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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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A direita está de volta e Lula não é eterno

Vamos perder 2024 e 2026 se os partidos de esquerda não voltarem a buscar conexão orgânica com a sociedade

Atos terroristas de bolsonaristas contra as sedes dos Três Poderes, em Brasília - 08.01.2023 (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Em 2014 escrevi no portal Vermelho: “...a direita está de volta? Será que Bolsonaro (que sempre considerei uma caricatura patética de uma direita reacionária e praticamente extinta) representa de fato muitos bolsonaros? Será que há muitos bolsonaros no Brasil?[1], fui chamado de pessimista, de delirante.

O fato é que a esquerda vem sofrendo derrotas desde 2014 porque esqueceu como se faz política; aprendemos a disputar eleições, mas esquecemos como se faz política, perdemos a conexão com a sociedade e a direita estabeleceu conexão, tanto que tiveram 49% dos votos em 2022, apesar do caos que Bolsonaro representou para o Brasil.

Em 2014 a votação expressiva de Aécio Neves em São Paulo - quase 11 milhões de votos, contra pouco mais de 5 milhões de votos dados à então presidente Dilma -, determinou a diminuição significativa da bancada de centro-esquerda na Câmara dos Deputados, perdemos uma cadeira no Senado e cadeiras na Assembleia Legislativa.

O resultado foi um sinal de alerta, mas foi solenemente ignorado pela soberba tão própria daqueles que se julgam monopolistas da virtude.

De lá para cá muita coisa aconteceu: (a) consolidou-se o fato de a classe média paulista e paulistana não reconhecer o PT como o partido que a represente, (b) além disso, PcdoB, PDT, PSOL, PCB, REDE, PV não têm relevância eleitoral e (c) o PSB busca espaço de desenvolvimento sem que o hegemonismo do PT o sufoque. 

Estou exagerando? Pode ser, mas a eleição de Alckimin e Márcio Franca em 2014, no primeiro turno, com 58% dos votos, é representativo disso, assim como é representativo um quadro do tamanho de Padilha ter menos votos que um “zé” como Paulo Skaf.

Os analistas do nosso campo à época buscavam razões e justificativas para a pequena margem de votos que garantiu a vitória de Dilma no segundo turno de 2014, contudo, faltou honestidade e humildade para reconhecer que as coisas não iam bem. 

Não devem ser ignoradas as marchas de junho de 2013, nem o que aconteceu depois: a Lava-Jato, contudo, foi 2014 que nos levou ao golpe de 2016; à derrota acachapante de candidatos de centro-esquerda em todo o estado de São Paulo em 2016; à prisão de Lula e à eleição de um populista de extrema-direita em 2018.

A direita e a extrema direita estão disputando espaços de ação que há dez anos eles sequer tinham coragem de “mostrar a cara” e a inegável da ampliação da direita e extrema-direita nos municípios paulistas em 2020 são a prova disso.

Os nossos líderes não foram capazes de combater de verdade a corrupção estrutural e não tiveram humildade para falar sobre isso conosco. Já podemos falar sobre isso?

A crise política, que teve início em 2013, por mais que tenha sido fomentada e amplificada por setores da imprensa e financiada por grupos e interesse, tornou-se real e seus efeitos estão aí até.

Já podemos falar sobre a incapacidade de diversos agentes públicos -que gozavam da confiança de Lula e Dilma -, em desconstruir feudos de malfeitos? Já podemos falar que muitos dos nossos participaram da porcaria toda, que foram cooptados para “o lado sombrio da força”?

Inegável que o PT, que hegemonizou um processo novo na política brasileira e que fez, entre 2003 e 2014, o que se espera de um governo social-democrata inserido num mundo liberal, acabou se tornando um partido igual a todos os outros e, pior, sufoca e desqualifica os demais partidos do campo e seus quadros que não aderem integralmente às suas pautas.

Estou mal-humorado? Sim, muito mal-humorado, pois não quero ver mais um “gerentezinho” de empresa pública, ter e manter milhões de dólares numa conta no Principado de Mônaco, ou um “diretorzinho” manter “seus” milhões em conta da Suíça, como aconteceu em relação à Petrobrás. 

O PT, PSB, PCdoB, PCB, REDE, PDT, e todos os demais partidos do centro para a esquerda, perderam a conexão orgânica com os movimentos sociais legítimos e com os setores produtivos éticos e, data vênia, não vejo sinais de que isso vai mudar; esses partidos renunciaram ao processo político, tornaram-se máquinas de disputar eleições, apenas isso. 

Sem enfrentarmos esse debate não vamos recuperar a bandeira da a moralidade; sem criticar o “vale tudo” em nome da governabilidade o que diferencia o nosso discurso em relação ao do centrão? 

O que os partidos estão fazendo hoje, além de formar as chapas parta disputar as eleições em 2024? Não sou ingênuo, sei que precisamos vencer eleições, que precisamos de votos nas câmaras, nas assembleias e no congresso, que precisamos de governabilidade, mas e a política?

Ou nos reaproximamos da sociedade ou a extrema-direita voltará em 2026, com ou sem Lula.  

Lula liderou uma frente e venceu Bolsonaro, mas a vitória foi por pequeníssima margem de votos e vamos perder 2024 e 2026 se os partidos de esquerda não voltarem a buscar conexão orgânica com a sociedade. 

Partidos e seus dirigentes sem conexão orgânico com a sociedade são como os dirigentes soviéticos, porta-vozes da burocracia, líderes de ninguém e, para manutenção de seus privilégios são capazes de “fazer o diabo”. 

Foi o distanciamento entre a sociedade e o PCUS que lançou as sementes da perestroika, por isso, passou da hora dos ministros de Lula mostrarem: (a) como encontraram sua área; (b) o que foi feito de verdade até 30 de setembro e (c) o que será feito até 31 de dezembro de 2030, pois, se os partidos não fizerem política e se os ministros não “mostrarem serviço” o governo Lula terminará em 31/12/2026.

 É isso que eu penso. 

 [1] https://www.vermelho.org.br/2014/12/12/pedro-maciel-neto-a-direita-esta-de-volta/

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.