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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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A segunda morte de Cláudia Silva Ferreira

Dez anos depois, em 2024, o 3º Tribunal do Júri inocentou os policiais militares apontados como suspeitos pelo caso em questão

Cláudia Ferreira (Foto: Reprodução (GloboNews))
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A morte tem muitas faces. No Brasil, por exemplo, morre-se de tudo, e das maneiras mais perversas e cruéis, principalmente quando se é preto e pobre. A pior das mortes, se é que há uma melhor ou pior, é aquela que não permite ao morto o descanso eterno, uma vez que, mesmo não estando mais entre os vivos, continua sendo assassinado, enquanto sua memória é vilipendiada todo santo dia, muitas vez por aqueles que são pagos para trazer a ele, o morto, e sua família, um pouco que seja de paz.   

Muita gente não conhece Cláudia Silva Ferreira, pois ela nunca esteve em nenhum reality show, jamais teve seu carro restaurado, não me consta que tivesse um, muito menos teve sua casa reformada pelos espertos que enriquecem às custas do drama de pessoas pobres. Cláudia era Silva, como o Presidente, e também Ferreira, como milhares de outros brasileiros. Os sobrenomes de Cláudia não indicam origem nas famílias ricas e bem nascidas, tão ao gosto da viralatice e do atraso reinante no nosso país, capazes de fazer Lima Barreto vomitar até as tripas.

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Cláudia era uma cidadã brasileira com nome e sobrenome. Cláudia Silva Ferreira tinha trinta e oito anos e uma família. Cacau, como era conhecida pelas pessoas que lhes eram próximas, era casada e tinha quatro filhos. Além disso, Cláudia cuidava de quatro sobrinhos, com idades entre cinco e dezoitos anos e trabalhava como auxiliar de serviços em um hospital. Em 2014, ano em que foi assassinada pelo Estado brasileiro, a cidadã Cláudia Silva Ferreira completaria vinte anos de casada. Na ocasião, as autoridades se manifestaram e a família de Cláudia chegou a ser recebida por algumas delas. A ação da polícia foi considerada “abominável” pelo então Governador do Estado do Rio de Janeiro.

“Abominável” nada mais é que um eufemismo para a monstruosidade e a barbárie que se instalaram neste país e que, antes e depois do “caso Cláudia”, sempre estiveram aí ceifando vidas pretas e pobres. Até quando a sociedade será conivente com os desmandos das forças policiais e o genocídio da população negra? Cláudia foi morta alvejada quando a polícia trocava tiros com traficantes na comunidade onde morava. Cláudia Silva Ferreira havia saído para comprar comida para seus filhos e nunca mais voltou. O “socorro” à vítima se deu com ela sendo jogada no porta-malas da viatura, caindo e, apesar dos alertas da população, sendo arrastada no asfalto por trezentos e cinquenta metros. Barbárie! Quantas vezes vimos isso acontecer em bairros como Copacabana e Leblon, no Rio de Janeiro, ou em Higienópolis e Jardins, em São Paulo?

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Dez anos depois, em 2024, o 3º Tribunal do Júri inocentou os policiais militares apontados como suspeitos pelo caso em questão, dizendo que o assassinato de Cláudia nada mais foi que um “erro de execução”. Simples assim! Se para Rui Barbosa: “A justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta”, o que diria ele ao ler tal decisão nos jornais de hoje e ver Cláudia Silva Ferreira sendo assassinada mais uma vez?   

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