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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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A Guerra Fria no século XXI

A disputa global entre potências se reorganiza em bases militares, econômicas, tecnológicas e políticas, redefinindo o equilíbrio internacional no século XXI

A Guerra Fria no século XXI (Foto: Reuters)

A Guerra Fria não terminou. Ela mudou de forma.

Quando os Estados Unidos saíram triunfantes da Segunda Guerra Mundial, acharam que se imporia no mundo uma hegemonia única, como a que a Inglaterra havia gozado ao longo de grande parte do século XIX.

O uso da bomba atômica contra o Japão serviu para demonstrar à URSS e ao mundo como os Estados Unidos se impunham como única superpotência global. Uma ilusão que se diluiu rapidamente, quando a União Soviética mostrou que também dispunha da bomba.

A partir daquele momento, instaurou-se um clima de Guerra Fria, que nunca se dissipou, apenas mudou de forma. Isso porque, a partir daquela circunstância, as duas maiores potências se deram conta de que poderiam se destruir mutuamente. Qualquer uso da bomba seria revidado imediatamente por uma ação correspondente do outro lado, levando à destruição mútua.

Instalou-se assim a Guerra Fria que, em seu primeiro momento, se apoiava em um equilíbrio apenas militar, porque econômica e tecnologicamente os Estados Unidos eram indiscutivelmente superiores à União Soviética.

O fim da União Soviética e do campo socialista gerou uma nova ilusão norte-americana de que reinaria isoladamente como única superpotência no mundo. Mas logo teve de se dar conta de que o mundo unipolar era uma ilusão.

O mundo do século XXI tem no surgimento dos Brics o seu fenômeno mais importante. Uma aliança entre o poderio militar da Rússia, o poderio econômico da China, a capacidade de articulação política do Brasil e uma série de várias dezenas de países projetou um novo mundo bipolar, uma nova Guerra Fria.

Isso porque o equilíbrio nuclear continua a existir, impedindo a eclosão de uma terceira guerra mundial, apesar das especulações inócuas a respeito. A destruição mútua impede sua ocorrência. Não haveria vencedores, só perdedores.

A nova Guerra Fria, no entanto, tem outro caráter: o equilíbrio não é somente militar, é também econômico, tecnológico e político. Além da decadência política, a decadência norte-americana também é tecnológica e econômica.

Os Brics se apresentam como um adversário muito mais poderoso do que a União Soviética e o campo socialista no século passado. Dessa forma, a correlação de forças entre os dois campos é de outra ordem, muito mais favorável ao campo que se opõe aos Estados Unidos.

Esse é o cenário que deve marcar o mundo, pelo menos, por toda a primeira metade do século XXI. De seu desenvolvimento e desdobramentos dependerá o mundo no final deste século.

A Guerra Fria só terminará com o desaparecimento de um dos dois polos. Por mais debilitado que esteja, não se pode prever o fim do imperialismo norte-americano, mas sim o seu debilitamento progressivo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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