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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

92 artigos

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Impeachment de Bolsonaro: o PIG à beira de um ataque de nervos

Bolsonaro já deu dezenas de motivos para ser impedido

(Foto: Marcos Correa - PR)
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É chato voltar a um assunto já tratado antes nesta coluna, mas a agitação da mídia por causa das ofensas de Bolsonaro à repórter da Folha de São Paulo trouxe à tona a questão do impeachment do Bolsonaro. O que há de novo desta vez é a unanimidade da mídia, clamando pelo impedimento do presidente tosco. Ao PIG o impeachment interessa, mas à mídia alternativa de esquerda está sendo manipulada.

Bolsonaro já deu dezenas de motivos para ser impedido. Site da deputada federal Samia Bomfim lista no dia 31 de julho de 2019 exatamente vinte e quatro crimes variados cometidos por Bolsonaro. São seis quebras de decoro: 1. Zombou da morte do pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz; 2. Afirmou, de maneira leviana, que a jornalista Miriam Leitão havia inventado ter sido torturada durante a ditadura civil-militar; 3. Chamou os nordestinos de “paraíbas” e afirmou que só repassaria verbas públicas aos estados alinhados com o Governo Federal; 4. Publicou o famoso vídeo com golden shower durante o carnaval de 2019, o que pode ser caracterizado como um vídeo pornográfico; 5. Negou que liderança Waiapi tenha sido assassinada no Amapá; 6. Desprezou a gravidade do massacre ocorrido em um presídio em Altamira no Pará. 

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Foram três ameaças aos direitos civis: 1. Assinou o decreto nº 666 (o Decreto do Anticristo) que estabeleceu a deportação sumária de estrangeiros, tentando atingir o jornalista Glenn Greenwald do The Intercept Brasil que havia começado a divulgar os dados coletados pela Vaza Jato. Interessante: atacar jornalistas independentes não desperta a ira justiceira do PIG; 2. Ameaçou prender o jornalista Glenn Greenwald devido aos vazamentos da Vaza Jato; 3. Ameaçou acabar com a Agência Nacional do Cinema se ele não pudesse controlar o conteúdo dos filmes apoiados por ela.

Crimes contra a administração pública foram oito cometidos diretamente por Bolsonaro ou por seus subalternos diretos: 1. Negou e desqualificou dados importantes coletados, analisados e divulgados por agências governamentais que sempre foram utilizados para nortear políticas públicas, contestando dados produzidos sobre o desmatamento (INPE) e sobre a fome (IBGE, apoiado por dados Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura/FAO); 2. Desmontou a fiscalização florestal e culpou e ONGs e ambientalistas pelas queimadas na Amazônia; 3. Censurou os números do 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas realizado pela Fiocruz, um dos mais respeitados institutos de pesquisa do mundo, acusado pelo governo Bolsonaro de ser um levantamento “ideológico”; 4. Liberou para venda e uso centenas de agrotóxicos prejudiciais à saúde; 5. Ameaçou extinguir a ANVISA caso esta regulasse o cultivo de maconha para uso medicinal; 6. Cortou verbas das universidades públicas, dos Institutos Federais e de órgãos de fomento à pesquisa, ameaçando seu bom funcionamento; 7. Comprou parlamentares com a liberação de verbas públicas em troca da aprovação da Reforma da Previdência; 8. Não conseguiu impedir que 39 kg de cocaína fossem embarcados em avião da comitiva presidencial e transportados até a Espanha.

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Peculato, nepotismo, uso da máquina pública em proveito próprio foram três: 1. Fiscal do Ibama que o multou por pescar em área de preservação foi exonerado; 2. Indicou o próprio filho fritador de hamburgueres para a embaixada do Brasil nos EUA; 3. Utilizou helicópteros da FAB para transportar parentes para o casamento do filho fritador de hamburgueres e se justificou dizendo que não poderia negar e mandar todos os seus parentes irem de carro.

Cometeu dois crimes que podem ser qualificados como lesa pátria: 1. Conspirou com a CIA contra a Venezuela; 2. Recomendou aos milicos que comemorassem o Golpe de 1964.

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Duas fraudes eleitorais: 1. A chapa Bolsonaro/Mourão foi eleita graças às atividades ilegais de lawfare implementadas por Sérgio Moro na Lava Jato que, em troca, foi nomeado ministro do Bolsonaro; 2. A mesma chapa usou verba de Caixa 2 para pagar disparos ilegais de mensagens de WhatsApp que difundiram uma série de mentiras que levaram esta chapa à vitória nas eleições de 2018.

Todos os crimes listados acima foram cometidos até julho de 2019. De lá para cá, foram várias faltas de decoro, comportamentos de indigente mental como as bananas para os repórteres e ofensas à Brigitte Macron, obstrução de justiça nos casos Marielle e Queiroz e outras atitudes deploráveis. Nada disto foi suficiente para levantar a ira do PIG contra Bolsonaro e levá-lo a pedir a cabeça do presidente tosco. Por quê? Porque Bolsonaro, apesar de toda a sua falta de decoro, sua falta de educação, seu comportamento de criança de cinco anos, suas atitudes criminosas, estava conseguindo implementar a agenda neoliberal tão ao gosto do PIG. Por que agora todos, em uníssono, defendem o impeachment? Será por que ele quebrou o decoro do cargo que ocupa quando agrediu grosseiramente a repórter da Folha de São Paulo? E quando ele agrediu o nipo-brasileiro dizendo que o mesmo tinha um pequeno órgão sexual? E quando ele disse que tinha que segurar a carteira porque tinha flamenguista por perto? E as bananas para os repórteres? Tudo isto também não é quebra de decoro?

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Curiosamente, a agressão à repórter ocorreu no mesmo dia em que o posto Ipiranga, Paulo Guedes, ameaçou deixar o governo. Guedes, o responsável pela implementação da agenda neoliberal, o queridinho de banqueiros, testa de ferro do imperialismo no Brasil. Seria este o motivo?

A reação agressiva do PIG não tem nada de alinhada com os interesses do povo brasileiro. A imprensa golpista quer não quer a cabeça do Bolsonaro porque ele cometeu vários crimes de diferentes tipologias, não porque ele esteja desindustrializando o país, gerando uma enorme massa de desempregados e de precariado, não porque ele esteja vendendo nossas reservas e nossas terras produtivas ao capital estrangeiro, não porque ele esteja desnacionalizando o que resta da indústria nacional, nem porque esteja vendendo nossas estatais estratégicas a preço de banana. O PIG quer a cabeça do Bolsonaro porque ele se tornou um estorvo para os setores liberais mais refinados e porque já fez grande parte do trabalho sujo. Caindo Bolsonaro assume o general Hamilton Mourão que poderá governar de uma maneira mais tranquila porque falta pouco para acabar o desmonte do Brasil. Além do mais, as Forças Armadas estão entre as instituições mais bem avaliadas pelo povo brasileiro segundo pesquisa realizada pela CNT/MDA. A ascensão de Mourão poderia significar a calmaria que a classe dominante brasileira necessita para aprovar o que resta das “reformas” neoliberais e, por extensão, a melhorar a imagem do Brasil e de suas classes dominantes no exterior. Assim, ele prepararia o caminho para a ascensão do “salvador da pátria”, o candidato riquinho, cheiroso e bem-educado, Luciano Huck, em 2022. Huck, em Davos já deixou claro que não é contra a política econômica e social implementada por Bolsonaro e Guedes. Segundo ele, os princípios desta política estão corretos o problema é quem a está implementando “aquele grosseirão sem berço”. Huck vem forte em 2022 com o apoio do empresariado, do Renova BR e do PIG.

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Triste é constatar que boa parte da mídia alternativa entre nesta marola do PIG de maneira acrítica, defendendo o impeachment de Bolsonaro sem enfatizar que há crimes originais, anteriores à eleição da chapa Bolsonaro/Mourão, resultantes da ação da Lava Jato, que impediu Lula de concorrer às eleições presidenciais de 2018, como também da fraude do WhatsApp.

Como abordado nos artigos anteriores, cujos links foram postados no primeiro parágrafo desta coluna, o impeachment é um instrumento legítimo, desde que aquele que será objeto de sua ação tenha sido legitimamente eleito. No caso em questão, o impeachment só iria legitimar a eleição da chapa fraudadora, além de dar armas para Bolsonaro que mobilizaria seus fiéis seguidores contra o que ele definiria como um golpe contra ele.

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A luta tem que ser pelo fora Bolsonaro e pela anulação das eleições de 2018, convocação de novas eleições gerais (já que a fraude eleitoral elegeu não só a chapa Bolsonaro/Mourão, como também governadores, senadores e deputados federais e estaduais) e anulação de todo processo da Lava Jato, cujos vícios foram denunciados e expostos pela Vaza Jato.

O momento é propício para estas pautas. O governo encontra-se fragilizado, o descontentamento popular já se manifesta nas greves dos petroleiros, caminhoneiros e moedeiros. Será que, mais uma vez, o cavalo passará encilhado e a oposição de esquerda não terá capacidade de cavalgá-lo?

P.S.: Quando estava escrevendo esta coluna, a imprensa noticiou que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), declarou que o ataque de Bolsonaro à repórter da Folha de São Paulo “é página virada” e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), qualificou a ofensa como “episódio triste e lamentável”. Não se manifestaram sobre a abertura de um processo de impeachment: pelo visto, o impeachment defendido pelo PIG o vento levou. 

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