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Marcos Coimbra

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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A velha história da montanha que pariu um rato

"O que as pesquisas atuais mostram é algo inteiramente normal na democracia: na reeleição, quem faz um bom governo é favorito, quem conclui um governo mediano está no páreo e o mau governante tende a perder. O péssimo é carta fora do baralho", resume o sociólogo Marcos Coimbra sobre Bolsonaro

(Foto: Felipe Campos Melo)
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Por Marcos Coimbra 

Como era previsível, na última terça-feira, a velha história se confirmou: a montanha pariu um rato. Não era bem uma montanha, apenas a figura patética do capitão tentando dar à luz algo maior que ele. Também não foi exatamente um rato, talvez uma ratazana, daquelas despeladas e fedidas.  

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Qualquer tentativa de ganhar o debate politico mandando seus seguidores para a rua não funciona, há muito tempo, no Brasil. Ao contrário do que éramos até os anos 1950, quando o povo na Cinelândia e na Avenida Rio Branco derrubava governos, nos tornamos um país populoso demais. Sempre fica a sensação de que, se algo aconteceu em algum lugar, foi apenas lá.    

Desde o fim da ditadura militar, só deram certo manifestações com alto grau de espontaneidade, pautas amplas e convocação diversificada. Certas ou erradas em suas reivindicações, progressistas ou reacionárias, foi assim nos comícios das diretas, no impeachment de Collor e em 2013-2015.

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A exibição bolsonarista do dia 7 de setembro não podia dar certo e não deu. Foi convocada por um governante fraco com o único intuito de se fortalecer, sem nem pensar nos interesses coletivos. No palanque, somente ele e sua turma, corresponsáveis por fracassos em série. Na rua, uma gente com a qual a maioria do povo não se identifica, truculenta e grosseira. Como se isso não bastasse, um ato extemporâneo, sem motivo para acontecer agora.    

Em uma sociedade com 150 milhões de eleitores, a partir de quantas pessoas nas ruas alguém pode dizer que “tem o povo a seu lado”? Será que, por exemplo, 10% é uma boa taxa? Seriam 15 milhões de cidadãos, mais que o total de habitantes da cidade de São Paulo. E se fossem 5%? Teriam que ser mais de 7,5 milhões de manifestantes, bem acima da população da cidade do Rio de Janeiro. E 1%, “apenas” 1,5 milhões de pessoas, alguém consegue mobilizar? Mesmo somando todos os lugares possíveis, a chance é pequena. O que significaria que mais de 99% da população adulta não acedeu à convocação.   

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É possível que um dos idiotas que ocupam o Palácio do Planalto tenha recomendado fazer as manifestações do dia 7, achando que o mambembe governo do capitão ficaria mais forte, mostrando seus (franzinos) músculos “nas ruas”.

É um modelo miliciano de pensar, em que a aquiescência do outro é obtida mediante intimidações e ameaças, mas que, no caso, não serve para nada. Onde seria necessário, tem chance mínima de funcionar, pois a cúpula do Judiciário, do sistema politico e do empresariado não se amedronta com os grunhidos bolsonaristas. Onde não, é dispensável. O Centrão, os milicos e os bispos picaretas, por exemplo, apoiam o capitão por conveniência e não por medo. Não precisam de outros argumentos, estão com ele porque são pagos.  

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Resta, é claro, a suposição de que o povo, a maioria do eleitorado que é pobre e vive mal, pode ser impressionada com manifestações de força como as deste 7 de setembro. De novo, é o modelo miliciano, em que as favelas e comunidades são mantidas na dependência de marginais por medo de represálias, com bandidos circulando na carroceria de camionetes mostrando fuzis.   

O capitão e seus estrategistas devem imaginar que o voto popular em 2022 será guiado pelo receio de contrariar quem anda armado, militares, milicianos e “atiradores esportivos”. Supõem que as pesquisas de opinião estão erradas e que os eleitores vão querer que o capitão continue, por ter o apoio de não se sabe quantas pessoas que foram “às ruas”.  

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Trata-se de um raciocínio idiota. O que as pesquisas atuais mostram é algo inteiramente normal na democracia: na reeleição, quem faz um bom governo é favorito, quem conclui um governo mediano está no páreo e o mau governante tende a perder. O péssimo é carta fora do baralho.   

Bolsonaro é um presidente ridículo, que mal completou dois terços de seu mandato e já é responsável por catástrofes em todas as áreas, em especial uma calamidade sanitária causada por sua incúria e incompetência. Tornou-se, também, à medida em que aumentou seu nível de conhecimento, uma pessoa de quem a maioria da população não gosta, não admira e não respeita.   

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Se conseguisse levar às ruas um, dois ou dez milhões de pessoas, isso não mudaria. O 7 de setembro de 2021 seria uma exibição inútil e não funcionou.  

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