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Mateus Mendes de Souza

Bacharel em Geografia pela UFF e mestrando em Ciência Política – Política Mundial pela UniRio, professor da rede municipal de Duque de Caxias e diretor do Sepe-Duque de Caxias

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Brasil sob ataque

Entender como se deu essa operação de guerra para a conquista e submissão do Brasil é uma tarefa de primeira ordem e esse entendimento passa pela compreensão da revolução colorida realizada aqui

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Não é de hoje que muitos falam que o Brasil foi e é vítima de uma guerra híbrida. Também já faz muito tempo que vários comentaristas e analistas falam que houve no Brasil uma revolução colorida. Não é à toa. Afinal, os governos de Temer e de Bolsonaro mais parecem um escritório de departamento colonial do que um governo propriamente dito. A pressa em vender o patrimônio e a forma como o Brasil vem se humilhando na arena internacional se assemelham a um governo de ocupação por uma razão simples: o Brasil foi e é alvo de uma guerra híbrida.

Mas, o que é guerra híbrida? O que é revolução colorida? Como esses conceitos e fenômenos podem ajudar a entender o que se passou no Brasil? Como isso pode ajudar a compreender nossa conjuntura atual?

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No artigo Entre semelhanças e variações, mostrei que os eventos que ocorreram no Brasil guardam mais do que semelhanças com fatos ocorridos em outros países, eles são variações de um mesmo tema: revoluções coloridas. Para poder analisar a revolução colorida ocorrida no Brasil, precisamos definir “revolução colorida” e, para isso, precisamos definir “guerra híbrida”.

Guerra híbrida

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Segundo a doutrina militar, as guerras modernas passaram por três gerações: a primeira, da metade do século 17 até início do século 19; a segunda, da metade do século 19 até a Segunda Guerra Mundial; a terceira, a partir da Segunda Guerra Mundial.

Não há consenso sobre a nomenclatura “guerra de quarta geração”, contudo, atualmente as doutrinas militares trabalham com a possibilidade de quatro tipos diferentes de guerra: a convencional, a de destruição em massa, a irregular e a assimétrica. Diante do risco de que um conflito evolua para uma guerra nuclear, os conflitos tenderam a tomar formas não convencionais de guerra.

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Seja como for, as guerras contemporâneas usam meios não militares para atingir seus objetivos e um dos principais meios empregados são as operações psicológicas porque, neste tipo de combate, o objetivo é destruir o moral do adversário. Por isso, todas as outras táticas – guerra de informação, guerra cibernética e até mesmo as de combate aberto – se subordinam à guerra psicológica.

A importância da guerra psicológica se deve ao fato de que ela interfere no que os militares chamam de “ciclo OODA” (observação-orientação-decisão-ação). Essa interferência no ciclo OODA compromete a capacidade de tomar decisões e/ou de discernir qual deve ser a ação adotada para se defender.

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A guerra híbrida é a própria materialização da doutrina de guerra de quarta geração. A guerra híbrida tem dois pilares. Um é a guerra não convencional, travada por forçar não regularas, milícias, mercenários ou tropas extraoficiais. Ela é o pilar militar da guerra de quarta geração e visa promover a troca de regime por meio de um golpe rígido. Geralmente, as guerras não convencionais irrompem em um cenário já desestabilizado por uma revolução colorida, o pilar civil da guerra híbrida.

Revolução colorida e o Brasil após 2013

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Revolução colorida é uma mudança de regime ou golpe de Estado levado a termo por um conjunto de métodos não violentos de ação política. Elas ocorreram (ocorrem) em Estados cujos governos, por algum motivo, não agradavam (agradam) as grandes potências.

O termo passou a ser usado para agrupar uma série de ‘revoluções’ ocorridas, inicialmente, na Europa Oriental e no Cáucaso, mais precisamente em países que durante a Guerra Fria viviam sob regimes socialistas. Os primeiros dos eventos classificados como revolução colorida ocorreram justamente nos estertores da Guerra Fria, na Alemanha Oriental (sem nome) e na Tchecoslováquia (Revolução Veludo), ambas em 1989. Porém, as revoluções mais conhecidas – Rosa (Geórgia, 2003), Laranja (Ucrânia, 2004/2005) e Tulipa (Quirquistão, 2005) – estouraram quando esses países já não eram mais socialistas, embora tivessem governos aliados do Kremlin. Hoje, há registros de revoluções coloridas – ocorridas ou em andamento – em todos os continentes: de Hong-Kong a Nicarágua; do Brasil a Líbia; da Sérvia ao Zimbábue. Toda a crise que seguiu à chamada ‘Primavera Árabe’ foi consequência de revoluções coloridas, sendo que a única que recebeu nome, como as que ocorreram no antigo bloco socialista, foi a Revolução Jasmim, ocorrida na Tunísia em 2010, e estopim para a crise que varreu, e assola ainda hoje, todo o Oriente Médio.

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As revoluções coloridas possuem três características comuns: processos, objetivos e envolvimento de atores estrangeiros. Os atores estrangeiros envolvidos são óbvios: Estados Unidos, principalmente, e alguns aliados europeus em menor grau. Os objetivos possuem duas dimensões, uma interna e outra externa. Internamente, as revoluções coloridas visam à implementação de medidas neoliberais. A dimensão externa tem como meta a submissão do país na política internacional e a reformulação da sua inserção na economia política internacional.

O processo de uma revolução colorida consiste na aplicação de uma série de métodos não violentos de ação política. Sobre isso, o mais importante é que elas parecem movimentos espontâneos, apartidários e sem ideologia. Mas isso não passa de aparência, isso é só a superfície. Em essência, trata-se de processos levados adiante por militantes profissionais muito bem treinados em oratória, mídia e propaganda e em formação e organização de grupos e protestos. Todas as suas lideranças estão vinculadas a algum partido ou think tank de direita.

Entender como se deu essa operação de guerra para a conquista e submissão do Brasil é uma tarefa de primeira ordem e esse entendimento passa pela compreensão da revolução colorida realizada aqui.

Nosso pesadelo teve início com as manifestações de junho de 2013. Todos nos lembramos de como aquelas manifestações foram apresentadas como algo ‘espontâneo’, ‘sem partido’, ‘sem bandeiras’ e ‘sem ideologia’. Foi a partir daquele momento que a extrema-direita tomou o lugar da esquerda como principal segmento a ocupar as ruas em manifestações. Embora tenham começado com pautas de esquerda, foram elas que pavimentaram o caminho para a eleição do parlamento golpista de 2014. Os governos Temer e Bolsonaro são filhos legítimos daquele processo. Temer foi e Bolsonaro é o encarregado de negócios e governador-geral da colônia para agir em nome da metrópole. Ou seja, o Brasil está sob ataque, o Brasil foi e é vítima de uma guerra híbrida.

* Esse artigo é uma adaptação do artigo “Revoluções coloridas e o golpe no Brasil em 2016” publicado na Revista Terra Livre, publicação da Associação Brasileira de Geógrafos, e está disponível aqui.

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