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Paulo Guedes

Deputado federal em segundo mandato e ex-presidente da Comissão de Tributação e Finanças da Câmara dos Deputados. Exerceu três mandatos na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (2007-2019). Exerceu ainda o cargo de coordenador estadual do Dnocs (2003) e secretário de Desenvolvimento e Integração do Norte e Nordeste de Minas Gerais (2015)

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A difícil travessia rumo a 2027

Entre a pressão do mercado e o desafio da governabilidade, o governo aposta na economia real e na inclusão social para atravessar o ciclo político até 2027

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a 13ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos. Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB) – Brasília (DF) (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Estamos na antessala do ano eleitoral, que não será somente mais um marco no calendário político do país; será um importante teste de estresse para as estruturas políticas que o presidente Lula e o PT ergueram em 2022.

À medida que nos preparamos para a longa travessia até 2027, é preciso encarar o cenário com a sobriedade que o momento exige, despindo-nos das ilusões de que o consenso democrático de outrora será suficiente para garantir a governabilidade futura.

Nesse contexto, ganha urgência a necessidade de reflexão honesta sobre o chão que pisamos. A euforia do arranjo que nos colocou novamente no leme do país ficou para trás. O que se impõe agora são os desafios da governabilidade ante as animosidades que enfrentamos no Parlamento.

Somado ao cenário de tensão escalada entre os Poderes, enfrentamos o persistente e, muitas vezes, irracional mau humor do mercado financeiro. Vejo com preocupação a desconexão entre a Faria Lima e o Brasil real. Na busca obsessiva por influenciar a escolha de um presidente para chamar de seu, o mercado e seus agentes criam falsa histeria especulativa e deliberadamente ignoram os fundamentos sólidos que o governo do presidente Lula construiu ao longo dos últimos três anos.

É aqui que precisamos ser enfáticos: os dados recorrentes da economia real em nosso governo desmentem o pessimismo que a turma da Faria Lima e a extrema direita tentam difundir nas redes sociais.

Felizmente, contra essa insistente retórica do fracasso, temos vigorosa colheita de fatos para mostrar. Contra os repetidos argumentos de que o país quebraria, o que se tem é um PIB que surpreende consistentemente acima das projeções. Diziam que o emprego sumiria. No Brasil real, alheio à torcida contra dos mercados, batemos recordes de carteira assinada e massa salarial em crescimento. Não é sorte, é acerto e persistência na direção escolhida.

O governo federal tomou a decisão corajosa de colocar dinheiro na mão de quem consome e produz. A correção da tabela do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil não é apenas medida de justiça tributária; é injeção de renda direta na veia da economia local. É o trabalhador que volta a comprar, girando a roda do comércio.

Simultaneamente, programas voltados à mobilidade social, como a Tarifa Social de Energia Elétrica e a vigorosa retomada do Minha Casa, Minha Vida, atacam gargalos históricos. Estamos devolvendo dignidade e capacidade de planejamento às famílias. Isso é política econômica na prática, muito mais valiosa que qualquer nota de rodapé de agência de risco.

Meu mandato representa majoritariamente o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha, duas das regiões mais pobres do país. Sou testemunha da revolução que um governo de matriz social reverte para os pobres deste país. Programas como o Pé-de-Meia e o Luz para Todos, além da expansão das universidades e dos institutos federais, abrem portas para a emancipação de populações historicamente relegadas ao esquecimento.

Não obstante a imensa lista de conquistas, precisamos evitar as armadilhas do algoritmo que lucra com o ódio e a estratégia enganadora da oposição que aposta no quanto pior, melhor.

Olhar para os invisíveis

O grande diferencial dos mandatos do PT é a dedicação do olhar do Estado para os que antes eram invisíveis. O presidente Pepe Mujica dizia que governar é escolher prioridades. Nós escolhemos colocar o pobre no orçamento e a classe média na pauta de desoneração. Nesse sentido, posso dizer que somos mandatados para cuidar do povo nos cargos executivos e parlamentares para os quais nos elegemos em todos os níveis.

Muito em razão disso, pela reação dos que não assimilam nosso jeito de fazer política, a estrada que leva a 2027 demanda o cuidado de evitar radicalismos estéreis, que nos indisponham com as forças do centro democrático. Esse campo será fundamental para a empreitada presidencial, mas também para a formação de um Congresso menos sectário e, de outro lado, mais receptivo às nossas propostas de governo.

Tampouco podemos nos acovardar diante da chantagem do rentismo improdutivo. A meu juízo, o caminho para o Lula IV não está no retrovisor da frente antifascismo de 2022, muito embora esse risco ainda paire no ar como ameaça recorrente, mas na capacidade de traduzir para a população a safra de bons números da economia e os programas sociais da nossa gestão.

Vamos enfatizar em cada ação a sensação de bem-estar na mesa do brasileiro como antídoto para as nuvens carregadas que a oposição e o mercado querem colar no horizonte do país. A tentativa de reviver a polarização que não se sustenta encontrará muro intransponível: a realidade de um país que voltou a crescer.

O barulho político tentará ofuscar nossas conquistas. Mas, se mantivermos o foco na economia real, na geração de emprego e na proteção da renda — como temos feito com a isenção do IR e os programas sociais —, chegaremos ao outro lado não apenas com a democracia salva, mas com um país de esperanças renovadas. Menos ruído e foco no trabalho. É assim que se vence.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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