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Ricardo Almeida

Consultor em Gestão de Projetos TIC e ativista do movimento Fronteras Culturales

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Bolsonaro e Forrest Gump: entre a realidade e a ficção

Quem acha que Bolsonaro é um Forrest Gump está muito enganado! Na verdade, ele é um produto da grande mídia, da indústria internacional das fakenews, do aparelhamento da justiça brasileira e de uma facada mal explicada, durante as eleições presidenciais

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Forrest Gump – O Contador de Histórias é uma comédia dramática que proporciona algumas reflexões contraditórias sobre a história política dos EUA na segunda metade do século 20, mas que também pode contribuir para abrir certas mentes embrutecidas. No filme de 1994, o diretor Robert Zemeckis revela a existência de um olhar voltado apenas para o presente (imediato), para os chamados prazeres individuais, que deixam a construção do futuro para os “outros”, num mundo dominado pelo egoísmo, pela alienação política, pelos selfies e pela adoração às “celebridades”.Apesar de ser uma personagem amável, Forrest vivia como uma pena flutuando no ar, sem entender o que se passava à sua volta. No entanto, mesmo atrapalhado, ele acabou se tornando um protagonista da história política norte-americana, pois estava presente “no momento certo” e “na hora certa” quando fatos importantes aconteciam. Assim, na sua ingênua curiosidade, ele acabou fazendo parte daquela história, pois sua “participação” foi registrada pelas lentes dos fotógrafos e pelos jornalistas de plantão.Nas poucas vezes em que o “soldado Gump” falava, dizia que era fácil servir ao exército, pois bastava “fazer a cama direitinho”, “estar sempre em pé” e “responder todas as perguntas” dizendo: “Sim, senhor! Sim, senhor!”. A mãe de Forrest deu conselhos fundamentais para ele, e costumava repetir que “a vida é como uma caixa de bombons... Você nunca sabe o que vai encontrar!”. Ao ouvir isso, Forrest interpretava (?) que ninguém poderia imaginar um futuro possível e que, por isso mesmo, não adiantava fazer reflexões sobre as possibilidades e nem sobre o destino que estava a sua frente. O seu nome, por exemplo, foi uma homenagem a um antepassado da família que fez parte da história norte-americana: tratava-se de uma liderança da Ku Klux Klan.De uma maneira trágica e divertida, o Contador de Histórias nos fez enxergar o mundo ao redor com os olhos desarmados e, ao mesmo tempo, com uma enorme vontade de desvendar os obstáculos e a complexidade da vida contemporânea. Uma vida caracterizada pela abundância de informações (televisão e internet – Facebook, Instagram, Twitter, Youtube, Telegram, Signal etc), e também pelo surgimento de redes caórdicas de relacionamentos, pelo crescimento de valores egoístas e individuais, e pela triste proliferação de grupos de pessoas céticas, dispersas e solitárias.

Depois de assistir ao filme se consegue pensar melhor sobre as nossas escolhas, sobre a relação que temos com a nossa família, com os amigos, com a história e também com a política. No entanto, muitas pessoas preferem se identificar com o amável Forrest e seguirão a vida sem se comprometer com nada, ao não medir as consequências dos seus atos e silêncios. Algumas, mais idealistas, seguirão apenas fazendo os seus protestos até a morte, enquanto outras se atreverão a reconhecer, investigar e participar das disputas existentes nas suas comunidades, no país e no mundo.

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Numa sociedade dominada pelas mídias digitais, pelos robôs e pelos algoritmos, ficamos perplexos assistindo muitas verdades serem substituídas pelas aparências e pelas chamadas fakenews, seja por meio de uma propaganda de um produto a ser consumido ou por algum candidato canastrão. O fato é que, nessa confusão midiática e mental, ficou muito difícil identificar a verdadeira intenção das pessoas e os valores que orientam as relações presenciais e/ou virtuais. Algumas pessoas até dizem querer mudar a vida, mas na verdade seguem apenas descarregando os seus medos e as suas angústias nas redes sociais. 

Infelizmente, muita gente ainda está pouco se importando com o método que está sendo utilizado para furar as bolhas e acaba atrasando o seu próprio amadurecimento, assim como o dos coletivos. Essas agem como se não tivessem “compromisso” com ninguém, e as palavras, os gestos e as intenções acabam se tornando “coisas” a serem depositadas em algum aplicativo de mensagens, que, na maioria das vezes, perdem o seu sentido prático, humano e sensível. Preferem relações frias e impessoais, como se tudo fosse um verdadeiro “jogo de azar”. 

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E o que o Bolsonaro tem a ver com tudo isso? É verdade que ele gosta de bater continência para a mesma bandeira de Forrest Gump, de dizer que recebeu uma educação rígida e hierárquica (em casa e no exército), que nunca sabe o que vai acontecer no futuro, que possui milhares de seguidores etc. e tal… O que muita gente não percebe é que ele age assim porque foi treinado para ser um serviçal e que a expulsão do exército pode ter sido a sua maior frustação. Depois de ser eleito deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro e passar 28 anos no parlamento e aprovar apenas dois projetos de lei, ele quer entrar para a história como um presidente inspirado nos seus ídolos do passado, que usavam a força, a tortura e a mentira, para abrir o país para o capital estrangeiro, principalmente para as empresas norte-americanas. Portanto, quem acha que Bolsonaro é um Forrest Gump está muito enganado! Na verdade, ele é um produto da grande mídia, da indústria internacional das fakenews, do aparelhamento da justiça brasileira e de uma facada mal explicada, durante as eleições presidenciais. É preciso lembrar que o candidato preferencial dos setores conservadores e entreguistas eram outros (Joaquim Barbosa, Luciano Hulk e Geraldo Alckmin, por exemplo), mas o plano deles deu errado e acabaram elegendo um ex-capitão frustrado que não entende nada de nada, e que está transformando o Brasil numa verdadeira vergonha internacional. No entanto, assim como aconteceu com outros políticos espertalhões, Bolsonaro deverá ser descartado pelas forças econômicas nacionais e internacionais após a sua base parlamentar (que também foi eleita pela fraude das fakenews) aprovar algumas propostas estratégicas no Congresso Nacional. Lembrem que após o golpe de 2016, ainda durante o governo Temer, essas forças conseguiram acabar com diversos direitos trabalhistas e que agora estão atuando para privatizar a previdência pública e se apropriar de diversos serviços do Estado brasileiro – como o SUS, as Farmácias Populares etc., além de destruir e/ou vender as maiores empresas nacionais.

Essa realidade seria cômica se não fosse trágica! No entanto, é fundamental reconhecer que a história já começou a ser reescrita a partir das organizações e das lutas sociais que estão ressurgindo após anos de dispersão. Contraditoriamente, em função das suas políticas impopulares, Bolsonaro e seus ministros conseguiram unificar diversos setores da sociedade brasileira em defesa dos seus direitos, e grandes mobilizações estão ocorrendo a cada dia que passa. Assim, o futuro começou a ser definido pelas novas mobilizações, pelo avanço da consciência política e pela capacidade de organização que os brasileiros e as brasileiras estão demonstrando nos seus estados, municípios, e também no exterior do país.

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Após as grandes manifestações de 2018 e 2019, a revelação dos subterrâneos da trama pelo The Intercept Brasil e a estreia do documentário “Democracia em Vertigem”, esses ensaios recentes estão mostrando aos que lutam que este plano entreguista possui uma grande chance de naufragar. Se as forças de esquerda aprenderem com essas experiências, pode ser que esses grupos econômicos que dão sustentação ao governo Bolsonaro, junto com os seus fanáticos seguidores, tenham que se explicar às novas gerações pelo sucateamento do país e pela afronta aos direitos básicos da população brasileira. Algumas obras de ficção conseguem aproximar cenas do cotidiano com a história de um país, como é o caso de Forrest Gump, mas essa tragédia brasileira não pode ser tratada como um filme, pois todos nós seremos responsabilizados pelas nossas escolhas individuais e coletivas, e principalmente pelos nossos silêncios. 

(este artigo foi reescrito e adaptado a partir de outro artigo, em que eu fazia referência a outro político espertalhão do estado do Rio Grande do Sul)

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