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Luis Cosme Pinto

Luis Cosme Pinto é carioca de Vila Isabel e vive em São Paulo. Tem 61 anos de idade e 35 de jornalismo. As crônicas que assina nascem em botecos e esquinas onde perambula em busca de histórias do dia a dia.

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Cadê o dinheiro que estava aqui?

Pix (Foto: © Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
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A comida por quilo, que nunca dá valor redondo. A despesa no mercado, que costuma terminar em centavos, a impressão na papelaria, em geral barata. Compras que a gente paga e recebe o troco. Seu Augusto é desses.

- Dinheiro trocado é bom e eu gosto.

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Filho de português, repete a frase muitas vezes no balcão da padaria que herdou. Lá, quem traz cem reais em moedas para trocar ganha uma torta de morango.

Sempre namorei o doce de cobertura vermelha. Em volta, o branco cremoso em ondas salpicadas de castanhas. Sobrava colesterol, faltava moeda.

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Impecável, a torta segue a enfeitar a vitrine giratória, mas encalhou semana passada. Por que será, seu Augusto?

- A freguesia insistiu com o PIX e eu passei a aceitar. Então, preciso menos de troco.

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Não é pouca mudança, onde vai parar o prazer em organizar a gaveta do caixa? Cada nota em uma divisão. Quando a bolada era alta, o então jovem Augusto contava, separava em maços presos com elástico e escondia sob a própria gaveta.

O dinheiro vivo ou seus apelidos - gaita, capilé, arame, dindin - mandava. No dia certo, tinha fila na tesouraria. A grana do mês vinha num envelope. O trabalhador conferia, assinava o recibo e botava o caraminguá no bolso. Demorou para o salário ser pago no banco.

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E banco tinha um símbolo: o cheque. A gente preenchia todos os espaços com letra legível e anotava telefone e RG no verso daquela valiosa folha de papel.

O país tropical também era a terra do pré-datado. Assim se pagava o plano de seis meses da academia ou as quatro prestações do tratamento dentário.

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A inflação esculhambava a economia quando cartões de débito e crédito surgiram prometendo mundos e fundos. Conquistaram milhões de clientes e ganharam o apelido de dinheiro de plástico.

Chegou a vez do pix. Até quem não tinha conta em banco pôde entrar no sistema e todos passaram a usar menos dinheiro vivo. Na pastelaria da Meire, na banca de meias do Donizete, na barraca de chicória e escarola da família Wokada, é o PIX que fecha o caixa.

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João é malabarista nos baixos do Minhocão e também pede a colaboração dos motoristas por PIX. O número está num pedaço de papelão pendurado no pescoço.

Uma incalculável multidão de brasileiros dorme com a barriga vazia, mora na rua e depende de esmolas dos menos pobres para sobreviver. São pedintes, que, assombrados, comprovam o sumiço do dinheiro. Se antes pingava miúdo, agora secou.

Se falta aqui, sobra ali. Suspeitos burgueses enchem malas com real e dólar. Guardam a fortuna em apartamentos alugados equipados com cofres camuflados. Têm ainda a mania de rechear as cuecas com a dinheirama imunda. E há os que compram tudo em grana viva e bem lavada: iate, mansão, terrenos. PIX, só pra miudeza.

Freguês do PIX, fui ao caixa eletrônico. Na minha frente, a mulher sacou 400 reais. 4 notas de 50 e uma de 200. Pedi pra ver. Não conhecia. Nem a nota nem o lobo guará. Simpatizei com ambos.

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