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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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Apologia ao fascismo não é liberdade de expressão!

Sob o argumento da liberdade de expressão, a besta do fascismo avança contra a decência e a civilidade

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Da autobiografia Você não pode ser neutro num trem em movimento – uma história pessoal dos nossos tempos (2005), do historiador Howard Zinn, pinço logo do início do prefácio a expressão “... a nação está em grande estado de tensão”, e “talvez a coisa mais importante que aprendi foi o significado de democracia”, frase que fecha o referido prefácio. A união das duas frases ditas pelo autor de A People’s History of the United States (2003) resumem de certa forma o que se tem vivenciado no Brasil pós-golpe de 2016, que desde então tem vivido em estado de tensão.

A corrosão das instituições, observe-se que não se escuta mais a afirmação “as instituições estão funcionando”, continua afundando o país num pântano de crimes, corrupção, descaso e mortes nunca antes visto por estas plagas. Não há luz no fim do túnel e, como se diz, não há nada tão ruim que não possa piorar. E assim seguimos, vendo a cada novo dia o descaso do Estado para com o cidadão comum. A resposta que tem sido dada aos que tentam se insurgir contra a violência institucionalizada é cada vez mais violenta. Pária do mundo, o Brasil, que poderia ter sido, mas não foi, patina entre ser um Haiti e um Myanmar. Enquanto isso, os cadáveres vão se acumulando, a dor do povo vai se tornando cada vez mais insuportável, e o Brasil, cronicamente inviável. O caos generalizado que impera no país é resultado das imposições políticas das elites financeiras, que continuam cada vez mais ricas. O Brasil real não lhes interessa, a não ser a mão de obra barata, descartável e substituível que dele advém. 

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Sob o argumento da liberdade de expressão, a besta do fascismo avança contra a decência e a civilidade. Na última semana, por exemplo, professores e alunos da Universidade Estadual do Ceará – UECE foram intimados pela Polícia Federal a prestar depoimentos sob acusações de serem antifascistas, como pode ser lido aqui https://www.opovo.com.br/noticias/politica/2021/06/10/professores-e-alunos-da-uece-sao-intimados-pela-pf-por--atos-antifacistas.html e aqui  https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/seguranca/professores-e-alunos-da-uece-sao-intimados-pela-pf-para-esclarecer-supostos-atos-antifascistas-1.3096271. Defender nazismo e fascismo não se constitui como liberdade de expressão, mas como apologia ao crime. Logo, há uma inversão de valores, quando se tenta criminalizar os antifascistas, em claro desrespeito às leis e à democracia. 

Inadmissível é que o suado dinheiro do contribuinte seja usado em ações policiais desse tipo. Mais preocupante ainda é que se um cidadão é chamado para depor por ser antifascista, compreende-se que o ambiente sociopolítico no qual está imerso é, obviamente, fascista. Claro que, e não menos se poderia esperar, a UECE marcou posição em defesa dos seus professores e alunos, deixando claro que não está neutra no trem em movimento da democracia, como pode-se observar na sua nota em defesa da liberdade de expressão http://www.uece.br/noticias/nota-publica-em-defesa-da-liberdade-de-expressao/.  A intim(id)ação aos professores e alunos da UECE se explica, uma vez que para os fascistas, universidades, artistas e intelectuais sempre se constituíram como ameaça a ideais autoritários, pois para os fascistas o “problema” é o ato de pensar, tendo em vista que pensar, como afirma Umberto Eco, em O fascismo eterno (2018), é uma forma de castração. Por isso, a cultura é suspeita na medida em que é identificada com atitudes críticas. O fascista, diz Madeleine Albright em Fascismo: um alerta (2018), é alguém que diz falar por uma nação ou um grupo, mas não se preocupa com os direitos dos outros, e está sempre disposto a usar de violência ou quaisquer outros meios necessários para atingir seus objetivos.

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O caso da intim(id)ação aos professores e alunos da Universidade Estadual do Ceará, mesmo diante do que afirma a Polícia Federal https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/seguranca/policia-federal-diz-que-intimou-professores-e-alunos-da-uece-em-investigacao-de-crime-eleitoral-1.3096607 acende o alerta de que o Estado pode estar fazendo uso do aparato policial para perseguir os críticos do governo. Tendo em vista a fragilidade das acusações e a presença, entre os acusadores, de pessoas com viés de extrema direita https://www.brasildefato.com.br/2021/06/17/integralista-faz-parte-de-grupo-que-denunciou-aula-publica-sobre-fascismo-no-ceara, tais acusações não param em pé. São, no mínimo, absurdas! Seja como for, sabe-se que a UECE e as demais universidades brasileiras não se dobrarão a qualquer tentativa de cerceamento das suas atividades acadêmicas, pois cultivam e compartilham o significado de democracia como único caminho possível para uma sociedade igualitária e humana.

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