto: Reprodução)

247 - Com a aproximação da data de maior ofertas do ano no comércio, algumas empresas tentam se diferenciar, entrar na discussão antirracista e mudar a tradicional expressão “Black Friday” para outros nomes, sem a palavra ‘preta’.

No ano passado, o Grupo Boticário começou a usar Beauty Week. Outras companhias seguiram a tendência, como Avon, Olist e Pagar.me, que passaram a usar Best Friday (melhor sexta-feira). Houve ainda nomenclaturas como Green Friday (sexta-feira verde), que remete à sustentabilidade.

Especialistas ouvidos em reportagem do Estado de S.Paulo apontam que o movimento é mais uma estratégia para atrair um novo perfil de consumidor. “Vejo essa mudança para atingir o maior público e isso depende da simpatia que as pessoas que estão no movimento vão ter da campanha”, afirma Luiz Tibiriçá, presidente da agência de serviços digitais Krone Design.

Evitar a expressão Black Friday só fará sentido se vier acompanhado de iniciativas concretas. Para a historiadora Suzane Jardim, que pesquisa temas étnico-raciais, o antirracismo associado apenas à exclusão de palavras e frases reduz a causa a uma fórmula de conduta e de autocontrole e não contempla questões profundas, como o racismo estrutural da sociedade. “Não adianta não usar Black Friday e não ter lideranças negras ou produtos para o público negro”, diz a pesquisadora.

Por fim, “não há um consenso sobre o termo Black Friday”, observa a presidente do PretaHub, Adriana Barbosa. “São discussões sem embasamento teórico, sem estudo e, às vezes, as empresas usam a questão racial e relativizam sem se aprofundar no que significa ou se apropriam e trazem polêmica junto”, observa.

Origem da expressão Black Friday

A Black Friday teve origem nos Estados Unidos e hoje é adotada em vários países do mundo, como o Brasil. Embora esteja hoje associado ao maior dia de compras do ano para os americanos, o termo (“Sexta-Feira Negra”, na tradução para o português) se referia originalmente a eventos muito diferentes.

“O adjetivo negro foi usado durante muitos séculos para retratar diversos tipos de calamidades”, afirma o linguista Benjamin Zimmer, editor-executivo do site Vocabulary.com.

A primeira vez que o termo foi usado nos EUA foi no dia 24 de setembro de 1869, quando dois especuladores, Jay Gould e James Fisk, tentaram tomar o mercado do ouro na Bolsa de Nova York. Quando o governo foi obrigado a intervir para corrigir a distorção, elevando a oferta da matéria-prima ao mercado, os preços caíram e muitos investidores perderam grandes fortunas, segundo reportagem da BBC.