A democracia veste farda
Venezuela vem resistindo a golpes, pilhagens financeiras e bloqueios comerciais
A ofensiva imperialista mundial posta em curso pelo atual governo estadunidense desenterrou o Plano Colômbia de combate às drogas na América Latina e Caribe e foi para cima da Venezuela com força naval fundeada ao Sul de águas internacionais do mar que banha o país caribenho. Não sem antes carimbar o presidente venezuelano de narcotraficante-chefe de Cartel e oferecer recompensa de 50 milhões de dólares pela captura do mandatário bolivariano.
O cerco à Venezuela torna oportuno lembrar o plano que há 25 anos deu carta-branca aos Estados Unidos para intervir nos países latino-americanos e caribenhos em nome da garantia da sua segurança interna que estaria ameaçada pelo tráfico e consumo de drogas, declarados ‘inimigo público número um do país’ em 1970 pelo então presidente Richard Nixon. Como o imaginário da conquista do oeste persiste na crença do que é bom ou ruim para os Estados Unidos se aplica a todo resto, o que não é bom para os Estados Unidos não é bom para ninguém, e aí é que entra a Venezuela, ou melhor, a República Bolivariana da Venezuela.
Com a eleição do presidente Hugo Chávez, a expulsão do Departamento de Estado em 2005, e a Constituição de 1999 promulgada em 2009, o território venezuelano deixou de ser quintal estadunidense e assumiu seu lugar de soberana República Bolivariana da Venezuela, a mais forte, consolidada e protagônica democracia direta e popular da América Latina e Caribe.
Desde então o país vem resistindo a golpes, pilhagens financeiras e bloqueios comerciais. Agora, com os equipados navios contratorpedeiros e um submarino nuclear nas suas costas, o governo bolivariano emitiu nessa quarta-feira, dia 19, comunicado oficial de 22 linhas advertindo que “estas ameaças não só afetam a Venezuela, mas põem em risco a paz e estabilidade de toda a região, incluindo a Zona de Paz declarada pela CELAC, espaço que promove a soberania e a cooperação entre os povos latino-americanos”. O comunicado considerou, ainda, que “cada declaração agressiva confirma a incapacidade do imperialismo para submeter um povo livre e soberano”, e informou que “o povo de Bolivar e Chávez seguirá vencendo qualquer intento de intervenção” porque “Venezuela é farol de dignidade, resistência e segurança para a América Latina e o mundo”.
A certeza manifesta no documento está ancorada no legado deixado pelo tenente-coronel Hugo Chávez, reconhecido pela Força Armada Bolivariana da Venezuela como comandante eterno e falecido ainda durante seu mandato na presidência. Chávez convocou o povo, as forças armadas e a polícia para juntos construírem e governarem a nova República tão sonhada por Simon Bolivar, o militar que lutou pela independência do continente do domínio espanhol.
Chávez dizia que a República Bolivariana era um país de paz com o povo armado. Há 17 anos o corpo civil de voluntários recebe treinamento militar com a missão de manter a segurança interna, defender a revolução e apoiar as Forças Armadas. Para fazer frente à atual intimidação, o governo de Nicolas Maduro convocou 4 mil integrantes das Milicias Populares dispostos a barrar os 4 mil soldados embarcados na esquadra estadunidense, entre fuzileiros e marinheiros.
A Força Armada Nacional Bolivariana, por sua vez, está de prontidão. Para que não restasse dúvida, o general de quatro estrelas e Ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, se dirigiu à nação no dia seguinte ao que o presidente Nicolas Maduro passou a ser classificado como narcotraficante, a razão de Estado dada pelo império para justificar uma desejada invasão. No pronunciamento de 29 minutos e 39 segundos, Vladimir Padrino disse que desde a expulsão do Departamento de Estado foi reduzido o trânsito de drogas em território bolivariano. Em 2012 foram interceptadas 398 aeronaves com base na Lei de Controle do Espaço Aéreo, neste ano de 2025 foram destruídas pistas clandestinas e laboratórios instalados nas fronteiras, e o governo apreendeu mais de 51 toneladas de drogas.
“Não descansaremos e desmontaremos as narrativas que utiliza o EUA como arma política”, disse Padrino. A seguir, os últimos parágrafos do pronunciamento:
“Queremos deixar claro ao imperialismo que Nicolas Maduro Moro é o presidente constitucional da República Bolivariana da Venezuela e nosso comandante em chefe, que exerce a máxima autoridade hierárquica da instituição de acordo com o contemplado na Constituição da República Bolivariana da Venezuela e, além disso, é seu líder revolucionário que ganhou o afeto da instituição. Com profundo conhecimento da mesma e exemplo permanente do cumprimento dos princípios que nos caracterizam como o amor pátrio, a abnegação ao trabalho, a disciplina, a honestidade, e total entrega à defesa dos mais elevados interesses do povo da Venezuela”.
“Assim mesmo, devem saber que a Força Armada Nacional Bolivariana não é uma organização de mercenários. A dignidade e a honra militar são valores imponderáveis que herdamos de nossa estirpe libertária. Não somos chantageáveis e não aceitaremos insolentes ultimatos, nem de potencias estrangeiras e de potencias que ressurgem hoje em dia neste processo de cambio internacional”.
“Ratificamos, em consequência, lealdade absoluta e apoio irrestrito ao nosso comandante em chefe cuja integridade defenderemos ante qualquer ameaça interna ou externa”.
“Finalmente nos declaramos em alerta permanente para enfrentar, combater e neutralizar qualquer ação que atente contra a estabilidade e a paz dos cidadãos, assim como a salvaguarda do território. Continuaremos defendendo em perfeita fusão popular, militar e policial, até com a própria vida, se necessário, a liberdade, independência e soberania desta amada pátria. Como afirmou nosso libertador Simon Bolivar, em 7 de outubro de 1818, “dá no mesmo para a Venezuela combater contra a Espanha e contra o mundo inteiro se todo o mundo a ofende”.
“Não sejam torpes, não sejam torpes. Não se equivoquem com Venezuela. Chávez vive. A pátria livre. Independência e pátria socialista. O sol da Venezuela nasce em Essequibo. Leais sempre. Venceremos”, finalizou o general.
Dizem estudiosos que o caráter das forças armadas bolivarianas vem do fato de não terem sido formadas para invadir, mas para libertar os seus do jugo colonialista. Faz sentido.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




