Heraldo Campos avatar

Heraldo Campos

Graduado em geologia (1976) pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas (UNESP), mestre em Geologia Geral e de Aplicação (1987) e doutor em Ciências (1993) pela USP. Pós-doutor (2000) pela Universidad Politécnica de Cataluña - UPC e pós-doutorado (2010) pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP)

124 artigos

HOME > blog

Canalha

Recentemente o Senado Federal aprovou projeto de lei para a flexibilização do licenciamento ambiental

Foto feita em 25/01/2020 de fragmento de isopor, na faixa de areia da Praia do Perequê Açu (Ubatuba, Litoral Norte do Estado de São Paulo), que pode levar centenas de anos para se degradar no ambiente marinho (Foto: Heraldo Campos)

Em 1979, em plena ditadura militar, Walter Franco cantou a sua música “Canalha” no Festival da Tupy com os seguintes versos: “É uma dor canalha / Que te dilacera / É um grito que se espalha / Também pudera // Não tarda, nem falha / Apenas te espera / Num campo de batalha / É um grito que se espalha / É uma dor canalha”.

Foi um delírio para quem estava na plateia e para quem viu ao vivo pela TV. A provocação estava lançada. Hoje vivemos numa democracia, mas os “filhotes da ditadura”, como dizia Leonel Brizola, continuam espalhados por aí e atuam como verdadeiros canalhas em vários setores da sociedade brasileira.

Recentemente o Senado Federal aprovou projeto de lei para a flexibilização do licenciamento ambiental. “Em nota, o Ministério do Meio Ambiente afirmou que o projeto de lei representa a desestruturação significativa do regramento existente sobre licenciamento e representa risco à segurança ambiental e social no país. Para o Ministério, o projeto afronta a Constituição e viola o princípio da proibição do retrocesso ambiental, que vem sendo consolidado na jurisprudência brasileira.” [1]

Sem dúvida, esse projeto de lei é mais um passo lamentável dos nossos parlamentares que vem se juntar “(...) a boiada nas águas, os picaretas e a privatização das praias (…) detonando, ainda mais, pela ganância exacerbada, o ambiente em que vivemos.” [2]

Pode ser repetitivo, mas qual seria uma das saídas, além da pressão popular sobre os políticos que pensam somente nos seus próprios umbigos e interesses escusos? Parece que está passando da hora de se pensar, mais uma vez, a médio prazo, numa reforma política “(...) com cláusula de barreira para os partidos, mandato de cinco anos, sem reeleição, em uma eleição geral para todos os cargos eletivos (…)” [3].

E a curto prazo, o que podemos fazer? Tudo indica que o melhor caminho é aquela velha ladainha de sempre, ou seja, “(...) é votando certo nas eleições, nas forças progressistas e democráticas, tanto numa escala local como em outra maior (...)” [4] porque, daqui a pouco mais de um ano, teremos novas eleições para governadores, deputados estaduais e federais, senadores e presidente da república.

“Para viver, você deve respeitar o mundo, as árvores, as plantas, os animais, os rios e até a própria terra. Porque todas essas coisas têm espíritos, todas elas são espíritos, e sem os espíritos a Terra morrerá, a chuva irá parar e as plantas alimentares murcharão e morrerão também.” - Cacique Raoni.

Fontes [1] “Senado aprova flexibilização do licenciamento ambiental” - reportagem de Gésio Passos da Rádio Nacional de 22/05/2025. https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/politica/audio/2025-05/senado-aprova-flexibilizacao-do-licenciamento-ambiental [2] “Boiada, picaretas e privatização” - crônica de Heraldo Campos de 24/05/2025. https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2025/05/boiada-picaretas-e-privatizacao.html [3] “Bye, Bye, Blue Caps, Green Caps and White Caps” - crônica de Heraldo Campos de 01/07/2020. https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2020/07/bye-bye-blue-caps-green-caps-and-white.html [4] “Bozosaurus rex” – crônica de Heraldo Campos de 03/06/2025. https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2025/06/bozosaurus-rex.html

*Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados