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      Ângelo Cavalcante

      Economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

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      Aspectos introdutórios da economia urbana

      Quanto custam as centenas, ou centenas de milhares de compromissos não realizados por conta do ônibus que não veio; do ônibus que enguiça no meio do trajeto; no engarrafamento que me impediu de chegar no horário certo ou; o acidente acontecido e que gerou uma fila quilométrica de gente apressada e muito atarefada?

      A economia urbana é ramo da ciência econômica afeita com o estudo, análise e interpretação crítica e histórica de processos sociais e territoriais circunspectos às espacialidades urbanas. Não se limita a apenas identificar mecanismos econômicos restritos a um território urbano ou suburbano dado. Mais do que isso envolve o entendimento da convergência ou do entrelaçamento de fatores ou movimentos que definem o urbano na contemporaneidade. É também da sua competência e alçada a decodificação das definições, características, comportamentos e formas de ser da vida urbana.

      É amplo campo do saber e que, evidentemente, estabelece interface com diversos outros ramos do conhecimento, tais como história, geografia, sociologia, antropologia, arqueologia, estatística e biologia. Ao analista econômico cabe identificar quais os elementos intra ou extra-urbano e que geram condicionamentos, bloqueios ou impeditivos para que processos econômicos aconteçam com maior celeridade, equilíbrio, amplitude e inovação.

      Bom exemplo a esse respeito é entender, por exemplo, os custos, econômicos, mas não só econômicos, dos amplos aglomerados de carros nas vias das cidades, nos bem conhecidos engarrafamentos; aliás, quanto custa não termos um bom sistema de transporte público na cidade? Quanto pagamos por carros velhos ou novos lançando intermitentemente poeira tóxica na já muito baixa qualidade do ar de nossas cidades? Quanto custa anualmente os milhões de acidentes a envolver motoristas e pedestres nas grandes cidades do país?

      Quanto custam as centenas, ou centenas de milhares de compromissos não realizados por conta do ônibus que não veio; do ônibus que enguiça no meio do trajeto; no engarrafamento que me impediu de chegar no horário certo ou; o acidente acontecido e que gerou uma fila quilométrica de gente apressada e muito atarefada?

      Estas são "deseconomias"! São desinvestimentos ou antieconomias e que assolam as economias municipais e populares. Os exemplos a esse respeito são muitos e diversos. Outro bom questionamento é identificar os propalados custos ambientais de chaminés que vomitam milhões de toneladas de lixo gasoso para milhões de seres humanos; e quanto custa, afinal, não termos florestas urbanas? Quanto paga a população por não ter uma eficiente rede de esgotos? E os bilhões de esgotos de dejetos lançados em rios e mananciais? De fato, é difícil de dizer porque essa contabilidade é especial; não é clássica e envolve um número enorme de variáveis e que o pensamento esquemático, neoliberal e imediatista jamais conseguirá equacionar.

      É da economia urbana compreender esses dilemas da atividade urbana, atividade econômica por excelência; é da sua natureza epistemológica deslindar sobre as razões pelas quais o empreendimento do urbano é tão fragorosamente fracassado; os motivos pelos quais as grandes cidades do terceiro mundo avançam se convertendo em anomalias sócio-urbanas que servem formas velhas e modernas de especulação onde a totalidade do urbano é, das mais distintas formas, transferida para o controle privado.

      Finalmente, a economia urbana estuda a bélica, sempre inquieta e litigiosa relação entre o conceito histórico de cidade como o "topos" civilizacional e moderno da vida comum e o escancaramento de sangue e cinzas da vida real onde a cidade é para poucos. É do que se trata!

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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