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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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Alegoria dos poderes no Brasil

Quando a gente vai gostando deste regime; quando vamos nos acostumando com a tal democracia, vocês a roubam de nós e nos devolvem à escuridão da caverna. Resta-nos embriagarmo-nos o quanto possível para não sóbrios o espetáculo de horrores no Brasil

Quando a gente vai gostando deste regime; quando vamos nos acostumando com a tal democracia, vocês a roubam de nós e nos devolvem à escuridão da caverna. Resta-nos embriagarmo-nos o quanto possível para não sóbrios o espetáculo de horrores no Brasil (Foto: Marconi Moura de Lima Burum)
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Se pudéssemos pensar uma alegoria para o atual momento brasileiro, daria uma sutil impressão nestes termos. Imaginaria um homem. Chamá-lo-emos de Charles de Montesquieu, solto num deserto de um canto qualquer, tendo fabricado três esferas reluzentes. Estas esferas, que lhes serviria para experimentações, a interligar no contra-sol pontos comuns, subitamente foram saqueadas enquanto o cientista as espalhava por espaços distintos no deserto. Tratava-se de outro experimentador que não imaginava pertencer a outro os instrumentos. Seu nome era Nicolau Maquiavel. Correra a esconder as esferas numa caverna próxima. Queria entender a densidade e o brilho dos objetos. Sua condição magnética capaz de buscar num ponto de intersecção comum elementos que as interligassem a produzir energia dentro da energia.

Ocorre que, na escuridão da caverna abafada e de forte odor, não lhe foi possível perceber as energias que se conjugam num efeito concreto de movimento vibrante e útil. Entristecido por não poder efetivar seus experimentos, pegou uma garrafa de Chateau muito antiga, ébrio, vestiu-se de um tipo de roupa exótica e passou a lançar as esferas ao alto reversando-as uma a uma sobre as mãos num processo circular que era capaz mesmo de deslocar o ar e o mal cheiro para o lado de fora da caverna. A isso, chamou-se no futuro de...

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Malabarismo de ocasião, próprio dos artistas de rua, tão pobres, tão ricos.

Lida a alegoria, resumo minha sensação com as instituições brasileiras tão demagogicamente chamadas de "fortes": tenho vergonha do arranjo civilizatório do Brasil que produziu ao bojo de uma falsa democracia – precoce, frágil, mas histórica – os poderes tão facilmente manipuláveis aos sensíveis interesses de um grupo seleto, e cruel.

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Que farão? Uma outra Constituição que homologue os horrores de uma piada de mal gosto que aniquila com essa democraciazinha fajuta? Não sinto somente o ultraje das instituições nesse momento. Não estou somente desconfiado que não se pode contar com a lucidez mínima do Estado Positivado – mostrou-se ridicularizado. Todavia, sinto asco de afirmar à minha filha que vivo num Estado que se diz Ordenado e de Direito.

Vocês não podem ser levados a sério, Senhores e Senhoras dos Poderes da República, portanto, os próprios Poderes. Vocês são uma aberração disfarçada de instâncias. E este [dito] é somente um décimo do meu rancor quase enojado que não dou conta de traduzir de minha própria alma ou intelecto, improvisando, portanto, pensamentos mínimos, cujas metáforas são capazes de aludir um pouco melhor.

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Antes de finalizar, e imprimindo contexto lógico ao texto, a decisão do Senado ontem [27] de colocar na Relatoria do impeachment um ex-governador, cuja gestão é acusada de ter praticado as tais "pedaladas fiscais", portanto, ele é vítima do mesmo "crime" da Presidente da República que julgará; e a omissão da Suprema Corte Brasileira ao não analisar o mérito do tal processo de impeachment, embora previsto na Constituição, é ilegal do ponto de vista do incidente gerador da Peça; e ainda por estar este mesmo STF de conversinhas com os Chefes do Legislativo para garantir reajustes salariais ao Poder Judiciário (em plena crise), trazem-me a convicção de que há uma anomalia no Sistema Republicano do País. Destarte, deveríamos assumir logo que vivemos numa democracia fictícia, e numa plutocracia real. Que se dane a maioria do povo, que se dane...

Enfim. Quando a gente vai gostando deste regime; quando vamos nos acostumando com a tal democracia, vocês a roubam de nós e nos devolvem à escuridão da caverna. Resta-nos embriagarmo-nos o quanto possível para não sóbrios o espetáculo de horrores no Brasil.

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