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Fernando Lionel Quiroga

É professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), na área de Fundamentos da Educação. Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação, Linguagens e Tecnologias (PPG-IELT) da Universidade Estadual de Goiás.

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As manifestações golpistas e a escalada do nazismo no Brasil: o que deve ser feito para evitar o pior?

Bolsonaristas em protesto no Rio de Janeiro contra a eleição presidencial pedem "intervenção federal" 02/11/2022 (Foto: REUTERS/Pilar Olivares)

Não se engane aquele para quem a mobilização bolsonarista após as eleições são reivindicações sobre os resultados. Nada disso! O resultado já foi assimilado pela base governista e a transição entre os governos já ocorre normalmente. Há, obviamente, o sentimento de indignação por parte do governo atual e de seus seguidores. Afinal, depois da utilização da máquina pública para a obtenção de votos, e dos bloqueios provocados pela PRF no nordeste, inibindo que a votação seguisse normalmente, a vitória era dada como certa. Graças à liderança de Lula e o reconhecimento de sua ilibada trajetória após a anulação dos processos da lava-jato, a democracia voltou a triunfar. A maioria da população brasileira votou pelo seu reestabelecimento. Com mais de dois milhões de votos a mais do que Bolsonaro (PL), a vitória de Lula (PT) representa a esperança por uma vida mais digna e com mais direitos para boa parte da população. O reconhecimento internacional veio imediatamente; quase um alívio para o mundo que assistia a destruição da Amazônia e o risco da condição climática de todo o planeta. A vitória, repito, incontestável sob todos os ângulos, não explica a essência da mobilização bolsonarista nas portas dos quartéis e no bloqueio das estradas.

Mas, então, o que tais mobilizações nos dizem?

Após a vitória da democracia e, consequentemente, do desgaste da figura de Jair Bolsonaro, a seguinte mensagem passou a orientar a base de manifestantes bolsonaristas nos grupos de Whatsapp. A mensagem dizia:

NOVAS REGRAS* É proibido amanhã nas manifestações e redes sociais a partir de agora.

Uso de bebida alcoólica

Blusas de Bolsonaro

Nossa bandeira jamais será vermelha

Dizer Deus acima de tudo, Brasil acima de todos.

Dizer Mito

Intervenção militar

Intervenção federal

Capitão

Jair Bolsonaro.

Art 142

 Dizer 22

Jair

*Nada que vincule o Bolsonaro.

O que pode

 SOS Forças Armadas

 Salvem o Brasil FFAA

 Cantar o Hino nacional.

 Bandeira do Brasil.

 Camisa do Brasil

 Ordem e Progresso

 Lei e ordem!

Destas orientações, depreende-se o seguinte: o que está em questão não é contestar o resultado das urnas ou sair em defesa do presidente derrotado. Há um outro propósito, pedagógico e impessoal, que parece aproveitar o uso do espaço público e da consequente aglomeração dos insatisfeitos para promover um sistema formativo, um programa sistemático de disseminação do nazismo, agora sim, em sua essência pura e simples, sem as vestes da institucionalidade democrática.

Segue-se a esse programa pedagógico nazista a enxurrada de notícias sobre episódios desta natureza espalhados por todo o Brasil:

https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2022/11/04/escola-de-valinhos-desliga-8-alunos-apos-estudante-denunciar-ataques-racistas-com-referencias-a-hitler.ghtml, de 04/11/2022

https://revistaforum.com.br/brasil/sul/2022/11/6/professor-de-historia-de-sc-diz-que-hitler-foi-melhor-que-jesus-que-ligaria-cmara-de-gas-para-petistas-126051.html, de 06/11/2022

https://www.cartacapital.com.br/politica/no-rs-bolsonaristas-sugerem-distinguir-as-casas-de-quem-votou-em-lula-mostra-site/ de 07/11/2022.

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2022/11/07/tecnica-de-enfermagem-denuncia-colega-de-trabalho-por-usar-caneca-em-referencia-a-ku-klux-klan-me-sinto-ferida-na-minha-existencia.ghtml 07/11/2022.

Estes são os resultados concretos do processo de nazificação em curso no Brasil. Os desafios educacionais do próximo governo não poderão, simplesmente, se restringir à expansão do acesso à educação em todas as esferas, às cotas e ao aumento de políticas de inclusão. Estas são, sem dúvidas, preocupações de que não se pode abrir mão. Todavia, o trabalho mais difícil e profundo a ser feito é lançar uma campanha de contrafogo sobre o projeto de nazificação do país que, como se pode observar, segue a todo vapor.

A célebre frase de Adorno em Educação após Auschwitz: “A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação”, deve permear o novo governo. Toda a energia progressista deve enveredar esforços no sentido de conter o nazismo que se expande por todo o território brasileiro. O trabalho será árduo, permanente, difícil.

Contra a falácia da liberdade de expressão todo cuidado será pouco antes que despertemos aterrorizados em meio a uma “noite dos cristais” à brasileira. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.