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Fernando Lionel Quiroga

É professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), na área de Fundamentos da Educação. Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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Acorda, Argentina!

É preciso um estalar de dedos. Pode haver diversos sentidos culturais neste gesto sutil. Mas um deles quer dizer: acorda!

Candidato presidencial argentino Javier Milei (Foto: REUTERS/Mariana Nedelcu)
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A vitória de Javier Milei, candidato argentino da extrema-direita que conquistou aproximadamente 30% nas primárias que antecedem as eleições presidenciais previstas para outubro deste ano, é outro claro sinal da guerra híbrida dos EUA contra os países sul-americanos. A finalidade: dar sequência ao projeto neoliberal que consiste no extermínio do estado democrático de direito. A vitória pode ser vista sob diversas perspectivas: psicanalítica: como um impulso coletivo autodestrutivo em face da miséria que assola o país há anos; literária: como ironia diante da situação de desastre econômico (voto de protesto); religiosa: como fé à espera de uma receita milagrosa capaz de modificar os rumos do país. Mas há algo a mais nisso tudo, a que o povo argentino deve se ater: as estratégias utilizadas na guerra híbrida. A começar, pelos holofotes que tipos como Milei ou Bolsonaro obtêm das mídias.

Trata-se da construção de uma personagem tipo-ideal capaz de aglutinar traços que sugerem a ideia de liberdade como utopia a ser perseguida. Cabelo bagunçado, linguagem simples, sem floreios, com forte apelo moral (e, portanto, emocional), e que, como homem comum (princípio da democracia), tem o direito de emitir opiniões controversas, como a legalização da venda de órgãos. Um truque de ilusionismo: atração e desvio da atenção sob a premissa de revelar, já sem qualquer vínculo com a razão, as ações mais improváveis. O impossível torna-se possível, como a substituição da educação gratuita por vouchers; ou as soluções miraculosas para a economia do país. O desafio da extrema-direita no mundo consiste em estrangular a ordem das coisas; relativizar Hitler e Stalin, Pinochet e Perón, Lula e Bolsonaro. Pedagogicamente, este projeto nasce nas escolas, quando ensina-se, sob diversos e falsos disfarces, o nivelamento sistemático de todas as coisas, como se contra as mazelas da meritocracia esta fosse a melhor saída. Nada mais estratégico por parte das elites: sacrificar um Bispo para a conquista do Rei.  

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Ora, o nivelamento que não mais suporta a distinção entre A e B é o que permite a penetração de figuras antidemocráticas no próprio seio da democracia. Já um forte sinal da urgência em fortalecer não somente as instituições democráticas, mas todos os valores democráticos.

Mais do que isso, os tempos sinalizam a importância de que conceitos com forte teor político-democrático, como “inclusão”, “decolonialidade”, “identidade”, “liberdade”, “diversidade” etc., sejam submetidos a um exame rigoroso, capaz de avançar na arqueologia simbólica onde outros sentidos ocultam-se sob a aparência das primeiras camadas.

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Chegamos a um momento em que a feitiçaria publicitária, impulsionada pelos duendes algorítmicos parecem compensar a excentricidade de alguns (utopia do indivíduo) em benefício de projetos antipáticos aos interesses da sociedade (distopia coletiva).

A democracia é uma aventura. E neste jogo onde vale quase tudo, o que ocorre é uma verdadeira grilagem das almas por meio de fake news, personagens performáticas e algoritmos.

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É preciso um estalar de dedos. Pode haver diversos sentidos culturais neste gesto sutil. Mas um deles quer dizer: acorda! É um gesto para quebrar feitiço, sair do sonho, voltar à realidade.

É o que boa parte do povo argentino precisa, já que um efeito de hipnose paira sobre os pampas.

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Espera-se que o povo desperte do feitiço antes que seja tarde.  

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