Assistam, amanhã, ao julgamento do núcleo 4. Melhor só capítulo do Vale Tudo
De acordo com a avaliação de juristas, poderão pegar até 46 anos de reclusão, mas não vão
Amanhã (14/10), a primeira turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começa a julgar, às 9h, o “núcleo 4”, chamado de “núcleo da desinformação”. Eles são acusados de produzir uma profusão de fake news sobre o sistema eleitoral, a fim de manter o então presidente Jair Bolsonaro no poder e por ações de suporte logístico para abastecer os ataques de 8 de janeiro de 2023. Estarão em questão alguns militares, além de um policial federal ligado à Abin e o presidente do Instituto do Voto Legal, todos acusados de difamarem o sistema de urnas eletrônicas.
Como escrevi e falei à exaustão, não foram só os oficiais a aderir à conspiração. Também os comandos estiveram a bordo do golpe, mas recuaram na hora “H”, pois receberam recados claros e contundentes do governo Biden (EUA), de que não teriam o apoio estadunidense na aventura. E como viver sem as viagens de intercâmbio para o Norte, não é mesmo?
Para surpresa de ninguém, os militares deram, sim, apoio ao golpe de 8 de janeiro de 2023. O que isso muda no quadro das apurações e julgamentos? Absolutamente nada. Há eleições em 2026, e, sob essa perspectiva, há um acordo tácito para que tudo fique como está para ver como é que fica.
Esqueçam que o comandante do Exército, Marcos Freire Gomes, foi a cinco reuniões com Jair Bolsonaro, que lhe apresentou a minuta do golpe. Esqueçam que, em sua delação premiada, o ajudante-de-ordem de Bolsonaro, Mauro Cid, contou que Freire Gomes deu pitaco para mexidas no texto da minuta do golpe. Esqueçam que Marcos Freire Gomes, Almir Garnier e o tenente-brigadeiro Baptista Júnior assinaram uma nota golpista no dia 11 de novembro de 2022, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já eleito. Esqueçam que os comandantes das três Forças receberam uma carta que os exortava a aderir à conspirata, assinada por oficiais da ativa de suas armas, e nada fizeram. Não os puniram, não denunciaram o golpismo, não cumpriram com o dever de zelar pela democracia. Esqueçam, enfim, que houve uma tentativa violenta da abolição do Estado de Direito. Olhem para a frente.
Alguém avisa lá nos “esteites” para o Eduardo Bolsonaro que não precisa se esgoelar pela “anistia” do pai. Tá tudo resolvido. Assim como ninguém tocou nos barões do Agro – porque sustentam a balança comercial do país –, e, portanto, não poderiam ser responsabilizados pelo envio de uma verdadeira frota de ônibus a Brasília, recheados de bolsonaristas dispostos a quebrar tudo, também ninguém abrirá confronto com os militares, como sempre. Que Dudu fique calmo. O pai dele vai ficar de molho em casa, recebendo correligionários, pastores, organizando cultos com a mulher e articulando a política como se dela ainda fizesse parte. Haja pano!
Há quem se pergunte por que Jair Bolsonaro ainda frequenta as pesquisas de opinião pública sobre as próximas eleições. Ora, para que os interessados tenham condições de continuar a mapear a força de seu campo na ultradireita. Como fazê-lo sem que ele esteja nas pesquisas? Como medir o tamanho da reserva de intenções de votos para o seu substituto, se o tirarem da pesquisa?
A propósito, avisem para o Sóstenes Cavalcante, que pode colocar no bolso aquela conversa sobre “anistia ampla, geral e irrestrita”. Soa muito anos de 1970. Que ele também não se desgaste. A menos que não tenha outros projetos para tocar na Câmara. O que, sinceramente, acho difícil.
A adesão ao golpe, em imagens
Hoje (13/10), o Estadão revelou vídeos comprovando o total apoio de militares à instalação dos acampamentos na frente do Quartel Central do Exército, em Brasília.
O material foi entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR) há alguns meses, pelo advogado Sildilon do Nascimento, à Polícia Federal (PF), como parte de uma proposta de colaboração premiada, a fim de livrar o seu cliente, o blogueiro Wellington Macedo, autor das gravações exibidas hoje pelo Estadão. Foi o que informou matéria sobre o tema, publicada no Diário do Centro do Mundo. Nascimento se encontra preso por ordem do STF por envolvimento na tentativa de atentado a bomba em Brasília, em dezembro de 2022. (Interessante é que George Washington, o artesão da bomba, a princípio condenado a nove anos, está solto).
Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército confirmou a atuação no local e justificou que o Setor Militar Urbano (SMU), onde ocorreu o episódio, é uma área sob jurisdição militar e recebe manutenção regular.
“O uso de maquinário de engenharia se fez necessário para a manutenção do local, tendo em vista o acúmulo de lama e o desnível que se apresentava no terreno”, afirmou o Exército.
A defesa de Wellington nega qualquer envolvimento dele com o episódio da bomba e afirma que ele não conhecia os responsáveis pela ação. Após analisar o material, a equipe do procurador-geral Paulo Gonet informou, em abril de 2023, que não tinha interesse em prosseguir com o acordo.
Serão julgados amanhã (14/10) pela primeira turma: Reginaldo Vieira de Abreu, Guilherme Marques de Almeida, Marcelo Araújo Bormevet, Ailton Barros, Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, Giancarlo Gomes Rodrigues e Ângelo Martins Denicoli.
Pelo já exposto acima, esses senhores respondem por aquele conjunto de cinco crimes nos quais estão incursos Jair Bolsonaro e seus cúmplices - os mentores do golpe - incluindo o de organização criminosa.
De acordo com a avaliação de juristas, poderão pegar até 46 anos de reclusão, mas não vão. Nem o chefe da gangue foi condenado a isso. Pegou 27 anos e 3 meses, quem sabe, de pijama à beira da piscina. Portanto, já se preparem para fazer o bolão da dosimetria. Talvez até mais suave do que alguns dos terroristas que depredaram os três prédios públicos e foram condenados a 17 anos. São militares. Esse é um detalhe importante.
A vida do país precisa caminhar, o passado ficou lá atrás, a democracia exige homens de boa vontade. (Contém ironia), é preciso avisar, antes que chovam pedras sobre a autora. Apesar de tudo, convém acompanhar, a partir das 9h da manhã, nem que seja pelo exercício de cidadania, o que fizeram esses senhores e como serão tratados pela Justiça. Preparem-se – quando chegar a hora da sentença –, para mais 15 horas de voto do ministro Luiz Fux, para o bom humor do ministro Flávio Dino e para o exercício de estilo da ministra Carmem Lúcia. Vale a pena. Melhor só último capítulo de Vale Tudo.
O outro lado
PS: O 247 – através desta jornalista – solicitou ao Exército informações do tipo:
- De quem partiu a ordem para a execução da terraplanagem na frente do QG do Comando Central, no dia 18 de novembro de 2022?
- Qual foi o custo dessa obra e quantos homens foram empregados na empreitada?
Recebeu como resposta uma nota padrão, já amplamente divulgada pela mídia:
Prezada jornalista Denise Assis,
Em resposta à sua solicitação, enviada por e-mail em 13 de outubro de 2025, o Centro de Comunicação Social do Exército esclarece que o Setor Militar Urbano (SMU) é uma área sob jurisdição militar, cuja manutenção é realizada regularmente pela Força, visando a proporcionar um ambiente em condições adequadas para receber os frequentadores daquele espaço público.
Cabe destacar que, sob a ótica do turismo, o SMU é um dos espaços públicos mais singulares e simbólicos da capital federal e se destaca tanto pela sua beleza estética quanto pelo seu valor cívico, histórico e cultural, combinando arte, natureza, arquitetura e simbolismo militar.
Na ocasião relatada, o uso de maquinário de Engenharia se fez necessário para a manutenção do local, tendo em vista o acúmulo de lama e o desnível que se apresentava no terreno.
Atenciosamente,
CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO
EXÉRCITO BRASILEIRO
BRAÇO FORTE - MÃO AMIGA
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




