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Camila Marins

Jornalista, feminista e ativista LGBT

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As pautas identitárias são o caminho, e não o desvio, a ser seguido na luta de classe

É lamentável que segmentos da própria esquerda objetivem abafar essa potência política, ética e estética. É um erro histórico e tático

(Foto: Mídia NINJA)
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No Brasil, onde a luta de classe é mais intensa? Onde é mais forte a opressão, a violência, e também a resistência? Quem o sistema mata mais, e quais são os principais alvos do fascismo? Todas essas perguntas têm apenas uma resposta: as chamadas “minorias”. 

Aqui, entendemos por minorias aqueles que têm menos acessos aos direitos garantidos na Constituição, mas que compõem uma grande fatia populacional. A juventude e as mulheres negras, a população indígena, a comunidade LGBTQIA+, os grupos sociais historicamente escalados pelas classes privilegiadas para sustentar nos ombros o peso do ultraliberalismo, das desigualdades e de todos os dispositivos de exclusão de direitos. Enfrentar essa realidade estrutural do sistema é o que buscam os movimentos identitários no embate político. 

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São esses movimentos que representam os mais pobres, que se encontram em maior situação de precariedade. Estes grupos estão fora das prioridades orçamentárias e das políticas públicas, e são aqueles que mais precisam da saúde, da educação e do transporte públicos e de qualidade. Na maioria das vezes, são eles quem estão morrendo por tiro, fome ou violência policial. É dentro do movimento identitário que surge a real face da opressão no Brasil, a maioria da classe trabalhadora com consciência de classe plena, afirmada com coragem e orgulho, para fortalecer as estratégias de luta.

O manifesto da luta identitária, lançado em 1974 pelo Coletivo Combahee River, nos EUA, propõe ampliar a ação política, não restringi-la. Quer o fim da desigualdade e da discriminação para qualquer pessoa e aponta para a construção de pontes e para a expansão de possibilidades. Está no clássico “Mulheres, raça e classe” (1981), de Angela Davis, escritora negra, ativista, marxista e feminista, e que carrega em seu corpo e em suas lutas todas estas interseccionalidades identitárias. 

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O reconhecimento do campo identitário está também no conceito de “interseccionalidade”, formulado pela jurista negra Kimberlé Crenshaw, em 1989, para descrever essa simultaneidade de dimensões articuladas para opressão de grupos sociais específicos.

No Brasil, a intersecção dirigida de formas de exclusão e violência está particularmente evidente na militarização da vida, política de extermínio e controle que foi radicalizada dentro das fronteiras dos territórios periféricos. Ali se sobrepõem racismo, LGBQTIAfobia, machismo, classismo, capacitismo, e tantas outras formas de discriminação. E o que a luta identitária quer é organizar a reação, também nas suas múltiplas dimensões – movimentos feministas, antirracistas, de lésbicas, trans, bissexuais e homossexuais, povos indígenas, quilombolas — por uma política de reafirmação da vida.

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A ideia da intersecção de identidades sociais foi pensada pelas feministas negras a partir dos fundamentos marxistas, como estratégia de luta revolucionária, por transformação. Foi o instrumento elaborado para analisar as condições materiais objetivas da vida das populações que sofrem mais, e aproveitou referências da militância negra e feminista dos anos 70, que teve no Brasil nomes como Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro, e foi incorporado por intelectuais como Audre Lorde e Bell Hooks. 

O movimento identitário tem impulsionado experiências inovadoras de mobilização de base, de ativismo de rua, de construção de coletivos, poesias em slams, novas formas de representação e de valorização das periferias na política. É agregador, orgânico e transversal. Faz uma síntese da luta de classe, na qual se destaca a presença do feminismo negro, atuando para a organização das pessoas, vistas na sua realidade concreta, para além da categoria teórica. As mulheres negras hoje são essenciais na defesa dos direitos humanos, e na oposição ao capitalismo e ao "necroliberalismo", expressão cunhada pelo filósofo Achille Mbembe. 

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É lamentável que segmentos da própria esquerda objetivem abafar essa potência política, ética e estética. É um erro histórico e tático, que pode vir a favorecer investidas do fascismo. A extrema direita cresce no mundo e estamos imersos em contexto de imensa brutalidade. Qual é o sentido de atacar a luta identitária? É hora de entender como vivem essas populações excluídas, perseguidas, exploradas.

Estamos nas encruzilhadas, disputando brechas para abrir caminho na institucionalidade, sob muitos riscos. Lutamos por um projeto econômico e social, de orçamento público popular, pelo fim do teto de gastos, por investimento em saúde, educação, ciência e tecnologia, planos de habitação e transporte, resgate do papel das estatais. Debatemos o Brasil, suas questões de gênero, raça e classe, distribuição de renda. Queremos um país com a nossa cara. O movimento identitário não apenas soma forças à luta de classes como também é parte de muitos de seus quadros e não irá retroceder e nem abrir concessões para quem procura minimizá-lo.  

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