TV 247 logo
      Oliveiros Marques avatar

      Oliveiros Marques

      Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

      59 artigos

      HOME > blog

      A conjuração brasileira

      A elite pode até resistir, como sempre fez. Mas o Brasil que trabalha, que consome, que empreende, produz e sustenta a economia nacional está pronto para lutar

      Sanção da reforma tributária - 16/01/2025 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

      Comemoramos o 21 de abril, inclusive com direito a um feriado, como uma imposição das elites republicanas brasileiras em construir em nosso imaginário a existência de um herói da independência, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Elites essas que patrocinaram a “independência” da província das Minas Gerais apenas com o propósito de não pagarem impostos ao Império. Ou seja, uma conjugação de interesses dos ricos a favor da sonegação, e não da justiça social ou de um projeto nacional efetivamente.

      Mais de dois séculos depois, o Brasil está diante da oportunidade de realizar uma verdadeira inconfidência – não contra a Coroa portuguesa, mas contra um sistema tributário que penaliza justamente quem menos tem. O projeto do governo Lula que propõe isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais e, ao mesmo tempo, amplia a taxação sobre os super-ricos, marca um divisor de águas na estrutura fiscal do país.

      É um passo simples, direto e simbólico: quem ganha pouco deixa de pagar. Quem ganha muito, paga mais. Pela primeira vez em muito tempo, o sistema começa a se mover em direção à progressividade. Não se trata de um capricho, mas de uma correção histórica. Em nenhum lugar do mundo minimamente desenvolvido e justo, alguém que recebe um salário médio é tributado da mesma forma — ou até mais — do que alguém que vive de lucros, dividendos ou heranças milionárias.

      A proposta é, ao mesmo tempo, socialmente justa e eleitoralmente poderosa. Ao aliviar o peso tributário da classe média baixa e de trabalhadores e trabalhadoras, o governo dialoga com parcela significativa dos brasileiros — aqueles que sentem no bolso, mês a mês, a carga dos impostos sobre a renda e o consumo. São milhões de pessoas que, agora, poderão respirar um pouco mais aliviadas. E que, se bem trabalhada a mensagem, poderão se abrir a um novo diálogo ou a uma reaproximação com Lula. O reconhecimento, nas urnas, de que teve coragem de tocar num tema que muitos governos preferiram ignorar para não desagradar o andar de cima, pode vir.

      Naturalmente, surgem as críticas das mesmas elites que, desde o tempo de Tiradentes, tentam moldar o país aos seus próprios interesses. Dizem que é populismo. Que é inviável. Que vai “espantar investidores”. O que eles não dizem — e isso precisa ser dito — é que a conta da injustiça fiscal sempre foi paga pelos de baixo, enquanto os de cima seguiam acumulando isenções, privilégios e blindagens.

      A conjuração brasileira de hoje é, enfim, uma insurreição contra esse modelo desigual. Um projeto que redistribui o peso da carga tributária e aponta para um futuro em que a justiça fiscal não é um sonho distante, mas uma política concreta. A elite pode até resistir — como sempre fez. Mas o Brasil que trabalha, que consome, que empreende, produz e sustenta a economia nacional está pronto para lutar. Desta vez, pelo direito de pagar menos. Ou melhor: pelo direito de pagar justo.

      Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Relacionados