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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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As vertigens da lista

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Entre as inúmeras coisas com as quais o governo federal deveria se preocupar, perseguir jornalistas e formadores de opinião não deveria ser uma delas. Digo isso, é claro, tomando por base o restinho de sombra do Estado democrático de direito que ainda paira sobre o Brasil, aviltado a cada nascer do sol. E foi assim que, no início da semana, fomos todos tomados de indignação pela informação de que o governo brasileiro investiu a módica quantia de 2,7 milhões de reais de dinheiro público, contratando a empresa BR+ Comunicação para que, entre outros “serviços de comunicação”, monitorasse professores, jornalistas e demais formadores de opinião.

A empresa, seguindo os métodos “da minha cabeça” e “copia e cola 1964”, listou 81 nomes classificados em três grupos específicos, a saber: “detratores”, “favoráveis” e “neutros informativos”. Ao ser questionada pela mídia, a BR+ Comunicação se apressou em dizer que a utilização do termo “detratores” foi um erro de processo. Em vez de “detratores”, “favoráveis” e “neutros informativos”, o correto seria “Negativo”, “Positivo” e “Neutro”. E é claro que nem a mais incauta das criaturas do reino das fadas compraria uma balela dessas, uma vez que  o modus operandi da empresa que, conforme matéria do Brasil 247, de 02/12/20, tem como único cliente o governo Jair Bolsonaro, é o mesmo utilizado pelos órgãos de repressão durante a ditadura civil-militar no Brasil, o DEOPS, por exemplo, bem como nos regimes mais sangrentos de ontem e de hoje mundo afora.

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Muitas coisas nos chamam a atenção na listinha do seu Jair. Por exemplo, são listados como “detratores” alguns nomes que, na verdade, deram o sangue para colocar no poder o grupo que aí está. Que ingratidão, seu Jair! Há ainda incoerências, como listar um mesmo nome como “detrator” e “favorável”. Como assim, BR+? E isso sem nem entrarmos no mérito da questão do que diabos se quer dizer com “neutro informativo”. Bizarrices à parte, a lista elaborada pelo governo Bolsonaro em momento algum se justifica. Trata-se, sim, de um frontal ataque às liberdades individuais, uma vez que expõe dados pessoais das pessoas listadas, colocando-as em risco. Seria essa a intenção? Caracteriza-se ainda como mais um ataque do atual governo ao direito constitucional à liberdade de expressão. Logo, em termos gerais, trata-se de um ataque ao que ainda resta da democracia brasileira. Mas ainda bem que as Instituições estão funcionando, colocando em prática seus freios e contrapesos ao avanço da repressão, da censura e da barbárie. Oh, glória!

O escândalo da lista em questão é mais preocupante do que se imagina. É claro que um governo antidemocrático não paga uma fortuna por uma planilha de Excel para “monitorar” apenas 81 pessoas, que falam sobre um ministério específico, no caso, o da Economia, quando essas mesmas pessoas, exercendo seu direito constitucional, falam muito mais sobre outras questões. Em algum momento, imagino, serão divulgadas as listas dos “monitorados” do legislativo e do judiciário. Quando isso acontecer, talvez se perceba a profundidade do abismo no qual nos meteram.

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 Enquanto isso, rimos, pois quase tudo que vem do Planalto ou é um coquetel de tristeza, maldade e dor ou é piada. Não há, no entanto, graça na lista de “detratores” elaborada pelo governo brasileiro. Ao contrário, tem-se documentado, aquilo que o governo pensa não apenas dos posicionamentos daquelas pessoas que foram elencadas, bem como sobre aqueles e aquelas que apontam e colocam o dedo na ferida da inoperância, da corrupção e da incompetência, que é exatamente o que se espera de jornalistas, professores e formadores de opinião em um regime democrático. Assim, ao listar tais nomes o governo Jair Bolsonaro, repetindo os governos ditatoriais que o antecederam, tenta transformar o cidadão brasileiro crítico em subversivo e detrator da República. Enquanto isso, a empresa BR+ Comunicação vai lucrando com contratos milionários em diferentes ministérios do atual governo. 

Pelo visto, prezados “detratores”, as ligações do Grande Irmão com as entranhas do governo Bolsonaro precisam ser observadas mais de perto, com bastante atenção, pois há algo de muito podre no reino da Bananalândia.

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