A direita se movimenta, e nós?
A pesquisa revela a força da polarização política e a fragilidade da organização formativa dos partidos de esquerda diante do avanço estruturado da direita
O PT segue como o partido preferido dos brasileiros, citado por 24% dos entrevistados, feito que mantém desde o final da década de 1990. O PT é um partido de práxis social-liberal ou social-democrata e discurso um pouco mais à esquerda — apenas discurso.
Ao longo de toda a série histórica do Datafolha, iniciada em 1989, o PT só perdeu a liderança da preferência partidária para o então PMDB, hoje MDB, no início da década de 1990. Desde o final dos anos 1990, o PT ocupa de forma ininterrupta a primeira posição.
O PL vem em segundo lugar, com 12%.
O MDB, que foi o terceiro colocado, registrou 2% da preferência do eleitorado.
Quem fez a pesquisa foi o Datafolha.
Contudo, 46% dos brasileiros dizem não ter preferência por nenhum partido político.
Paradoxalmente, o levantamento do Datafolha reforça o cenário de polarização política, pois — apesar de 46% não se identificarem com nenhum partido — 74% dos brasileiros se identificam com algum dos dois campos políticos que dominam o cenário nacional: 40% se alinham ao grupo associado ao PT, enquanto 34% se identificam com o campo político ligado a Bolsonaro.
Partidos tradicionais como o PSDB, que já chegou a figurar como principal oposição ao PT, perderam espaço ao longo dos anos, especialmente após o auge registrado em 2015, durante os protestos contra o governo Dilma Rousseff.
Todos os outros partidos, quer se apresentem de esquerda, centro ou de direita, têm apenas 16% da preferência do eleitorado (o meu PSB tem muito a caminhar ainda).
Isso é uma tragédia, pois, apesar da vitória de Lula em 2022, apesar da “folha de serviços” prestados pelos partidos chamados “de esquerda” desde a redemocratização, a direita cresceu muito e hoje tem um partido que atrai todos aqueles que se reconhecem de direita, seja porque são bilionários, seja porque lhes falta consciência de classe.
Continuo com a minha cantilena: (i) enquanto partidos de esquerda priorizarem as próximas eleições, em vez da militância política formativa; (ii) enquanto “mandatos” forem mais importantes que o partido; (iii) enquanto as fundações dos partidos de esquerda não passarem à vanguarda formativa da política, estaremos apenas jogando o jogo da direita, um jogo que eles inventaram e cujo campeonato eles sempre ganham.
A direita se movimenta, no Brasil e internacionalmente; enquanto isso, nós seguimos tristemente institucionalizados, imaginando que Lula e o governo resolverão tudo, o que não é verdade.
São comentários e reflexões sobre a pesquisa.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

