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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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2015: a [re]construção de um marco civilizatório

O fascismo insurge como força violenta de conquista de espaços e poder a qualquer custo. Revelou-se o que estava bastante camuflado: o conservadorismo extremo de uma sociedade “mal-resolvida”

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Denota-se um novo paradigma histórico-cultural a partir do berço grego da era clássica, sobretudo, quando da mentalidade de [re]formatação crítica com os filósofos mais cunhados nas memórias ocidentais. Trata-se de uma compactação reflexiva do pensamento humano em detrimento da valorização extrema das testosteronas expansionistas de caráter emergencial (alimentos e insumos às sociedades arcaicas), ou poder e dominação (aos egos imperialistas de certos indivíduos de status). Ora, para além das fronteiras em guerras constantes e sanguinárias, derivava-se um modelo político-dialógico, do arroubo da Arte e propensão do Direito com a justa finalidade de sobejar elementos humanistas em nossa condição tão primata e sobrevivente. Pretendeu-se apresentar aí o broto das civilizações em conteúdos evolutivos, cujo centrismo era o ajustamento (convenções, acordos e consensos) nos pressupostos que nos são “naturais” (a disputa, o dissenso, a contenda) de tal forma a possibilitar o mínimo de paz e sossego na partilha dos espaços, das coisas e da ágora.

A Religião e a Ciência, senhoras de tanto do que somos a constituir-nos tão menos instintivos, e tão mais culturais (na soma singela de dois atributos que só a estes animais são concedidos pela Natureza, quais sejam, o Pensamento e a Linguagem), elas foram capazes de nos produzir um pouco melhores, nos concederam novos insumos, tecnologias, valores, equipamentos, sentimentos, percepções. Inferir-nos-á que estas práticas, ao lado da Política constituem o sistema complexo que tenta descomplicar a vida e os entes humanos, e por conseguinte evoluí-los em si mesmos.

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No entanto, em cada espasmo novo da humanidade, a sensação que temos é que tudo isso precisa ser repactuado o tempo inteiro: estamos nos tornando em 2015 menos humanos, e nos parece que tantas eras de evolução tão mais tenha significado involução, sob a força motriz do egoísmo, da [in]capacidade de dialogar fraternalmente por mais de 15 minutos, e do paradoxo do acúmulo, ou seja, empreendemos informações e conteúdos cognitivos tanto quanto trocamos isso por ter coisas (objetos, produtos, poder). Trata-se da cegueira ao desejo de obtenções de bens (consumo exacerbado). Trata-se de retroalimentar nossos desejos íntimos em vãs necessidades. E creio que possamos sintetizar estes três parágrafos num modelo de “Escambo Moderno”, assim sendo, a troca entre humanos de suas capacidades num referencial que atestamos esquizofrênico: ganha-se tanto (na ilusão patética), perdendo-se o básico (a essencialidade da vida).

Citaria três prospectos – para não entretê-los com tantos mundos – que bem denotam este argumento: o que é a Grécia hoje? Sim, a mesma civilização que nos “estarta” a multissetorialidade das ações humanas (assim sendo: protótipos de produção agrícola, modelo econômico, militar e político estratégico, a investigação astronômica, uma organização social invejável, a docência de vanguarda, a Filosofia, enfim, um tanto de tudo), atravessa hoje (2015) um ostracismo quase insignificante; não fosse sua discreta potencialidade para, pasmem!, afundar seus tão poderosos tradicionais quanto, vizinhos europeus. É, porque se imaginarmos que a Grécia era pouco lembrada na geopolítica atual e fez nesses dias atrás a União Européia respirar fundo e amedrontada quando do risco da sua moratória, ou de seu possível desembarque da Zona do Euro, podemos dizer que o vetor helênico veio com tudo [negativamente].

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A Crise Grega da contemporaneidade nos faz observar o quanto o Capitalismo (esse miolo do Escambo Moderno, sua esteira tão volátil e pouco segura) é cruel e tênue. Humanos integralmente reféns de um inimigo invisível que mata, sequestra, domina e destrói com um sorriso demoníaco no rosto de criança convidando-nos à compra do próximo “smartphone” lançado no horário nobre da Tevê. A Grécia em 2015 é símbolo de um Sistema fracassado (gentilmente: esgotado).

Entretanto, este ano também nos faz pensar nos déspotas tardios cuja civilização – irônica – nos presenteou com os séculos. Todas as grandes religiões modernas do Ocidente nascem em berços do Oriente Médio. Senão, vejamos: o Cristianismo (e suas ramificações anglicanas, evangélicas, católicas etc.); o Islamismo (e suas correntes no mundo árabe... no mundo); e o Judaísmo (primeira da reverência ao monoteísmo). Entretanto, é também daquela região que vimos insurgir gente como Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel que se comporta nos moldes tão mais rígidos que César Augusto, imperador romano que dominava o país de Jesus, quando do nascimento do Messias dos cristãos. O “imperador” Netanyahu, com crueldade requintada, destrói qualquer possibilidade de o povo Palestino surgir como civilização (e Estado). Estimula guerras, bombardeia a seu júbilo, regiões em que crianças tentam somente brincar nas ruas. É um desses tipos de chefes de Estado que aperta botões pelo simples prazer de ver sangue jorrar nas ruas e lavar a poeira dos escombros de uma ex-cidade. Um mesquinho, moleque, medíocre... mas com muito poder. E outros tantos são os líderes no mundo árabe (no mundo) a estimular as guerras, sejam regulares, sejam a partir de atos terroristas que amedrontam a semiótica da liberdade tão reivindicada por seus antepassados.

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Não é oportuno nos alongar muito, afinal, este não é um texto de aplainamento historiográfico. É, na verdade, uma sutil reflexão de nosso modo de vida e possibilidades. Destarte, vamos concluir pensando as civilizações emergentes, novas sociedades. Delas, merece um realce o Brasil. Pertencente ao “novo mundo”, o continente Americano, esse Estado foi marcado por longos períodos de autoritarismo. Colonizado por portugueses cruéis que assassinaram milhões de indígenas e negros africanos obtidos na condição de escravos, e degredados que fomentaram parte de sua cultura da obtenção imoral ou ilegal das coisas, o Brasil conseguiu neste fim do último século conquistar uma estabilidade institucional e econômica sem precedentes, fortalecida sobremaneira na primeira década do século XXI por uma política de Justiça Social, de inclusão e redução da desigualdade crônica. Todavia (puxa!), em 2015 margeou o risco de retorno à Era das Trevas.

O fascismo insurge como força violenta de conquista de espaços e poder a qualquer custo. Revelou-se o que estava bastante camuflado: o conservadorismo extremo de uma sociedade “mal-resolvida”. Bandeiras, direitos e conquistas que se avizinharam a custa de dor em anos de luta de nossos avós, agora se esvaem pelos dedos da maneira mais insignificante, em debates na Câmara dos Deputados em que prevalece sempre o autoritarismo, a soberba e a arrogância em detrimento do diálogo e da democracia sinceras. A força é exercida pela Manobra. O ordenamento jurídico factual e objetivo é pouco relevante, e vence o casualismo “perene”. As instituições brincam de desafiar umas às outras numa disputa de Poder e glória extremamente arriscada. Estão por um fio para ver insurgir uma ditadura, seja de Direita, de Esquerda, Militar, ou de outro extremo perigoso.

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A democracia do Brasil, da maior nação latinoamericana, da 7ª economia do mundo, está em completo risco. Não somente pelo eminente processo de impeachment de uma presidente da República eleita sob o crivo do sufrágio do povo, contudo, por dois fatores invisíveis que merecem ressalvas: i) a boçalização dos atos das Instituições que devem/deveriam ter o controle e o equilíbrio sadio das decisões do Estado – cairão em desgraça, irão à esparrela; e ii) o fascismo individual manifesto (com seus tentáculos institucionais e midiáticos) que se revela cada dia mais preconceituoso, cruel e capaz de revisar o comportamento e a liberdade dos brasileiros, assim convencionando socialmente um modus operandi de vida e civilização bastante atrasada, retrógrada.  É bom você anotar isso: a DEMOCRACIA brasileira está se amarrando por completa num casulo de arames farpados que lhe presentearão somente o olhar em 360° para perceber suas próprias vergonhas diante o Planeta inteiro.

Dito isso acerca destes três espectros regionais do Globo Terrestre, podemos concluir que o ano de 2015 é um ano perdido. Ora bolas! Claro que não! Trata-se de uma temporada analítica. É o momento em que nós, como seres dotados de crítica e faculdade intelectiva, podemos repensar nosso modo de vida. A partir destes três lugares que citamos acima, influenciados por outros países, inter-relacionados e intimidados na geopolítica global, servem integralmente à observância de todo o Planeta, e temos o dever de [re]construir um novo marco civilizatório com vistas à sincera relação entre os seres com atitudes de ressonância humanista. Essa é a proposta para reiniciarmos a humanidade em 2016, fazendo do ano vindouro um divisor de águas de nossa condição evolutiva. Ou isso, ou sucumbiremos todos muito em breve na nossa arrogância, soberba, egoísmo e cretinice...

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