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Washington Araújo

Mestre em Cinema, psicanalista, jornalista e conferencista, é autor de 19 livros publicados em diversos países. Professor de Comunicação, Sociologia, Geopolítica e Ética, tem mais de duas décadas de experiência na Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal. Especialista em IA, redes sociais e cultura global, atua na reflexão crítica sobre políticas públicas e direitos humanos. Produz o Podcast 1844 no Spotify e edita o site palavrafilmada.com.

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A reinvenção verde do agronegócio na era da COP30

O campo busca aliar produtividade e preservação, unindo ciência, cooperação e propósito na agenda climática global.

Primeira Sessão Temática da Mesa Redonda de Líderes: “Clima e Natureza: Florestas e Oceanos”, na COP30 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Enquanto líderes mundiais se reúnem em Belém para a COP30, um movimento silencioso, mas revelador, ganha força no centro das discussões climáticas: o agronegócio procura atualizar sua narrativa.

Durante muito tempo, o setor foi visto como símbolo do desequilíbrio ambiental — desmatamento, emissão de gases, uso excessivo da terra. Agora, tenta ocupar outro lugar na história: o de agente de regeneração, parceiro da transição ecológica, aliado no combate à crise climática.

Nos corredores da COP, o clima — no sentido figurado — é de reposicionamento. O agronegócio global passou a adotar a gramática da sustentabilidade. Fala de carbono neutro, economia circular, biotecnologia e regeneração de solos. E isso não é apenas estética de discurso: revela o reconhecimento de que não há futuro econômico possível em um planeta em colapso climático.

Em pavilhões de debates e eventos paralelos, empresas do setor agroalimentar apresentam documentários, painéis e compromissos públicos. Um dos exemplos mais comentados é o da Alltech, multinacional de nutrição animal e vegetal que exibe o filme Um Mundo Sem Vacas e promove diálogos sobre práticas sustentáveis na pecuária.

Com presença em mais de 140 países, a empresa tem apostado em uma abordagem colaborativa, defendendo que a inovação científica e a recuperação de pastagens podem multiplicar a produção sem derrubar uma única árvore.

É uma mensagem que encontra eco em quem acredita que o desafio não é acabar com o rebanho, mas com o desperdício — de terra, de recursos e de oportunidades.

Mas, para além das boas intenções e das imagens cuidadosamente editadas, o debate persiste: há transformação de fundo ou apenas ajustes de superfície? A resposta talvez esteja nas parcerias que se formam, nos hectares regenerados e nos compromissos verificados de forma independente.

A natureza, afinal, não se deixa convencer por campanhas — ela responde a resultados.

A disputa de narrativas é legítima: trata-se de quem define o rumo da sustentabilidade. E se há exageros no marketing verde, há também sinais concretos de mudança. A Embrapa aponta que o Brasil tem potencial para dobrar a produção agropecuária sem desmatar, caso amplie o uso de pastagens degradadas e adote sistemas integrados de cultivo. Esse dado é o ponto de interseção entre ciência e vontade política.

Em Belém, o que está em jogo vai muito além da imagem de um setor: é o futuro da relação entre o que comemos e o clima que herdaremos.

Talvez o primeiro passo seja reconhecer que a regeneração não é um gesto heroico, mas coletivo — um pacto entre produtores, consumidores e governos.

A Alltech, ao somar sua voz às demais, parece compreender isso: que o desafio não é falar de sustentabilidade, mas praticá-la — todos os dias, no campo e na consciência.

Ou aprendemos a regenerar juntos, ou derreteremos separados.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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