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Alex Solnik

Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)

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“A Abril já teve mais funcionários que o Pão de Açúcar”

E foi vendida por 1 real, diz o presidente da ABI

Octávio Costa (Foto: Reprodução)

No programa “Cessar-fogo”, transmitido sexta-feira, dia 24, às 21h00, na TV 247 e disponível na plataforma da TV 247, perguntei ao jornalista Octávio Costa, presidente da ABI, se o jornalismo impresso está com os dias contados no Brasil. 

E ele respondeu:

“Eu estava vendo esta semana fotos da Editora Abril. Abandonada. Postaram no youtube. Aquele prédio magnífico da Marginal Tietê completamente abandonado. Completamente destruído. Eu trabalhei quatorze anos na Editora Abril. Oito na Veja. Seis na Exame. A Editora Abril chegou a ter mais funcionários que o Pão de Açúcar! A Abril chegou a ter quatro mil funcionários! Com aquelas revistas poderosíssimas. Veja. Exame, Claudia. As chamadas femininas da Abril. Que eram fortíssimas! E aquilo acabou. 

A Bloch também. Uma editora importantíssima. Pais&Filhos. Manchete. Ele&Ela. Acabou. Um dia os funcionários chegaram para trabalhar. Tinha um cadeado na porta. Um prédio no Largo do Russel, no Rio, projeto de Niemeyer, um prédio belíssimo. Tinha um cadeado na porta. 

A gráfica, em Parada de Lucas, tinha mais de mil gráficos. Cadeado na porta. Acabou a Editora Bloch. Isso nós estamos falando de 1998. Final de 1998. O Jornal do Brasil acabou. O grande Jornal do Brasil, que disputava o mercado com o Globo, até, vamos dizer, as pessoas mais progressistas, mais liberais, liam o Jornal do Brasil e não O Globo, as pessoas de esquerda, no Rio, liam o Jornal do Brasil e não O Globo. Acabou o Jornal do Brasil. E por aí vai. Os Diários Associados do Rio de Janeiro que tinham o Jornal do Commercio. Acabou. Os Diários Associados, do Assis Chateaubriand. Por que a Abril acabou? A Abril foi vendida por 1 real. Me perguntam porque a Abril acabou. 

Eu digo: olha, a meu ver há uma grande incompetência nessa história toda. Não é que as pessoas não lêem revistas. A Veja, até hoje - a Veja não tem mais nada a ver com a Editora Abril, pertence a um empresário, tinha sido o dono da Casa&Vídeo, hoje eu nem sei mais quem é o proprietário - mas a Veja continua aí, ainda tem uma tiragem. 

A IstoÉ acabou. Trabalhei na IstoÉ vários anos. Trabalhei quase dez anos na IstoÉ. Acabou no ano passado. Eu peguei a Editora Abril dirigida pelo Victor Civita. Eu e você já pegamos a Manchete com o Catito (ou Jaquito), sobrinho do Adolpho Bloch, que construiu aquele império. A Abril foi o Victor Civita. O Jornal do Brasil foi a Condessa Pereira Carneiro. Teve o genro da Condessa, o Nascimento Brito, mas o fato é que essas pessoas não foram substituídas no mesmo nível. E essas empresas todas entraram em crise. E com isso a gente tem esse fenômeno no Brasil: o jornalismo impresso está quase acabando, quase no fim”.

Novos trechos da entrevista de Octávio Costa ao programa “Cessar-fogo” serão publicados nas próximas horas.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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