Brasil terá supersafra de grãos, mas armazenagem é problema
Produção recorde expõe falha histórica do Brasil em armazenar e distribuir grãos
Há coisas que não dá para entender. Eu até tento, mas não consigo, apesar das versões e explicações que procuram esclarecer determinados assuntos.
Senão, vejamos.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por intermédio de seu presidente, Edgar Pretto, anunciou nesta quinta-feira (14) que a previsão da safra de soja, milho e arroz deste ano será de 345 milhões de toneladas, a maior produção brasileira de grãos da história.
Uma boa notícia, pois mostra a pujança do agronegócio brasileiro, um dos principais produtores e exportadores de alimentos do mundo. Somos, por exemplo, o maior produtor global de soja e o terceiro maior produtor de milho, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
Só que há um “pequeno” problema: o país só tem condições de armazenar cerca de 60% dessa produção, pois faltam armazéns em número suficiente para a estocagem de toda essa safra.
Caso não se criem alternativas de logística (principalmente de distribuição) para escoar os 40% restantes, haverá uma grande perda de alimentos que poderiam, por exemplo, aplacar a fome de milhões de pessoas.
O que não dá para entender, no caso, é: como os produtores, sabendo que a questão do armazenamento de grãos no país é um problema crônico, que existe há décadas, não se planejaram para evitar que parte da produção fique ao relento, correndo o risco de estragar?
E não adianta culpar o governo pela falta de silos de armazenamento de grãos. O setor do agronegócio também tem que fazer a sua parte. Apenas 16% dos produtores têm galpões de armazenamento em suas propriedades.
O presidente da Conab reconhece que a capacidade de armazenamento público e privado está abaixo do que é a nossa safra, mas ressalta que “a gente precisa, sim, investir mais, mas o setor privado tem que investir mais ainda, fazer um bom gerenciamento para ter a capacidade estática de armazenamento do tamanho da necessidade".
Essa questão da falta de armazenamento explicita e nos remete a outro assunto: o mundo produz alimentos suficientes para alimentar toda a humanidade, mas as populações que têm fome ou insegurança alimentar não têm acesso à comida por culpa, por exemplo, da logística de distribuição.
E aí se inclui o armazenamento da produção.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

