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Fernando Capotondo

Jornalista argentino. Chefe de redação da revista Contraeditorial e diretor do site cultural Llibres

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A China tem todos os números para apostar em Xinjiang

No 70º aniversário da região autônoma uigur, Pequim publicou “livro branco” com últimos dados sobre investimentos, infraestrutura e desenvolvimento

A diretriz de Xi Jinping e a construção de uma Xinjiang socialista moderna (Foto: Xinhua)

Xinjiang recebeu mais de 560 bilhões de dólares do governo central chinês nas últimas duas décadas e destinou mais de 70% de seu orçamento à subsistência de seus 56 grupos étnicos, o que permitiu que mais de 3 milhões de camponeses saíssem da pobreza apenas em 2020 e que a expectativa de vida aumentasse de 30 anos em 1949 para 77 anos em 2024, entre outros avanços. A dimensão dos dados – divulgados esta semana em um “livro branco” – reflete a imagem de unidade, diversidade e prosperidade que a República Popular da China busca projetar na comemoração do 70º aniversário da fundação da região autônoma uigur, um cenário que o Ocidente costuma observar por meio de uma complexa mistura de denúncias cruzadas, condicionamentos ideológicos e desconhecimento.

“Devemos construir uma Xinjiang socialista moderna, caracterizada pela unidade, pelo bem-estar material, pelo progresso cultural e por um ambiente ecológico sólido, onde as pessoas vivam e trabalhem em paz”, resumiu o presidente Xi Jinping a partir da capital Urumqi, onde nesta semana se encontrou com membros das etnias locais e representantes da sociedade civil, entre outros setores.

Em seus discursos, Xi pediu um novo impulso à Rota da Seda Econômica e melhorias na qualidade de vida de uma região cujo Produto Interno Bruto (PIB) cresceu em média 7% ao ano desde 2012, superando pela primeira vez, em 2024, a marca de 2 trilhões de yuans (cerca de 281,4 bilhões de dólares), segundo dados oficiais.

De forma enfática, o presidente chinês também destacou a necessidade de “fazer todos os esforços para manter a estabilidade social em Xinjiang, elevando a consciência e a preparação das pessoas para a luta contra o terrorismo e a preservação da ordem”.

Para contextualizar as palavras de Xi, o jornalista e escritor argentino Gustavo NG explicou que em Xinjiang “atuam forças separatistas que no início do século causaram instabilidade com atos terroristas”, e nesse cenário “a China teve de enfrentar a bomba de propaganda criada pelos Estados Unidos, que exploraram as ações antiterroristas do governo para acusá-lo de violações aos direitos humanos”.

“Criaram uma narrativa para demonizar a China com disparates sem qualquer fundamento”, analisou o codiretor da revista DangDai, que está finalizando um livro sobre a evolução de Xinjiang a partir de suas experiências no território em 2015 e 2025.

O livro branco

“Nos últimos 10 anos, a aposta no desenvolvimento foi descomunal”, sintetizou NG ao destacar como a redistribuição da riqueza erradicou a pobreza extrema, aumentou o emprego e a renda, e ampliou o acesso à educação, à saúde e à moradia. Uma realidade quase utópica, quando vista de fora.

A essência desse processo em Xinjiang pôde ser conhecida esta semana com a publicação de um “livro branco”, como são chamados na China os extensos relatórios que o governo divulga para detalhar políticas e conquistas em diversas áreas. Segundo o documento oficial, a região autônoma uigur vive o melhor período de desenvolvimento de sua história, com resultados como:

  •  Mais de 19.000 instituições de saúde em funcionamento.
  •  Taxa de conclusão da educação obrigatória acima de 99%, superior à média nacional; existe um jardim de infância para cada 106 crianças e uma escola primária para cada 817 alunos.
  •  A renda per capita dobrou em 10 anos, chegando a 42.800 yuans (US$ 6.000) nas áreas urbanas; nas zonas rurais, cresceu 60%, alcançando 19.400 yuans (US$ 2.720).
  •  A malha ferroviária passou de 4.914 km em 2012 para 9.202 km em 2024.
  •  A rede rodoviária cresceu de 165.900 km em 2012 para 230.000 km em 2024.
  •  O número de rotas aéreas civis atingiu 595, sendo 25 internacionais, conectando 17 países e regiões.
  •  Todos os distritos estão conectados por fibra óptica de 1.000 Mbps, as cidades contam com redes 5G e as aldeias com banda larga.
  •  O combate à desertificação avançou a ponto de o deserto de Taklimakan estar hoje totalmente cercado por um cinturão verde de 3.046 km, o mais longo do mundo.
  •  A cobertura florestal aumentou de 4,24% em 2012 para 5,07% em 2024; as áreas de oásis cresceram 56,6% nos últimos 30 anos.
  •  Xinjiang mantém-se há 32 anos consecutivos como maior produtora de algodão da China, com taxa de mecanização de 97%.
  •  Desde 2012, o governo central destinou mais de 200 bilhões de yuans (US$ 28 bilhões) em fundos de assistência, garantiu 3 trilhões de yuans (US$ 420 bilhões) em investimentos de cooperação econômica e atraiu mais de 15.000 empresas para a região.
  •  Funcionam 195 instituições de preservação do patrimônio cultural, 15 museus e 9.545 relíquias culturais imóveis, das quais 6 são Patrimônio Cultural Mundial.
  •  O comércio exterior atingiu 435,11 bilhões de yuans (US$ 61 bilhões) em 2024, com crescimento anual de 21,8%. Os trens de carga China-Europa operam em 23 rotas, ligando 26 cidades de 19 países.
  •  A região recebeu 302 milhões de turistas em 2024, e o índice de satisfação com a segurança pública chegou a 99,42%, evidenciando um ambiente seguro e estável.

“Um sonho pode ser alcançado desde que seja perseguido. Um objetivo é possível desde que se trabalhe por ele”. Não são aforismos, mas as conclusões do “livro branco” sobre Xinjiang.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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