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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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A greve dos caminhoneiros e o modelo de desenvolvimento do Brasil

É inadmissível que numa nação desenvolvida, o formato logístico para servir a todo o continente gigantesco do País, seja por rodovias. Obviamente, isso é repassado ao consumidor, o cidadão comum, ao final de um ciclo

A greve dos caminhoneiros e o modelo de desenvolvimento do Brasil
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Em primeiro plano: parabéns aos caminhoneiros autônomos – que tiveram a coragem de ficar dias sem o “ganha pão” para servir ao seu País –, e aos trabalhadores do setor de transportes, os motoristas que, sabendo todos nós que boa parte estava ali em virtude da ordem de seus patrões: os donos das empresas, mesmo assim fizeram o enfrentamento de uma questão cara ao Brasil: o Custo-Brasil [1].

Em segundo plano, essa greve nos revela todo um conjunto de acepções. Tem por simetria um caráter simbólico; a provar que, quando os trabalhadores se unem de fato, nada é capaz de deter a mudança do paradigma civilizatório. A sociedade só se transforma (para melhor) quando encara os desafios (o sistema, os patrões, a classe dominante) inerentes aos processos de poder.

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Todavia, como homenagens estes trabalhadores receberão para todo o curso da História por este intento: a “revolta dos caminhoneiros”, furtar-me-ei de centralizar o texto nesta obviedade, e partirei para outro aspecto que restou claro com esta útil greve da categoria.

Trata-se de ver o movimento – também – como um evento a desnudar os riscos da paralisia do Brasil por fatores inerentes aos processos do Mercado. Neste caso, em específico, deve trazer novo funil ao elemento da economia [ex]posto nesta guerra dos 7 dias que esmaece/u o Brasil. Um, o modal exclusivo de transporte de cargas nesse País, qual seja, o transporte rodoviário; e, dois, a interdependência energética para mobilidade nesse território pátrio: o petróleo.

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Ora, é inadmissível que numa nação desenvolvida (no caso do Brasil, em beiras de conquistar este status), o formato logístico para servir a todo o continente gigantesco do País, seja por rodovias. A priori, devido o custo da malha asfáltica, de sua manutenção periódica, os riscos da estrada (acidentes, roubos, incidentes e todo tipo de violência possível), os pedágios, o custo de combustível, a exaustão e condições de trabalho do profissional dos transportes etc., que tornam ainda mais vulnerável esse modal. Obviamente, isso é repassado ao consumidor, o cidadão comum, ao final de um ciclo[2].

Num país com as dimensões do Brasil e tendo tão favoráveis condições de intermodalizar os transportes, não é razoável depender [quase] 100% de rodovias. Senão, vejamos. Por que os investimentos em transportes de carga, i) aérea (por aviões), ii) hidroviária (por navios, e, pasmem, vários rios brasileiros são navegáveis para barcos gigantes), iii) ferroviária (por trens) não saem do papel [3]? Por que o governo não aporta o desenvolvimento estratégico nacional em transportes intermodais? Se estes tipos de transporte são, em grande medida, ora mais baratos os seus custos de operação (trem e barco), ora mais ágeis (avião), proporcionais à demanda de carga, por que os utilizamos tão pouco?

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Respondo: pela força do lobby das empresas. Tanto as de transportes rodoviários, impérios que conquistaram o mercado desde sempre no País, como também as grandes construtoras, que ganham mais fazendo manutenções permanentes nas estradas, além de alimentarem o caixa da corrupção, haja vista que nossa malha asfáltica é uma das piores do mundo exatamente porque o dinheiro de “x” centímetros de insumo, metade vai para o asfalto, e a outra metade fica nas malas do Geddel Vieira Lima e seus amigos (“x/2”) políticos. Nunca é demais lembrar que estas empresas elegem seus deputados e senadores para lhes proteger no Congresso.

Além disso, a força das petroleiras (Shell, Chevron etc.) que estão entre as maiores dominadoras da economia global. Tanto que patrocinam guerras em países onde as reservas de petróleo são imensas (ver situação do Iraque, da Síria etc., e os golpes que estão sofrendo Brasil e Venezuela).

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Numa ilustração de grosso modo, atualmente são 20 mil caminhões que circulam diariamente (repito: todos os dias) nas estradas brasileiras carregando combustível para postos de gasolina, aeroportos, prefeituras etc.. Para completar, são mais 3 milhões de caminhões sendo abastecidos para fazer toda a logística do Brasil, levando produtos de norte a sul, de leste a oeste deste imenso território.

Pegando o gancho deste último parágrafo, ensaio aqui a segunda deficiência quanto ao desenvolvimento do Brasil. A interdependência dos combustíveis fósseis. Neste caso, nosso recorte será para a mobilidade, em especial.

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Ora, é mais que passado da hora de ambulâncias, caminhões de coleta de lixo, frotas de ônibus (ao menos um percentual mediano) serem abastecidos por energia elétrica, por baterias carregáveis. E hospitais, prefeituras terem suas micro-usinas de energia eólica e energia solar para carregar estes veículos elétricos.

Destarte, além de não poluírem as grandes cidades, a economia de médio e longo prazo para o poder público será inexorável [4]. A população ganha com a ininterrupção dos sistemas e dos serviços públicos, além de ver seus impostos sendo menos definhados em energia e combustível, para serem aplicados, ao final, em mais qualidade de atendimento.

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Portanto, o debate que, sem saber, os trabalhadores das estradas (caminhoneiros) nos trouxeram deve ser realizado “pra ontem”, a saber, a matriz energética brasileira é salientemente controversa ao desenvolvimento contínuo do Brasil, e o fluxo operacional e logístico centrado no sistema uni-modal do transporte rodoviário é irracional, e somente aumentam o chamado Custo-Brasil, além de tornar o País vulnerável demais às intempéries sistêmicas (como restou provado pela paralisia nacional derivada da paralisação dos caminhoneiros).

Ninguém aqui está a sugerir que eliminemos essas duas matrizes econômicas do Brasil. Rodovia e Petróleo são fundamentais à soberania e ao desenvolvimento do País. O que agradecemos adicionalmente aos caminhoneiros em seu legado deixado pela guerra com o governo é que expuseram as vísceras doentes de uma nação, cujo organismo somente evoluirá para um novo prospecto civilizatório se tivermos todos a coragem de exigir deste mesmo governo um plano de estudos [5] para repensar estes dois paradigmas do desenvolvimento. Fora isso, terá sido apenas mais uma semana de fúria, sem mudanças efetivas na vida desta e das gerações futuras de nossa gente. [6]

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[1] São inúmeros os fatores de implicação. Resumimos aqui em alguns pontos: a elevada carga tributária, as normas fiscais ultrapassadas, as burocracias em excesso, a precária infraestrutura (exemplo: estradas, tecnologia de carga etc.), taxas de juros que serve aos fomentos e fluxo econômico e outros mais. Isso eleva o preço dos produtos e faz o consumidor “pagar o Pato”.

[2] Imaginemos um fluxo de um produto “x”, ao menos por estas etapas: 1) extração da matéria prima = 2) transporte = 3) manufatura / beneficiamento / produção = 4) transporte = 5) distribuidor / lojista / vendedor = 6) consumidor (mais, 7) transporte até a residência do consumidor, feito por ele, ou por transportadora). Chamemos “x” de um aparelho televisor, ou de uma bandeja de iogurte, que seja. Todos os produtos conjugam um fluxo semelhante a este até chegar às nossas mãos, finalmente.

[3] É verdade que com o fortalecimento da indústria naval, sobretudo no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, onde o Brasil passou a fabricar aqui os próprios estaleiros (pesquise documento do BNDES a respeito), e com a tecnologia investida no Ceará para a fabricação de trens (embora, neste caso, a prioridade é transporte de passageiros, mas nos serve como modelo de desenvolvimento), ensaiava-se aí a possibilidade da diversificação do País, num primeiro instante, com o mercado externo como maior consumidor, a seguir, com estímulos a novas políticas internas ao Brasil. Todavia, estas duas potências têm sofrido retração com a nova política do Governo de priorizar empresas estrangeiras, e isso pode gerar o colapso das empresas nacionais.

[4] É verdade que o custo de instalação (corrijamos a palavra “custo” para “investimento”) destes equipamentos é muito alto, num primeiro momento. Todavia, no médio e longo prazo, o retorno é indiscutível.

[5] Exemplo: criação por parte do Governo Federal de um Programa de Fornecimento de Veículos Elétricos para Prefeituras Municipais. Estímulo do Governo a que as montadoras fabriquem ambulâncias, caminhões coletores de lixo e outros maquinários movidos a energia elétrica (e solar).

[6] Devíamos cobrar de todos os candidatos à Presidência da República – respectivamente, dos governadores dos Estados – que colocassem em seus Planos de Governo e dissessem nas campanhas o que vão fazer em relação à mudar as frotas de ambulâncias, e demais veículos de urgência no sentido de adquiri-los em alimentação elétrica. E demais pontos que assinalamos no texto como diversificação modal para transportes.

Outro programa mais que justo é o Governo oferecer subsídios aos empresários que invistam no setor de fabricação de Placas de Energia Solar, desde que todo o valor seja integralmente repassado ao consumidor.

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