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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

92 artigos

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Às ruas para deter o fascismo!

Se houver uma grande participação popular no dia 15 de março o caminho para o aprofundamento do golpe estará pavimentado e, pelo andar da carruagem, não seria estranho se o mesmo fosse dado antes de abril chegar

Manifestação contra Bolsonaro em 2019 (Foto: Divulgação)
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Meu último artigo publicado nesta coluna (https://www.brasil247.com/blog/impeachment-de-bolsonaro-o-pig-a-beira-de-um-ataque-de-nervos) levantou alguns crimes cometidos por Bolsonaro. Inquieto e tosco como só ele é não satisfeito com as diversas barbaridades já pronunciadas e executadas, cometeu mais um crime ao usar sua conta de WhatsApp pessoal para divulgar o ato marcado pela extrema direita contra os outros dois poderes constituídos, o Legislativo e o Judiciário. 

Marcado para o dia 15 de março próximo, este ato colocou em alerta setores “democráticos” nacionais e em polvorosa a esquerda brasileira. Políticos que com sua ação ou omissão permitiram que a situação chegasse a esta sinuca de bico se manifestaram em defesa da democracia brasileira. FHC, Gilmar Mendes e outros colaboradores de primeira hora com golpe de 2016, parecem não ter gostado do filho que ajudaram a parir. 

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Rodrigo Maia e David Alcolumbre, respectivamente presidente da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, deram declarações fracas diante da ameaça de implementação de uma ditadura, explicitando a fraqueza institucional das casas que presidem. Hoje, por exemplo, dia 27 de fevereiro, diretamente de Madri, o presidente da Câmara afirmou que “que não vê aumento de tensão entre o Legislativo e o Executivo por causa da disputa provocada pelo Orçamento impositivo” e que “está tudo tranquilo”. Alcolumbre nada disse até o momento em que este artigo foi escrito. O ato convocado para o dia 15 de março, denominado Dia do Foda-se, foi organizado a partir de declaração do general Augusto Heleno, titular do Gabinete de Segurança Institucional. Heleno é aquele mesmo general “honesto” acusado de vários assassinatos quando comandou as tropas brasileiras no Haiti; que, segundo o TCU, assinou contratos irregulares no valor de 22 milhões de reais para favorecer militares da sua camarilha; o mesmo que não sabia que Bolsonaro era vizinho de milicianos e que não sabe como transportaram 39kg de cocaína em avião da comitiva presidencial. O general acusou os parlamentares de “chantagearem o governo”, coroando sua acusação com um ”foda-se”. O foda-se do Heleno é o equivalente ao “às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência" proferido coronel Jarbas Passarinho, ministro do Trabalho e da Previdência Social do governo do ditador general Costa e Silva, durante a reunião que redigiu o AI-5, em dezembro de 1968.

Não se deve esquecer que março é um mês simbolicamente importante para aqueles que defendem o golpe de 1964 e outras soluções de força para resolver as questões sociais.

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O presidente do STF, Dias Toffoli, foi extremamente moderado. Celso de Mello alegou que o ato de Bolsonaro ter divulgado o vídeo de convocação para o ato do dia 15 de março “pode configurar crime de responsabilidade”. Pode? Configura claramente um crime de responsabilidade.

Bolsonaro alegou, cinicamente, que usou suas redes sociais particulares para divulgar o tal vídeo convocando pessoas para o ato do dia 15 de março como se o fato de ser suas redes sociais pessoais e não oficiais torna-se menos grave a divulgação do vídeo. Parece que ninguém está acreditando no alto-golpe que Bolsonaro pretende dar para livrar-se das apurações dos casos Marielle Franco, Fabrício Queiroz e Adriano da Nóbrega que, segundo todos os indícios, têm uma forte ligação entre eles, nos quais a família Bolsonaro estaria envolvida.

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A oposição esperneia, esperneia e, parece, vai convocar o general Heleno para ir explicar-se no Senado ou na Câmara.

Jornalistas da grande imprensa, que participaram do golpe contra Dilma Rousseff e o apoiaram ativamente, agora estão sendo perseguidos pelas milícias, digitais ou não, bolsonaristas. Estão buscando apoio popular contra essas milícias sem, contudo, em nenhum momento, fazer uma autocrítica e pedir desculpas ao povo brasileiro pelo o que fizeram – mentiram, desinformaram, distorceram fatos – durante todo o processo que levou do golpe de Estado contra Dilma Rousseff, passando pela sustentação do governo Temer até a eleição de Jair Bolsonaro. Colocaram-se contra os interesses do povo brasileiro e agora que “deu ruim” querem que este mesmo povo os defenda. Mas não vai rolar nem um pedidozinho de desculpas?

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A oposição quer formar uma grande frente ampla, atuando junto com setores que apoiaram o golpe desde o início.

Ciro Gomes, bravateando nas redes sociais, só falta chamar Bolsonaro para sair no braço, sem deixar de afirmar que a culpa de toda esta situação política temerária é do “lulopetismo”. Se ele quisesse lutar realmente contra a escalada fascista deveria ter ficado no Brasil durante o segundo turno das eleições de 2018. Ali a sua contribuição teria sido fundamental. Talvez até pudesse ter evitado a eleição do presidente fascista. Quem sabe?

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Diferentes setores esquerda já tinham programado três atos para março. O primeiro, no dia 8, pelo Dia Internacional da Mulher. O segundo, no dia 14 de março, no aniversário de dois anos do assassinato de Marielle Franco e a CUT convocou um ato para quatro dias depois, no dia 18, o Dia Nacional de Luta em Defesa do Serviço Público, Estatais, Emprego e Salário, Soberania, Defesa da Amazônia e Agricultura Familiar. Se nada mudar, o dia 15 de março será reservado para as manifestações da extrema direita e isso é perigoso porque se os fascistas colocarem muita gente nas ruas demonstrarão uma força política que será difícil de derrotar posteriormente. O ato contra o assassinato de Marielle Franco poderia se transformar em uma vigília e todos permanecerem ocupando as ruas, não deixando a extrema direita ocupá-las. Na história do Brasil já temos o exemplo da Batalha da Sé. No dia 7 de outubro de 1934 a Ação Integralista Brasileira/AIB havia marcado um comício na Praça da Sé, em São Paulo, para comemorar os dois anos da publicação do Manifesto integralista. Setores antifascistas, liderados por anarquistas e comunistas, confrontaram os integralistas e acabaram com o ato. Foi uma grande derrota imposta aos fascistas e contribuiu para o enfraquecimento da AIB 

O fato é que Bolsonaro colocou suas cartas na mesa e está controlando o jogo. Se houver uma grande participação popular no dia 15 de março o caminho para o aprofundamento do golpe estará pavimentado e, pelo andar da carruagem, não seria estranho se o mesmo fosse dado antes de abril chegar.

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Por outro lado, se o ato for dissipado pelos setores antifascistas Bolsonaro convocará seus apoiadores alegando que a “democracia” estará em risco. Ele precisa dos militares para prosseguir com seus planos e levar adiante o seu 18 de brumário. Embora já se perceba uma divisão entre os militares, o motivo desta divisão é o Bolsonaro e não uma ditadura militar em si que, cá entre nós, seria apoiada de bom grado pelas classes dominantes, por esta mesma imprensa que está criticando Bolsonaro e por segmentos da população saudosas dos governos militares. 

A melhor conjuntura seria que a manifestação fascista fosse um fracasso, mas seria muito arriscado apostar nesta hipótese. Na dúvida, a ocupação das ruas para não deixar que a manifestação fascista aconteça parece ser a melhor opção porque os antifascistas demonstrariam que estão alertas, unidos e fortes na defesa dos interesses do povo brasileiro.

Sendo assim, todos às ruas para deter o fascismo!

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