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Ângelo Cavalcante

Economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

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A outra base do golpe

Democracia nunca foi o forte da tradição política brasileira; nunca fomos bom nessa "coisa estranha" de ceder/distribuir poder para cidadãos e cidadãs; até ensaiamos esforços importantes nesse intuito mas, como uma maldição de Sísifo, descambamos de golpeamentos em golpeamentos. É assustadoramente impressionante. Não conseguimos escapar!

A outra base do golpe (Foto: Divulgação)
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Democracia nunca foi o forte da tradição política brasileira; nunca fomos bom nessa "coisa estranha" de ceder/distribuir poder para cidadãos e cidadãs; até ensaiamos esforços importantes nesse intuito mas, como uma maldição de Sísifo, descambamos de golpeamentos em golpeamentos. É assustadoramente impressionante. Não conseguimos escapar!

Nem vou debulhar o rosário de golpes políticos (vou evitar falar de golpes econômicos e financeiros e que a autocracia do capital aplica diariamente no povo do trabalho) e que marcam a acidentada história nacional.

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Mas por que tantos golpes? Por que se realizam tão plenamente por aqui? Que condições objetivas estão dadas para que esses empreendimentos autoritários aconteçam tão plenamente no Brasil? Por que nossa democracia é sempre parcial?

As razões são diversas e as análises são igualmente diversas. Joaquim Nabuco, como nenhum outro, trouxe de forma sistemática e articulada a questão do negro à baila das discussões de seu tempo. A grande dúvida era sobre o tipo de inserção social ou cidadania e que o Estado brasileiro iria conferir aos negros 'libertos' na pós-abolição. Nabuco entendia que o abandono dessa ampla e majoritária massa de seres humanos iria comprometer drasticamente o próprio futuro do país.

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Outra importante tese sobre nossas lástimas políticas deita raízes em nosso passado colonial e, de novo, escravista, com suas notórias reverberações sobre as instituições do país (Ver Raymundo Faoro); Caio Prado Júnior analisa na sua "Revolução Brasileira" os vacilos da esquerda, sobretudo, dos comunistas e suas benevolentes concessões politicas para com a direita e que inevitavelmente, contribuiu para a quartelada de 1964.

A questão é que, de fato, não se deve esperar consenso teórico acerca desse oceânico fracasso político. O solo comum é que esse passado, sem ter pra onde correr, corrompeu o cotidiano, suas relações, sensibilidades e percepções sociais de modo que as bases para os muitos golpes perpetrados no Brasil estão, definitivamente postas não só nos gabinetes climatizados do congresso, nos escritórios esquadrinhados das federações de empresários ou nas sedes recuadas de quartéis mas se acham, sobretudo, fixadas e enraizadas na vida cotidiana, nos fluxos da vida social e nas formas culturais e vivenciais da qual todos somos partes integrantes e ativas.

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É erro crasso admitir que, por exemplo, o golpe de estado que destituiu a presidente Dilma Roussef tenha sido obra exclusiva da canalha da direita e fartamente espraiada em partidos, empresas públicas ou privadas, universidades, igrejas ou no judiciário. De outra feita, sem o fecundo solo da cultura nacional, esse pântano perigoso e desconhecido feito e conformado por cinco séculos no cadinho das mais torpes assimetrias esse vício não teria esse tipo de atualização neste despontar de milênio.

Nessa conformidade, golpe é estratégia de intervenção e atualização cultural; evidentemente, é golpe, mas é também, requintada operação de cultura política e que visa o bloqueio de direitos básicos e fundamentais para o conjunto dos brasileiros porque, como bem sabemos, a "democracia brasilienses" não pode admitir tanta profundidade.

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Finalmente, a superação desse pesado drama cultural perpassa pelo reconhecimento, sobretudo, por parte da boa militância politica de que o cotidiano é o principal espaço de luta política. Não existe o simples, o trivial ou o banal. Tudo é parte de uma grande teia relacional e que, de alguma forma e ao seu modo, serve a política predominante. Sem duvidar, os fundamentos da cultura nacional e que apetecem sob as balizas do sempre presente patriarcado brasileiro, devem imediatamente ser iluminadas pelo fulgor irresistível e libertário de homens e mulheres e que ousam fazer a própria história.

Sem erro: quem faz história; faz cultura.

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